Os atentados que Paris não esquece

Quem foi o autor moral dos atentados? É a resposta que se procura.

06 de dezembro de 2015 às 10:30
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A esta distância dos atentados de Paris, é já possível fazer alguma análise sobre o que aconteceu. Pondo de parte a procura de razões explicativas sobre o terrorismo ou o desempenho dos serviços secretos, tentarei analisar a operação terrorista. Logo a seguir à tragédia, parecia existir uma certa unanimidade sobre a qualidade do planeamento e da execução da operação. Os terroristas estariam altamente treinados e muito bem coordenados. Mas terá sido assim?

Relativamente ao planeamento operacional, não tenho dúvidas sobre a sua alta qualidade. Era um plano muito preciso e ambicioso. Um comando suicida deveria fazer-se explodir no interior do Estádio de França, causando um elevado número de vítimas. Um segundo comando irromperia pela sala de espetáculos Bataclan, onde estariam cerca de mil pessoas a ouvir uma banda rock americana. O objetivo era fazer o máximo de vítimas possível e fazer-se explodir a seguir, ou esperar pela polícia para fazer mais vítimas. Por último, um outro comando operaria nas ruas perto do Bataclan, disparando indiscriminadamente onde houvesse um aglomerado de pessoas.

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O Estádio de França, lembre-se, fica situado no norte de Paris, e o Bataclan no sul, o que obrigaria a uma divisão das forças de segurança. A existência de um grupo móvel, a atacar em diversos locais, pretendia retirar à polícia tempo para se organizar e responder. E foi isso que aconteceu. Mas frise-se que essa incapacidade inicial da polícia não merece nenhuma crítica. Qualquer força policial, naquela situação, teria as mesmas dificuldades.

Mas se o planeamento operacional foi um êxito, a execução pareceu-me medíocre. No plano original, três suicidas com coletes armadilhados deveriam fazer-se explodir no Estádio de França. Um tentou entrar, mas o segurança quis revistá-lo, o que o fez recuar. Acabou por se fazer explodir, junto à porta D e matou um taxista português. Poucos minutos depois, um outro suicida fez-se explodir, entre as portas B e C. Vinte minutos depois, outro suicida fez-se explodir junto a um restaurante perto do estádio. O comando cumpriu miseravelmente a missão: os danos materiais foram diminutos e fizeram uma vítima.

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MASSACRE EM CONCERTO

No Bataclan, três terroristas, munidos de pistolas metralhadoras AK47 e envergando cintos de explosivos, atiraram a matar durante um concerto rock. Passado algum tempo de terem feito reféns todos os espetadores, e depois de terem assassinado alguns deles, viram-se cercados. Quando a polícia entrou no Bataclan, um dos terroristas fez-se explodir e os outros dois fugiram para um dos pisos superiores, ficando encurralados. Um dos terroristas fez-se explodir, enquanto o outro foi abatido pela polícia. Morreram os três terroristas, tendo feito 90 mortos. Uma autêntica carnificina. Mas, se pensarmos que estavam mil pessoas na sala, percebe-se que o objetivo seria tirar a vida a todos. Também aqui, o plano falhou.

O grupo que semeou o pânico pelas ruas de Paris foi o que melhor cumpriu o plano. O comando era composto

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por três elementos: Salah Abdeslam, o seu irmão Ibrahim Abdeslam e Abdelhamid Abaaoud. Seguiam num carro alugado e fizeram a primeira paragem nos restaurantes Le Carrillon e Le Petit Cambodje. Abdelhamid Abaaoud terá ficado ao volante, enquanto os irmãos Abdeslam se dirigiram aos restaurantes. Mataram 15 pessoas. Dali seguiram para os restaurantes Casa Nostra e La Bonne Bière onde mataram cinco pessoas. Continuaram em direção ao La Belle Équipe, onde tiraram a vida a 19 pessoas. Por fim, cerca das 21h40, foram ao Le Comptoir Voltaire. Apenas Ibrahim Abdeslam saiu do carro, para se fazer explodir, causando um ferido grave. Os outros dois terroristas fugira: Abdelhamid Abaaoud entrou numa estação de metro, enquanto Salah Abdeslam regressou a Bruxelas, numa viatura com outros dois indivíduos, já detidos.

Aparentemente, toda a operação seria um ataque suicida, até porque não havia plano de fuga. Mas e de forma inexplicável, os dois terroristas mais importantes, Salah Abdeslam e Abdelhamid Abaaoud, resolveram não acabar com a vida, ao contrário de todos os seus companheiros. Será que o mentor destes atentados terá sido algum destes indivíduos?  Muitos são aqueles que não acreditam nessa hipótese. Da análise que se faz ao perfil de cada um dos terroristas, nenhum deles parece ser um estratega. Têm passado na área dos roubos, mas não têm a inteligência para organizar uma operação desta envergadura. Quem foi o autor moral dos atentados? É a resposta que as autoridades francesas procuram desesperadamente.

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