Rui Patrício diz "temer pela vida" na carta de rescisão

Documento enviado ao Sporting revela tensão extrema entre Bruno de Carvalho e os jogadores. Leia na íntegra.

01 de junho de 2018 às 13:39
Rui Patrício Foto: Luís Manuel Neves
Rui Patrício enfrenta um final complicado de época no Sporting Foto: Getty Images
Rui Patrício Foto: Miguel A. Lopes/Lusa
Rui Patrício e Jorge Jesus Foto: Lusa

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A carta de rescisão de contrato que Rui Patrício enviou ao Sporting mostra que o jogador receia pela sua segurança, caso fique no Sporting. O jogador diz mesmo que "uma sucessão de fatos imputáveis ao Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD o fazem "temer pela vida".

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Logo no início da missiva, que tem mais de 30 páginas, Rui Patrício explica as razões que o levam a sair. "Considero que uma sucessão de factos imputáveis ao Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD, são violadas obrigações legais e contratuais que impedem sobre esta SAD, na qualidade de minha entidade empregadora, sendo os mesmos atentatórios da minha dignidade profissional e pessoal, tendo, além disso, colocado em causa a minha segurança e integridade física, fazendo-me temer pela vida e, sobretudo, inviabilizando as condições mínimas para exercer a minha atividade de jogador profissional de futebol ao serviço do Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD".

Bruno de Carvalho envia SMS a pressionar e criticar os jogadores

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Na argumentação enviada ao Sporting, Patrício incluiu várias mensagens SMS que recebeu de Bruno de Carvalho, que considera constituírem uma "pressão inaceitável" sobre os jogadores. Por exemplo, o presidente do clube relata que teve de ser assistido no hospital por causa do empate em Setúbal, e escreveu frases como "Chega! Vamos todos juntos lutar sem mais desculpas ou falhanços".

Depois da vitória sobre o Rio Ave, Bruno diz aos capitães: "vocês são uns convencidos que não respeitam nada nem ninguém. Agora podem ir mostrar isto ao grupo, ficarem amuados, mas realmente é uma deceção as vossas atitudes".

"Vocês são uns felizardos numa sociedade cada vez mais pobre e com carências... O que vocês fazem, prova que é pobreza de espírito. Que merda andar sempre a sentir isto de vocês", lês-se na mensagem que terá sido a enviada a Patrício por Bruno de Carvalho.

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Post no Facebook após derrota em Madrid evocado

Patrício inclui na carta o famoso post no Facebook de Bruno de Carvalho após a derrota contra o Atlético de Madrid, em que o presidente dos leões criticou duramente vários jogadores. O guarda-redes conta que os jogadores pediram a André Geraldes uma reunião com o presidente em Lisboa no dia seguinte, mas Bruno de Carvalho disse que só falaria com eles no domingo seguinte, após o jogo do campeonato. Resposta que levou o plantel a fazer um comunicado a criticar as declarações do presidente.

Bruno acusou William e Patrício de liderarem revolta no balneário

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Ameaças na Madeira

Patrício narra a sucessão de acontecimentos desde a derrota do Sporting frente ao Marítimo, que relegou a equipa para o terceiro lugar, perdendo o acesso à Champions. Estranhando a ausência de Bruno na viagem, o internacional português conta as ameaças de que foram alvo por membros das claques no aeroporto. "Para a semana fazemo-vos uma visitinha", ouviram os jogadores no aeroporto da Madeira.

Jesus despedido antes da Taça

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Patrício diz que, na segunda-feira após o jogo na Madeira, a equipa técnica e o plantel formam chamados a Alvalade para reuniões em separado. Os jogadores souberam então que Bruno de Carvalho tinha dito a Jesus e ao seu staff que já não contavam mais com eles. Mas o presidente não disse nada aos jogadores sobre esta decisão, apenas questionando Acuña sobre as razões que o levaram a discutir com elementos da claque. 

Ataque em Alcochete

Patrício diz que na terça-feira, 15 de maio, o plantel chegou a Alcochete para treinar. Estranharam desde logo que não estivesse no local André Gerlades que, diz o guarda-redes "estava sempre na Academia em dias de treino".

