A lenta agonia daquele que Pelé um dia considerou “o melhor jogador do Mundo” terminou. George Best, estrela de primeira grandeza da história do futebol, faleceu ontem, ao início da tarde, no Hospital de Cromwell, em Londres, onde se encontrava internado desde os primeiros dias de Outubro, devido a uma infecção pulmonar.
Apesar da iminência da sua morte (os jornais ingleses anteciparam-na nas edições matinais, com manchetes e extensos artigos), o desaparecimento de Best chocou todo o Reino Unido e a comunidade internacional do futebol. Simplesmente porque se tratava de um dos maiores jogadores de todos os tempos e também porque cultivava um estilo de vida marcado pela irreverência e pelo permanente confronto com as regras socialmente instituídas.
Na quinta-feira, um médico do Hospital Cromwell já tinha prevenido para a precaridade do estado de saúde do ex-jogador, depois de várias recaídas nas últimas semanas. “Um verdadeiro lutador”, assim o definiram os clínicos, momentos após a confirmação do óbito, aos 59 anos. Em 2002, Best tinha sido submetido a um transplante do fígado, devido a alcoolismo crónico.
O antigo jogador do Manchester United e da selecção da Irlanda do Norte acabou pois por ser vítima da forma de vida que decidiu adoptar. Como jogador foi genial, dos maiores. 1968 foi o seu ano de glória suprema, quando conquistou uma Taça dos Campeões e ganhou a Bola de Ouro. Por essa altura já tinha por conta três pessoas só para despacho às dez mil cartas que recebia semanalmente, quase todas de fãs femininas, para as quais era um ícone. Na sua autobiografia, o ‘5.º Beatle’ (ele próprio se definiu assim) desmentiu um célebre rumor da época, segundo o qual tinha dormido com sete misses Mundo. “Foram só quatro” explicou. As mulheres e o álcool projectaram-no então para um estilo de vida que, de todo, não era compatível com o futebol. Entrou em conflito com o Manchester, saiu e foi jogar para pequenos clubes. Mas nunca abdicou de viver cada dia como se fosse o último. Um dia, Best sintetizou exemplarmente a sua vida: “Na América vivia numa casa perto da praia. No caminho para lá, havia um bar, por isso nunca chegava à água.”
George Best nasceu no dia 22 de Maio de 1946, na Irlanda do Norte. Representou o Manchester United, Stockport County, Cork Celtics, Dunstable Town, Los Angeles Aztecs, Fulham, Fort Lauderdale Strickers, Hibernian, San Jose Earthquakes, Bournemouth, Brisbane Lions.
Pelo Manchester United, a equipa onde ganhou fama, fez 349 jogos e marcou 134 golos, seis dos quais num jogo apenas, o que ainda hoje é recorde do clube. Títulos: Campeão de Inglaterra (1966 e 1967, com o Machester United). Campeão Europeu (1968).
Ganhou a Bola de Ouro em 1968. Foi 37 vezes internacional pela selecção da Irlanda do Norte, tendo marcado 9 golos. 25 anos depois após ter atingido o topo da sua carreira, foi eleito por um painel de mil jornalistas ingleses o melhor desportista britânico de sempre.
SIMÕES E A VOCAÇÃO DO GÉNIO
As trajectórias desportivas de António Simões e de Best projectaram--se de forma paralela nos anos 60. Duas vezes cruzaram-se, em duelos históricos, ambos favoráveis ao Manchester United. E mais tarde, quando Simões foi treinador de Best, no San José Earthquakes, dos Estados Unidos. “Ele foi um rei do futebol”, evoca o antigo jogador do Benfica.
“Um génio como dificilmente voltaremos a ver igual. Era um típico número 7 com magia dentro. A memória que mais tenho presente dele, era o prazer e a diversão que sentia a jogar futebol. Porque para ele o futebol era tão só isso, pura diversão. Best seguiu sempre a sua vocação, de jogador genial, sem deixar, por um momento que fosse, de fazer o que realmente lhe apetecia fazer. Sabia que a sua vida fora dos campos não era compatível com as exigências de um futebolista, mas era tão imensamente genial, que nada o impedia de fazer o que mais gostava, assegurando sempre a genialidade.”
Dos tempos juntos nos ‘States’, Simões recorda um jogador “que muitas vezes se atirava para o chão a rir, nos treinos. Eu dizia-lhe: ‘George, vamos lá fazer isto mais a sério’. Ele respondia: ‘mister, deixe-me divertir-me’. Para Best, o treino nunca foi uma coisa tão séria como deveria ser. Tal como a vida.”
CLÃ BEST UNIDO
O anúncio da morte de George Best foi feito pelo seu filho, Callum (na imagem ao lado do avô), que agradeceu as milhares de mensagens recebidas no hospital nas últimas semanas. O corpo do ex-jogador será agora transladado para Belfast, onde será sepultado ao lado da campa da mãe, no cemitério de Roselawn.
MOURINHO ELOGIA
José Mourinho lamentou ontem a morte de George Best. “Nunca o vi jogar, mas o meu pai não se cansava de falar dele. Mais tarde vi alguns vídeos e descobri porquê. Jogadores como George Best nunca morrem, porque o que deixam para trás, quando partem, jamais desaparece”, referiu o técnico do Chelsea.
EUSÉBIO E O AMIGO
Para Eusébio, a morte de Best “representa uma perda para o futebol mundial”. Mas acima de tudo, foi o desaparecimento de “um grande amigo”. O ‘Pantera Negra’ foi apenas mais um a chorar o falecimento de Best, tal como o fizeram Dennis Law ou Bobby Charlton, figuras de relevo da equipa de sonho do Manchester de 1968.
HOMENAGENS
A Liga inglesa decretou um minuto de silêncio a ser respeitado em todos os jogos das competições por si organizadas. Também o Manchester United consagrou a abertura do seu ‘site’ oficial àquele que foi uma das suas maiores figuras. Pouco após o anúncio do óbito, centenas de pessoas começaram a afluir ao Hispital Cromwell.
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