Leia o que disse Mustafá, cabecilha da Juve Leo, em tribunal
Nuno Mendes fala dos bilhetes que a claque recebe e da sua condição socioeconómica.
Nuno Mendes, conhecido como Mustafá, falou ao Juiz no Tribunal do Barreiro. A CMTV divulga o que o cabecilha da Juve Leo disse:
Juiz:
Nuno Mendes: Sim, sim.
Juiz: A sua relação socioeconómica é do que é que o senhor vive, com quem é que vive, como é que vive…
Nuno Mendes: Vivo com a minha filha…
Juiz: Para já, deixe-me só fazer umas perguntas. O senhor mora na Aroeira?
Nuno Mendes: Na Aroeira.
Juiz: Paga renda de casa?
Nuno Mendes: 600 euros.
Juiz: Disse-me que era…
Nuno Mendes: Dirigente associativo.
Juiz: Dirigente associativo. Quanto é que o senhor ganha por mês?
Nuno Mendes: Tiramos vá…
Juiz: Quanto é que o senhor ganha?
Nuno Mendes: Eu. Dois mil.
Juiz: Limpos?
Nuno Mendes: Sim.
Juiz: Quem é que lhe paga?
Nuno Mendes: A Associação Juventude Leonina. Só recebo pela Juventude Leonina. Como a minha mulher também. Temos os descontos e tudo, como associação e tudo. Quer dizer que a minha mulher é empregada da Juventude Leonina. E eu recebo daí.
Juiz: A sua mulher o que é que faz?
Nuno Mendes: A minha mulher…
Juiz: Vive com ela?
Nuno Mendes: Sim, eu vivo com a minha mulher. A minha mulher gere o bar. É a responsável do bar e é a responsável pelos bilhetes e pelo merchandising [material]da claque.
---
Juiz: E quanto é que ganha a sua mulher? Você ganha dois mil a sua mulher ganha…
Nuno Mendes: A minha mulher tira os 800 euros. Os 800 de ordenado. E depois, para ser sincero consigo, depois tem o bar… conforme der o bar e tudo… ‘prontos’… pode tirar mais algum dali.
Juiz: Perguntei-lhe há bocadinho se estes dois mil são líquidos ou ilíquidos.
Nuno Mendes: São líquidos, são.
Juiz: São líquidos. Então não ganha dois mil, ganha mais.
Nuno Mendes: Não, eu ganho… Esses dois mil são líquidos e depois durante, para ser sincero consigo…
Juiz: São líquidos? É isso que você leva para casa? São os dois mil?
Nuno Mendes: Sim, sim. Por mês.
Juiz: Então não é esse o seu ordenado. O seu ordenado tem de ser mais. Com os descontos e tudo…
Nuno Mendes: Sim, ‘prontos’… mas…
Juiz: Se você com os descontos recebe dois mil é porque o seu vencimento é ‘prai’ três mil, não?
Nuno Mendes: Sim, sim
Juiz: Mais ou menos.
Nuno Mendes: Vai dar. Com a situação do bar com o dinheiro do bar, do material… pagando…
Juiz: Então você fica com o lucro do bar? Não paga renda? Não paga nada?
Nuno Mendes: Da renda ali não. A renda… à Associação Juventude Leonina não paga renda ali, não pagamos renda ali.
--
Juiz: Se ganha em média 120 euros por barril…
Nuno Mendes: Sim.
Juiz: Se venderem 30 barris… 3600 euros, numa semana.
Nuno Mendes: Com a questão do material…
Juiz: Olhe, e de bilhetes? Não ganha nada?
Nuno Mendes: Sim, sim. Nós temos um protocolo desde… Soares Franco, Bettencourt, Godinho e continua…
Juiz: Vocês ganham…
Nuno Mendes: Temos um protocolo de 400 bilhetes de borla. Bilhetes de borla que temos direito. É esses bilhetes, 400.
Juiz: São esses bilhetes que vocês vendem.
Nuno Mendes: 480 bilhetes. E depois compramos os outros bilhetes a um preço que o Sporting nos faz.
