John Cleland: na pele de uma mulher

‘Fanny Hill’ é um dos mais célebres clássicos do erotismo.

08 de março de 2020 às 10:00
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John Cleland (1709-1789) foi um escritor inglês que ganhou direito a um lugar na história da literatura universal por ser o autor de uma obra clássica do erotismo. Nascido no Surrey, ainda jovem embarcou como soldado para a Índia.

Escreveu romances, peças de teatro, poesia – mas não repetiu o êxito do primeiro livro. Publicado originalmente em dois volumes, em 1748 e 1749, com o título ‘Memórias de uma Mulher de Prazer’ (traduzido geralmente por ‘Memórias de uma Prostituta’), celebrizou-se com o nome da protagonista e narradora: ‘Fanny Hill’. Alguns estudiosos defendem que o nome é uma referência sexual ao ‘monte de vénus’: ‘hill’ é colina, ou monte, em inglês, e ‘fanny’ uma designação popular de vagina.

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Outros linguistas sustentam que a palavra ‘fanny’ só adquiriu aquele sentido em inglês na década de 1830, 80 anos depois da primeira edição. Uma das características interessantes da obra é o recurso a eufemismos: em ‘Fanny Hill’ não há palavrões nem linguagem suscetível de ferir ouvidos sensíveis.

Embora a primeira edição tenha sido legal, o autor, os editores e o impressor foram presos, acusados de "corromper os súbditos do rei". Foi o início de mais de dois séculos de censura, que se estendeu de Inglaterra ao ‘Index’ (lista de livros proibidos) da Igreja Católica, aos EUA e a vários países europeus. A proibição fez a fortuna das muitas edições piratas que se seguiram, incluindo algumas ilustradas. Só voltou a circular legalmente nos anos 60 do século XX.

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Do livro ‘Fanny Hill’, trad. Artur de Oliveira Carvalho, ed. Publicações Europa-América

(…) Nesta altura pegou-me na mão e, num arrebatamento, levou-a para onde bem quis. Mas que diferença da minha!... Uma extensa mata de cabelos espessos ornamentava completamente aquela parte da mulher. E a cavidade para onde ela conduziu a minha mão recebeu-a com facilidade. Logo que a sentiu lá dentro, remexeu-se de um lado para o outro com tão rápida agitação que logo a retirei molhada e pegajosa. Nesse instante, Phoebe pareceu acalmar-se, depois de dois ou três suspiros muito profundos."

"(...) Os olhos do arrebatado jovem despediam as mais deliciadas chamas e todos os seus olhares e movimentos revelavam um prazer extraordinário, que eu agora começava a compartilhar porque o sentia no mais profundo das minhas entranhas! Eu estava completamente desvairada de prazer, excitada até não poder mais pelas furiosas agitações dele dentro de mim, e gozei e deliciei-me até me saciar. (...) e o doce jovem, trespassado de prazer, desfaleceu-me nos braços, desfazendo-se num dilúvio que derramou o morno líquido seminal nos mais íntimos recessos do meu corpo. Cada parte de mim mesma, empregada naquele prazer, produziu também uma inundação, que se misturou com a dele.

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(…) Sentia-lhe agora o membro viril no mais poderoso ponto de ereção, e era algo de tão dominante, tão forte, tão sólido e tão inefável, que não sei que nome dar àquela sensação inaudita.

(…) Com que pressa me pus a jeito para o receber! As minhas coxas, agora obedientemente abertas, numa pronta submissão, ofereceram aquela suave porta à entrada do prazer: eu vejo, eu sinto a deliciosa ponta aveludada! (…)

Eu estava agora totalmente penetrada pela flecha do amor, desde a vagina até à raiz dos cabelos, e sentia-a sobretudo naquela parte onde, não provocando nova ferida, os lábios da minha ferida natural, que pela primeira vez tinha sido perfurada por aquele querido instrumento, se comprimiam à volta dele, numa deliciosa sucção, abraçando-o como que numa manifestação de intensa gratidão; e cada fibra da minha fenda, apertada vorazmente contra ele, parecia ansiar pela sua desejada parte do inefável contacto. (…) E a aproximação dessa doce agonia já se fazia anunciar pelos sinais habituais, bem depressa seguidos pela emanação que se evolava do meu amado e que foi esparramar-se e depositar-se naquele recipiente tão cobiçado. E aquela excitação balsâmica tão doce provocou uma torrente de licores de gozo da minha parte, o que ajudou a acalmar a lúbrica paixão e afogou por um pouco o nosso delírio, que em breve ia flutuar outra vez!"

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