Português diz que vai "fazer todos os possíveis para segurar a camisola rosa", que veste desde a terceira etapa, num 'Giro' em que se tornou líder improvável.
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O português João Almeida (Deceuninck-QuickStep) tem levado o país na roda de um 'sonho', com 13 dias como líder da Volta a Itália em bicicleta, com o perfil tranquilo a 'cobrir' a juventude que surpreendeu o pelotão.
Até domingo, e independentemente do que possa conseguir, João Almeida vai "fazer todos os possíveis para segurar a camisola rosa", que veste desde a terceira etapa, num 'Giro' em que se tornou líder improvável.
Após o segundo lugar no contrarrelógio inaugural, percebeu-se que poderia vestir a 'maglia rosa' mais à frente, mas ninguém esperaria que chegasse ao segundo dia de descanso, que se cumpre hoje, na frente.
A preocupar o pelotão, o primeiro na geral da 'corsa rosa' apresenta um perfil tranquilo, na estrada e nas entrevistas com jornalistas, que encobre a juventude, uma vez que chegou ao topo com 22 anos, em ano de estreia tanto no WorldTour como em grandes Voltas.
Na sua roda leva um país que não tinha um feito tão marcante, na estrada, desde o Mundial de fundo vencido por Rui Costa, em 2013, e não tinha um líder das 'grandes' desde nomes como Joaquim Agostinho ou Acácio da Silva.
Natural de A-dos-Francos, nas Caldas da Rainha, Almeida já tinha ganhado a afeição da sua terra, que se 'vestiu' de rosa por estes dias, de um concelho cujo principal clube, o Caldas, decidiu dar uma braçadeira rosa ao seu capitão no futebol, no terceiro escalão.
Nos últimos dias, multiplicam-se pelo país as capas de jornais, reportagens e entrevistas em torno do fenómeno, que começa também a recolher mais e mais atenção mediática no estrangeiro.
Trinta e um anos depois de Acácio da Silva, que o tinha feito também no Monte Etna em 1989, Almeida vestiu a camisola rosa, mítica, na terceira etapa, e acabaria por bater o recorde de longevidade do antigo ciclista, vencedor de cinco etapas na 'corsa rosa', mas também de Joaquim Agostinho, tornando-se o luso com mais tempo como líder de uma das grandes Voltas.
Acácio da Silva regozijou-se com o feito e, à Lusa, até disse que o 31 é o seu número favorito, augurando um grande futuro a um ciclista que tem sido esse '31' para os restantes favoritos, que esperariam que Almeida tivesse já cedido a 'maglia rosa'.
Durante grande parte destes 13 dias de liderança, a grande questão, entre pelotão, jornalistas e adeptos, era só uma: será que é hoje que João Almeida perde a rosa? E em todos eles o português disse "não".
Fê-lo mesmo quando perdeu tempo em Roccaraso, no dia de glória do compatriota Ruben Guerreiro (Education First), além da prova de resiliência no domingo, com oito quilómetros em 'cronoescalada' atrás do holandês Wilco Kelderman (Sunweb), agora a 15 segundos na geral, de língua de fora e a correr a topo.
Todos os outros, de resto, estão a 2.56 minutos ou mais de distância do português.
A consistência do caldense, de resto, tem-lhe permitido ganhar tempo em contrarrelógios, mas também em 'sprints' em que soma bonificações de tempo, ao não quebrar onde outros têm 'azares' ou fraquezas: a prova é que nunca acabou uma etapa abaixo do 25.º lugar, entrou no pódio quatro vezes e colocou-se no 'top 10' sete vezes nas duas semanas do 'Giro'.
A equipa está com ele, e quase todos os dias a elogia como sendo "perfeita", ciente do papel que tem perante uma formação que abdica de fugas e outros desígnios para proteger o 'maglia rosa'.
Esse elogio aos colegas de formação, na qual ao ingressar cumpriu um "sonho" que sempre teve e nunca se cansou de afirmar, permeia a sua atitude: de "humildade e tranquilidade", apontam os que o conhecem, como o treinador que o orientou em cadetes e parte da sua formação de juniores.
Célio Apolinário, que o orientou, primeiro, no Clube José Maria Nicolau e depois no Bombarralense, levando-o a vários títulos nacionais e outros resultados de destaque na formação, lembra mesmo essa tranquilidade que sempre mostrou.
"O João sempre foi assim, mesmo que a coisa corresse menos bem, não se passava nada. Sempre tranquilo, uma joia de miúdo, sempre lutador, nunca por nunca o João teve uma má ação para comigo ou os colegas. Sempre um miúdo tranquilo, e é o que se vê hoje", conta.
Na Volta ao Algarve deste ano, que acabou no nono lugar final, e serviu como 'super domestique' à vitória do belga Remco Evenepoel, Almeida já dizia à Lusa que correr na equipa belga "é logo meio caminho andado" e um sinal de que começa "uma carreira com o pé direito".
"Na minha opinião, não há melhor sítio para se estar", sustentou o jovem, que agora, oito meses volvidos, passou de debutante a chefe de fila por uma formação que, em 2019, conseguiu 68 vitórias.
Habituada a discutir as clássicas, a Deceuninck-QuickStep trocou os ataques em busca de vitórias em etapas pela defesa da 'maglia rosa', que a cada dia parece mais natural no corpo do caldense.
Tão natural que tanto equipa como ciclista se têm divertido com a camisola fora da estrada, quer em fotos do jovem a dormir com ela, quer de almofadas equipadas 'à líder', para não falar da 'procissão' de peluches que, a cada dia, são entregues pela organização aos homens que sobem ao pódio, com uma coincidência: representam a figura de um lobo.
Hoje, o jovem 'lobo', a alcunha de 'wolfpack' ('alcateia') é dada aos ciclistas da Deceuninck-QuickStep, descansa com a rosa no corpo, a caminho de etapas finais recheadas de alta montanha e de uma duração de corrida que nunca experienciou, com um país de olho em Itália e a certeza de já ter feito história.
Não só é o português há mais tempo na liderança, como nenhum sub-23 alguma vez liderou tantos dias seguidos o 'Giro', batendo por vários dias os anteriores recordistas, o italiano Damiano Cunego e até... a 'lenda' belga Eddy Merckx.
SIF (AMG) // PFO
Lusa/Fim
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