Juiz: Há 480 bilhetes que são de borla e depois têm…
Nuno Mendes: Esses são do protocolo das claques.
Juiz: E depois têm mais descontos noutros bilhetes.
Nuno Mendes: Depois temos desconto nos outros bilhetes todos.
Juiz: Portanto, no mínimo de 15 em 15 dias vocês têm 480 bilhetes mais desconto nos outros bilhetes.
Nuno Mendes: Exatamente.
Juiz: E quantos bilhetes é que vocês vendem normalmente?
Nuno Mendes: Se for Sporting-Benfica podemos vender mil bilhetes.
Juiz: Vendem mil bilhetes.
Nuno Mendes: Mil bilhetes.
---
Nuno Mendes: Por exemplo, 480 bilhetes, não é?
Juiz: Sim.
Nuno Mendes: Nesses 480 bilhetes, se eu tiver marcações para esses 480 bilhetes, tenho de ir buscar dos outros. Por exemplo, nós vendemos a 15 euros e sai-nos a 11 euros.
Juiz: Sim.
Nuno Mendes: Pronto, se há jogos que eu só consigo vender 250 bilhetes, fico agarrado àqueles cento e tal que são do protocolo. Não tenho de pagar nada e vão para trás.
Juiz: Não tem de pagar nada. Era isso que eu estava a dizer. Fica agarrado mas não tem de pagar nada. São os que lhe dão.
Nuno Mendes: Sim, sim.
Juiz: Então é um negócio que nunca dá prejuízo.
Nuno Mendes: Não, dá… dá…
Juiz: Prejuízo não dá.
Nuno Mendes: Dá prejuízo, por exemplo, se for uma tocha para a relva são doze mil euros que desconta do protocolo.
Juiz: Uma quê? Que eu não percebi…
Nuno Mendes: Uma tocha para a relva desconta doze mil euros.
Juiz: Doze mil.
Nuno Mendes: Doze mil euros. Se for uma tocha para a relva desconta do nosso protocolo.
Juiz: Pois.
Nuno Mendes: Abrir um petardo na bancada, desconta do nosso protocolo, desconta do protocolo da claque.
--
Juiz: Disse-me também que tem uma filha.
Nuno Mendes: Sim, sim.
Juiz: Que idade é que tem a sua filha?
Nuno Mendes: Tem oito. E tenho um filho de seis. Mas não vivo com ele, vive com a mãe.
Juiz: Paga alguma coisa para os seus filhos?
Nuno Mendes: Pago. Pago o colégio deles. 300 euros a cada um. Um colégio particular.
Juiz: A cada um?
Nuno Mendes: Sim. Pago o colégio deles a 300 euros por mês.
--
Juiz: Que mais despesas é que tem? Fixas. Paga uma prestação de alguma coisa? Carro, Mota…
Nuno Mendes: Estou a pagar o meu carro, a minha carrinha.
Juiz: Está a pagar o carro?
Nuno Mendes: A minha carrinha.
Juiz: Quanto é que paga?
Nuno Mendes: Pago 400 euros por mês.
Juiz: Que carrinha é que é?
Nuno Mendes: Uma BMW, 535.
--
Juiz: A sua mulher não tem carro?
Nuno Mendes: Tem, tem.
Juiz: Que carro é que é?
Nuno Mendes: Peugeot.
--
Juiz: Senhor procurador, alguma questão?
Procurador MP: Sim, sim. Eu gostaria de saber se o arguido tributa todos estes ganhos em sede de IRS.
Juiz: Muito bem, senhor doutor.
[Risos]
Procurador MP: Está nos autos.
Juiz: É diário, dez horas de programa por dia em todos os canais… acerca das claques e dos ‘futebóis’, essas coisas todas. [Risos] Se aquilo não fosse assim não havia tanta gente a querer.
Procurador MP: Pois.
Juiz: Senhor doutor, mais alguma questão.
Procurador MP: Nada, senhor doutor. Esclarecidíssimo.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt