Jorge Amado: do comunismo ao erotismo

O ‘pai’ das sensuais Gabriela, Tieta, Dona Flor e Tereza Batista.

18 de agosto de 2019 às 10:00
Jorge Amado Foto: Direitos Reservados
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Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001) foi o mais importante escritor brasileiro do século XX. Teve vários livros adaptados ao cinema e à televisão, alguns mais de uma vez, como ‘Gabriela’, ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’, ‘Tereza Batista Cansada de Guerra’ ou ‘Tieta do Agreste’. Natural da Baía, testemunhou desde jovem a injustiça social, bem como o folclore da região. Em 1935 formou-se em Direito na Universidade do Rio de Janeiro, onde também aderiu ao comunismo, que propagandeou em livros como ‘Capitães de Areia’, ‘Os Subterrâneos da Liberdade’ e ‘O Cavaleiro da Esperança’, biografia romanceada do histórico líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes.

Já com nome feito como "romancista do povo", foi eleito deputado pelo PCB em 1945. Em 1948 os comunistas passaram à clandestinidade, o escritor perdeu o mandato e partiu para o exílio em Paris. Viveu também na Checoslováquia e na URSS, onde se desiludiu com o regime e abandonou o partido.

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Em 1958, publicou ‘Gabriela, Cravo e Canela’, o primeiro de uma série de romances que, sem esquecer a crítica social, centram-se na crítica de costumes, muito humor e forte carga erótica. Recebeu, entre vários galardões, o Prémio Camões (1994) e condecorações de diversos países. A mulher, Zélia Gattai, também escritora, sucedeu-lhe na cadeira que ocupava na Academia Brasileira de Letras. No Carnaval do ano do seu centenário (2012), a escola de samba Imperatriz Leopoldinense dedicou-lhe um enredo.

Do livro ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’. Livraria Martins Editora

(…) Contadas a dedo essas noites inteiras de vertigem e euforia, de riso incontido e cócegas, cafunés, cariciosas palavras e o baque dos corpos desatados no leito de ferro. ‘Meu doce de coco, minha flor de manjericão, sal de minha vida, minha quirica pelada, tua xoxota é meu favo de mel’, que ele dizia, ai as coisas que ele dizia, nem te conto (…)."

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Do livro ‘Gabriela, Cravo e Canela’. Ed. Companhia das Letras

(…) O desejo subia no peito de Nacib, apertava-lhe a garganta. Seus olhos se escureciam, o perfume de cravo o tonteava, ela tomava do vestido para melhor o ver, sua nudez cândida ressurgia. (…) Ele não pode mais, segurou-lhe o braço, a outra mão procurou o seio (...) ao luar. Ela o puxou para si: – Moço bonito... O perfume de cravo enchia o quarto, um calor vinha do corpo de Gabriela, envolvia Nacib, queimava-lhe a pele, o luar morria na cama. Num sussurro entre beijos, a voz de Gabriela agonizava: – Moço bonito..."

Do livro ‘Tereza Batista Cansada de Guerra’. Ed. Companhia das Letras

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‘Imortal’ em selo

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (cujos membros são conhecidos como os ‘imortais’) em 1961 e homenageado com um selo dos correios em 2012.

Candomblé e Umbanda

Praticante de Candomblé e Umbanda, foi distinguido com o título de Obá de Xangô, protetor do terreiro Ilê Axê Opó Afonjá daquela religião afro-brasileira.

Deputado comunista

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Júri em Cannes

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‘Gabriela’ parou o país

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