O ÁLBUM DO JOGO NACIONAL
Quando apareceu chamavam-lhe o ‘jogo do coice’. Nunca se vira tal coisa, onze homens de cada lado a correr atrás de uma bola. Mas o jogo dos aristocratas viria a ser o eleito das ‘massas’.E à conta dele, e de heróis como os ‘cinco violinos’ ou Eusébio, Portugal viveu intensas alegrias. No início da época 2003/04, folheiam-se as glórias
Há 115 anos atrás, no Campo da Parada, em Cascais, tinha lugar a demonstração de um novo jogo, oriundo de Inglaterra, o ‘football association’, em que duas equipas de onze elementos tentavam conduzir, com os pés, uma bola cheia de ar, até à baliza dos adversários. Designado por alguns como ‘jogo do coice’, o futebol, como viria a ser conhecido no nosso país, era ainda um jogo de elites, dos colégios universitários ingleses, cujos representantes elaboraram, em 1863, um código de jogo do qual evoluíram para as regras actualmente em vigor.
Coube aos irmãos Pinto Basto, regressados de Inglaterra, onde estudaram, a divulgação do novo desporto no nosso país. Depois do êxito da exibição inaugural, em Janeiro de 1889 disputou-se, onde hoje se situa a Praça de Toiros do Campo Pequeno, o primeiro jogo ‘a sério’, opondo portugueses a ingleses radicados em Portugal, os quais foram derrotados por 2-1. De origem aristocrática, a popularização do futebol não foi imediata, começando a ser praticado em colégios. Em 1894, o rei
D. Carlos assiste ao primeiro encontro entre Lisboa e Porto; foi, aliás, nesta cidade que nasceu a mais antiga secção de futebol, no Oporto Cricket Club (1893). No início do século XX assiste-se à constituição de clubes: o Clube Internacional de Futebol (1902); o Boavista Futebol Clube (1903); o Sport Lisboa (1904) que, por fusão com o Grupo Sport Benfica, daria origem, em 1908, ao Sport Lisboa e Benfica; o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal, ambos de 1906. A este grupo juntavam-se o Real Casa Pia de Lisboa, o Carcavelos, o Braço de Prata, o Lisbonense, o Estrela, o Campo de Ourique, o Académico, o Vianense, entre tantos outros que participarão nos torneios regionais; o primeiro dos quais foi, em 1906, o campeonato de Lisboa, conquistado pelo Carcavelos Club. No ano seguinte, o CUF torna-se a primeira equipa portuguesa a jogar no estrangeiro, derrotando o Madrid Futebol Clube. Pior sorte teve, anos depois, a selecção nacional no seu primeiro encontro internacional, em 1921, derrotada por 3-1 face à Espanha.
OS GRANDES CRAQUES
É no começo da década de vinte que se inicia o Campeonato de Portugal: em 1922 jogam o campeão do Porto (FCP) com o de Lisboa, saindo derrotado o Sporting por 3-1. O Campeonato irá depois evoluir para uma prova por eliminatórias, do tipo da actual Taça de Portugal, assim se mantendo até 1938. A nível internacional assinala-se a primeira vitória de selecção, em 1925 (1-0 sobre a Itália) e uma actuação de mérito, em 1928, nas Olimpíadas de Amesterdão.
Nos anos trinta surgem as provas nacionais por pontos, estabelecendo-se o Campeonato Nacional (1938/39), em moldes idênticos aos de hoje. Porto e Benfica discutem a hegemonia, repartindo igualmente a maioria das vitórias. A década seguinte veste-se de verde, com o virtuosismo dos ‘cinco violinos’ sportinguistas (Jesualdo, Travassos, Peyroteo, Albano e Vasques) mas regista também, pela primeira vez a nível de campeonato, a vitória de um ‘outsider’, face aos três grandes, com a vitória de ‘Os Belenenses’ em 1945/46. Seria preciso esperar mais de meio século para o Boavista repetir feito semelhante. Quanto à selecção nacional, em 1947 conhece uma sucessão de resultados surpreendente: derrota, pela primeira vez, a Espanha (4-1), obtém a primeira vitória fora de casa (2-0 sobre a Irlanda) e baqueia, no Jamor, face à Inglaterra, por 0-
-10! Nos anos cinquenta constroem-se os estádios que servirão durante todo o século (e que só agora começam a ser substituídos, caso dos ‘leões’ inaugurado recentemente). É precisamente o Sporting que inicia a década com a conquista dos quatro primeiros campeonatos. Nos anos sessenta, o Benfica atingirá uma projecção internacional que, ainda hoje, faz parte da imagem do clube, com duas vitórias consecutivas, em 60/61 e 61/62, na Taça dos Campeões Europeus, sobre o Barcelona e o Real Madrid, bem como a presença em mais três finais (1963, 1965 e 1968). Eusébio passeava a sua classe: em quinze épocas de ‘águia ao peito’ só não ganhou quatro campeonatos nacionais! É a época de ouro do futebol português, com a conquista da Taça das Taças pelo Sporting, em 1964, e a obtenção do 3º lugar no Campeonato do Mundo, em 1966.
OS MENINOS DE OURO
Os anos setenta assistirão ao declínio do futebol português a nível internacional, enquanto a nível interno o Benfica começava por vencer seis campeonatos em sete anos. Quebrando um jejum de 19 anos, o Porto sagrar-se-ia campeão em 1977/78 e 1978/79.
O regresso às vitórias a nível internacional marcaria a década de oitenta, com as presenças do Benfica nas finais da Taça UEFA, em 1983 e da Taça dos Campeões, em 1988, mas, principalmente, com a sagração do Porto como campeão europeu em 1987, vencedor da Taça Intercon-
tinental e da Supertaça Europeia, em 1988. A selecção A alcança um brilhante terceiro lugar no Campeonato da Europa, em 1984; a selecção de juniores conquista em Riade, em 1989, o primeiro título mundial de sub-19, revalidado em Lisboa dois anos depois.
A nível internacional, a última década do século XX do futebol português começou mal, para clubes e selecção, a qual, no entanto, conseguiu redimir-se na brilhante actuação no Europeu de 2000, em França. Uma promessa que não se cumpriria dois anos depois, no Mundial da Coreia-Japão. A nível interno dá-se a afirmação esmagadora do Porto, penta-campeão. Depois do curto interregno boavisteiro e sportinguista, a época 2002/2003 representou a consagração absoluta dos portistas, que atingiram o feito inédito da conquista de todas as competições em que participaram: SuperLiga, Taça de Portugal e Taça UEFA, com a particularidade de ser a primeira vez que este troféu figura no palmarés de uma equipa portuguesa. Os ventos parecem estar de feição para o futebol luso, também a nível de selecções. Nos escalões mais jovens, ao vencer a Espanha a 17 de Maio, a selecção de sub-17 sagrou-se campeã europeia, enquanto no Torneio Internacional de Esperanças, em Toulon, foi a vez de derrotar a Itália e conquistar o título tão ambicionado.
Até o “defeso” trouxe boas notícias ao futebol nacional, com a chamada de Carlos Queiroz para orientar o Real Madrid, por muitos considerada a melhor equipa do Mundo. Se este ciclo de triunfo se mantiver, é caso para os portugueses terem esperança que a época de 2003/2004, que agora se inicia, venha a correr bem e a encerrar com chave de ouro. É o que se espera do Europeu 2004!
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