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Foi quando os jogadores estavam no ginásio que começaram a ouvir gritos do exterior. Patrício conta o que ouviu dos agressores: 

"Vocês são uns filhos da p*, cab*, vocês são uns montes de m*, vamos-vos matar. Estão fo*. Vamos-vos arrebentar a boca toda! Não ganhem no domingo que vocês vão ver".

Os 40 agressores entraram no balneário, barricaram os jogadores, lançaram foguetes de fumo e perguntaram por Acuña, Battaglia, William e Patrício. "Os agressores atiraram petardos, agrediram os jogadores a soco, pontapé, com cintos e bastões, arremessaram objetos (...) entretanto, o treinador principal que acorreu aos balneários também foi agredido", conta Patrício.

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"A verdade é que tememos todos pelas nossas vidas. A partir de determinada altura, o descontrolo era tal que senti que podia não sair dali com vida"

Patrício diz que SAD devia ter previsto ataque

Na carta, Patrício acusa a SAD de nada ter feito para impedir as agressões. "É manifesto que o referido ataque na Academia não foi uma conduta isolada e imprevisível que pudesse escapar à capacidade de previsão dos dirigentes do Sporting, mas antes um acontecimento não só perfeitamente previsível de se verificar como até sucessivamente provocado, tomando por isso mesmo ainda mais inaceitável a ausência de qualquer dispositivo de segurança".

Ex-líder da Juve Leo disse a Jesus que não podia travar ataque

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Patrício diz que Jesus se deparou com Fernando Mendes em Alcochete, durante o ataque. O antigo presidente da Juve Leo disse a Jesus que "aquilo não era para ser assim, que era só para assustarem os jogadores, mas que tudo se tinha descontrolado e que não podia fazer nada".

Bruno demorou duas horas a chegar após os ataques

Rui Patrício estranha a demora de Bruno de Carvalho em chegar a Alcochete. "Com efeito, não obstante as notícias aterradoras que começaram de imediato a ser transmitidas pelas televisões, o presidente da Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD só chegou à Academia quase duas horas depois dos acontecimentos.

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E critica as declarações do presidente sobre o caso, que considerou "absolutamente chocantes".

Jogadores sozinhos na GNR

Patrício confirma o que as imagens televisivas mostraram. Na noite a seguir ao ataque a Alcochete, os jogadores e equipa técnica foram prestar declarações à GNR do Montijo sem serem acompanhados por qualquer dirigente do Sporting. "Uma atitude de perfeito desprezo pela situação", qualifica Patrício.

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Novas críticas de Bruno antes do jogo da Taça

O guarda-redes dos leões também refere a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho antes da final da Taça de Portugal. Patrício lamenta que o presidente tenha culpado os jogadores pelo que aconteceu na Academia.

Patrício acusa SAD de "conduta de assédio"

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No resumo final, Patrício acusa a SAD de violar os seus "mais elementares direitos" e fala de "uma conduta de assédio, que visou condicionar-me, hostilizar-me e limitar-me na minha liberdade, nomeadamente de expressão, que não me foram asseguradas as condições de segurança para exercer a minha atividade".

Bruno atiçou ira dos adeptos contra jogadores

E acrescenta, sobre Bruno de Carvalho: "criticou-me publicamente, ofendeu-me, acusou-me, processou-me. Atiçou, diversas vezes, a ira dos adeptos contra mim e contra os meus colegas de equipa, bem sabendo que alguns adeptos, em particular nas claques, reagem de forma primária e irracional a quaisquer declarações proferidas pelo presidente (...) vivi momentos de puro terror, sem que a Sporting SAD tenha revelado qualquer preocupação com a segurança dos seus profissionais de futebol.

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"Fui alvo de violência psicológica e violência física. Isto não pode deixar de constituir justa causa, para que eu, preservando a minha dignidade pessoal e profissional, me liberte do contrato que me liga ao Sporting Clube de Portugal - Futebol SAD", conclui Rui Patrício.

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