Microfone a que deram muitos ‘memes’

Os internautas reagiram de imediato ao que Cristiano Ronaldo fez na manhã de quarta-feira. Rir tornou-se o melhor remédio.

26 de junho de 2016 às 13:01
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Ainda     os     peixes estariam a identificar    o     objeto voador que fora parar     ao     fundo do lago, perto do hotel em que a Seleção de Portugal pernoitou na terça-feira, e as redes sociais já estavam cheias de imagens     que     satirizavam     o que sucedeu depois de Cristiano Ronaldo ter arremessado para a água o microfone da CMTV que retirou da mão do jornalista Diogo Torres.

Não foi o primeiro momento do Europeu de futebol em que o capitão da Seleção teve direito a ‘memes’ da internet, como     chamam     às     imagens (ou, em alguns casos, textos) definidas pelo cientista Richard Dawkins – que estudou     a     difusão     de     elementos culturais ou comportamentos     ainda     antes     de     existir ‘world wide web’ – como o "sequestro de uma ideia original"     que     se     difunde     por correio     eletrónico     ou     redes sociais. A expressão assustada     de     Ronaldo     no     empate com a Áustria foi alvo de uma fotomontagem em que seria essa a sua reação à tentativa de cumprimento do selecionador alemão Joachim Löw, que     lhe     apertou     a     mão     no Mundial de 2014 após mexer no nariz, e já fora fotografado no     Europeu de França a cheirar a mesma mão que enfiara dentro das calças.

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Impulso criativo

Essa expressão apavorada de Cristiano Ronaldo foi ‘reciclada’ num ‘meme’ partilhado     na     quarta-feira,     com     o avançado português a encolher-se perante a aproximação do microfone da CMTV, embora noutros ‘memes’ que se propagaram pela internet com a rapidez dos fenómenos virais houvesse mais do que um microfone a inquietá-lo. Antes disso, dezenas de fotomontagens tinham sido criadas e difundidas.

A rapidez com que as imagens se espalharam pelo Facebook e outras redes sociais não surpreendeu o professor universitário Eduardo Cintra Torres, colunista do ‘Correio da Manhã’ e colaborador da CMTV. "As pessoas desopilam através do humor. É tão fácil criar fotomontagens e outro tipo de ‘memes’ que a imaginação transfere-se para as redes", afirma, sublinhando que "o mais interessante é verificar     que     vivemos     cada vez mais numa sociedade da imagem em que as piadas são transferidas da escrita verbal para imagens".

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Ao contrário de outras ocasiões, incluindo campanhas eleitorais e de marketing, em que profissionais se encarregam     de     fazer     ‘memes’     adequados aos seus interesses,     o especialista em cultura e comunicação acredita que o insólito arremesso do microfone para o lago motivou "um impulso" de criatividade de internautas interessados em tornar     viral     a     sua     leitura    da ocorrência. Ou, pura e simplesmente, fazerem rir.

Mesmo a tomada de partido pelos intervenientes no ‘microfonegate’ – como o episódio foi alcunhado – revelou- -se abrangente. "As pessoas estavam divididas entre fazer juízos de valor sobre a atitude de Ronaldo e tentar desprezar o ‘CM’     e a CMTV", reconhece Cintra Torres.

Peixes oportunos

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Alguns ‘memes’ mostraram o microfone lançado por Ronaldo junto a personagens do filme de animação ‘À Procura de Nemo’ – cuja sequela, ‘À Procura de Dory’, tinha estreia marcada para o dia seguinte ao do Portugal-Hungria que ditou a passagem da Seleção aos oitavos de final do     Europeu –, mas a Disney terá apenas beneficiado do facto de ter     disponibilizado     muitas imagens dos dois filmes.

Quanto aos outros ‘memes’ que foram parar à internet, Eduardo Cintra Torres destaca que "a maior parte tinha graça, o que é bom". Nem faltou o ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas a recuperar     o     microfone     da     CMTV num dos submarinos que lhe valeram uma das maiores polémicas a que esteve associado (e que também motivaram a criação de ‘memes’) quando era ministro da Defesa.

Também houve ‘piscadelas de olho’ a notícias que dominaram a atualidade nos últimos tempos, com o ‘meme’ "Je suis microfone" ["Eu sou microfone"] a recordar o "Je suis     Charlie"     adotado     em todo o Mundo após o massacre cometido por terroristas ligados ao     Daesh que provocou a morte de 11 pessoas no semanário satírico francês ‘Charlie Hebdo’.

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Além     das     fotomontagens houve quem fizesse montagens em vídeo, levando a que o microfone atirado por Ronaldo embatesse num poste imaginário colocado no meio do lago e voltasse para trás. A referência impiedosa ao penálti falhado pelo capitão da Seleção no jogo contra a Áustria, que colocaria Portugal em vantagem, também deu origem a um ‘meme’, embora os dois golos que o avançado marcou à Hungria na tarde dessa     quarta-feira     tenham ‘desvalorizado’ as menções à falta (ou excesso) de pontaria.

Guerra memeal

Cristiano Ronaldo viu-se envolvido, ainda que de forma involuntária, noutro fenómeno de redes sociais que passou despercebido à esmagadora maioria dos internautas, apesar     da     pomposa     designação ‘Primeira     Guerra     Memeal’.     Noticiada pelo site da Globo, terá sido travada entre Portugal e Brasil, após portugueses que tinham criado a conta ‘In Portugal     We     Don’t’     serem acusados de apropriarem-se do ‘meme’ ‘In Brazilian Portuguese’, destinado a traduzir expressões "para os gringos".

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O futebolista foi apresentado pelos beligerantes brasileiros como um símbolo de Portugal,     ao     lado     do     cantor Roberto Leal, e não deu sorte aos compatriotas, que no dia 15, após dois dias da "primeira batalha digital de nível internacional registada na História", capitularam. Tudo foi registado na Wikipédia até o artigo ser apagado. "A página estava escrita em tom absolutamente inapropriado para uma     enciclopédia,     e     trazia apenas uma fonte. Fenómenos de internet normalmente não ganham artigos próprios por serem geralmente muito efémeros e pouco relevantes enciclopedicamente", justificou um gestor do site.

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