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Fui completamente enganado

Pedro Martins, treinador de futebol, foi detido em Cádis, a 30 de Maio, por suspeita de falsificação de documentos, quando abria uma conta bancária conjunta com uma mulher de 48 anos e um cidadão brasileiro, de 55 anos. Saiu em liberdade no dia 6, depois de pagar uma caução de 30 mil euros.

22 de julho de 2006 às 00:00

Correio da Manhã – Como é que se envolveu numa história destas e acabou detido durante mais de um mês?

Pedro Martins – Foi tudo na base da confiança. Fui abordado por uma senhora de Santa Maria da Feira que disse conhecer gente importante do Brasil que queria investir em Portugal na área do desporto. Como é uma área que conheço e onde trabalho, fiquei empolgado e sugeri investir num instituto de alto rendimento ligado ao desporto.

– Já conhecia essa senhora?

– Conhecia, mas já não falávamos há muito tempo. Um dia encontrámo-nos e começámos a conversar sobre negócios e as ideias acabaram por surgir.

– Qual seria o seu papel?

– Eu seria um mero intermediário, com uma pequena participação.

– Por que é que foram a Jerez de la Frontera abrir uma conta?

– No final de Maio essa senhora disse-me que estava na hora de investir e que, no dia 28, chegava a Portugal um brasileiro, gestor de um importante grupo financeiro, interessado em aplicar o dinheiro. Eu teria de ir buscá-lo ao aeroporto para seguirmos para Jerez.

– Mas porque foram a Espanha?

– Segundo ela, o sujeito brasileiro tinha lá as contas e as coisas teriam de ser tratadas a partir de lá. Por isso, quando lá chegamos pediram-me para abrir uma conta conjunta, com eles, onde seriam depositados dois cheques de quantias avultadas, cujo valor não posso divulgar por se encontrar em segredo de justiça. Essa conta seria para podermos movimentar o dinheiro necessário ao investimento, foi isso que me explicaram e eu acreditei.

– Foram presos então porquê?

– No fundo ainda hoje não sei em concreto. Parecia estar tudo bem e acertado com o director do banco, que nos pediu para que aguardássemos uma hora. Agora há coisas que não sei. Nem a origem dos cheques nem dos negócios que o senhor brasileiro, ou os dois teriam. Tudo o que sei é que passado esse tempo chegou a Polícia e fomos presos.

– E a conta chegou a ser aberta?

– Não. E ainda bem, porque caso contrário não sei quais a consequências que isso teria para mim. A Polícia apreendeu-me o computador e viu todos os e-mails que troquei com esse instituto de alto rendimento. Além disso pus-me logo à disposição da Justiça espanhola, porque não tinha nada a esconder.

– Mas é acusado de falsificação de documentos?

– Ainda não sei qual é a acusação. Mas sei que já provei que não estou envolvido em nenhuma falsificação.

– Depois disso voltou a falar com essas duas pessoas?

– Não. Nem quero porque eu fui usado. Sou uma vítima e vou provar a minha inocência. Tenho plena confiança na Justiça espanhola.

– Esteve preso 35 dias. Como é que viveu esse tempo?

– Impotente. É isso que se sente quando estamos presos e não sabemos o que se passa cá fora. Primeiro arranjaram-me uma defensora oficiosa que falou comigo pouco mais de um minuto e eu quase sem me poder defender. Só depois é que me foi indicado um advogado espanhol que tem feito um trabalho excelente.

– Sentiu-se alguma vez desamparado?

– Não. A minha mulher e o meu irmão Hernâni fizeram milhares de quilómetros durante este tempo e foram inexcedíveis em tudo. Posso mesmo dizer que provavelmente, sem todo o trabalho de recolha de informação que a minha mulher fez, provavelmente, hoje não estaria cá. Mas todos os meus familiares e os meus filhos foram excepcionais no apoio que me deram.

– E os amigos, viram-se?

– Foram muito importantes. Recebi inúmeras chamadas de jogadores e ex-jogadores que me deram muito apoio. O presidente do Feirense e também a Direcção do FC Porto, nas pessoas do sr. Pinto da Costa e Antero Henrique disponibilizaram-se logo para me ajudar, bem como o José Couceiro, o Pedro Barbosa e o Paulo Alves.

'QUERO SER TREINADOR PRINCIPAL'

– Depois de ter passado pela experiência de estar preso, como é que encara o futuro?

– Apesar de tudo o que se passou sinto-me forte e só quero apagar este triste episódio na minha vida. E voltar a fazer aquilo que mais gosto, ou seja, treinar uma equipa de futebol.

– Com José Couceiro dado como mais que certo no comando da selecção nacional de sub-21, a minha ideia é entrar numa nova etapa profissional, agora como treinador principal.

– E já está a trabalhar nisso?

– Neste momento estou a formar uma equipa técnica, e à espera que o telefone toque. Não tenho preferências por clube, mas gostaria de abraçar um projecto aliciante, que me permita desenvolver um trabalho assente em bases sólidas.

– Mas tem ideia de treinar uma equipa de que escalão do futebol?

– Tanto pode ser um clube da primeira como da liga de honra, como da II divisão, porque eu sei do que sou capaz, basta ter condições para trabalhar.

Pedro Rui Mota Vieira Martins, 36 anos, treinador de futebol, é natural e residente em Santa Maria da Feira, casado e pai de dois filhos.

Começou o seu percurso como jogador no CD Feirense, passando depois pelo Vitória de Guimarães, pelo Sporting Clube de Portugal, clube em que mais se distinguiu, e ainda pelo Boavista FC e o Alverca FC, no final da sua carreira.

Como treinador, Pedro Martins estreou-se como adjunto de José Couceiro no Vitória de Setúbal, acompanhando-o depois no Futebol Clube do Porto e no Belenenses.

Actualmente está sem trabalho, mas a preparar uma equipa técnica para avançar como treinador principal.

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