O português que trocou as cervejas pelo ketchup
Miguel Patrício é um português com raízes em Mação.
Esteve mais de 20 anos na multinacional de cervejas Anheuser-Busch InBev (ABInBev) que é dona das marcas BudWeiser, Stella Artois ou Corona. Nesse papel pediu certa vez a Arnold Schwarzenegger que saísse do camarote do sambódromo, quando este se recusou a vestir uma t-shirt publicitária de uma das marcas.
E Schwarzenegger teve de sair. Já tinha trabalhado para empresas como a Philip Morris, a Coca Cola e a Johnson & Johnson. A partir de 1 de julho, quando ele que é o atual diretor de marketing global do conglomerado cervejeiro daAB InBev assumir o cargo de CEO da gigante Kraft Heinz, terá à sua frente a missão de dar a volta a esta multinacional nascida em 2015 da fusão orquestrada por Warren Buffett e pelo fundo brasileiro 3G Capital.
É um gigante do setor alimentar que aglomera a Kraft Foods, que tem a marca dos queijos Philadelphia, e a Heinz, a do ketchup, cujas ações valem atualmente menos de metade do que valiam há quatro anos. O grupo fechou 2018 com perdas de mais de nove mil milhões de euros mas continua a ser uma das companhias mais valiosas do Mundo, com uma receita de 22 mil milhões de euros (2018) e um universo laboral de 39 mil pessoas.
A promoção foi notícia na ‘Business Insider’, na ‘Forbes’, no ‘New York Times’, no ‘The Guardian’, mas também no portugalinews, um site que se dedica a notícias relacionadas com portugueses no Mundo. O promovido é Miguel Patrício, um português de Lisboa oriundo de uma família de Mação, sobrinho do psiquiatra Luís Patrício, ex-diretor do Centro das Taipas, em Lisboa, e atual diretor da Unidade de Aditologia e Patologia Dual, na Casa de Saúde de Carnaxide. Miguel, que tem dois irmãos, a mais nova, Maria, vive em Coimbra e o mais velho, Paulo, em São Paulo, no Brasil, é também amigo de infância do juiz Carlos Alexandre, outro natural de Mação - andavam em grupo pelos "quintais de casa e dos vizinhos, juntamente com o irmão e outras sobrinhas mais velhas", conta o tio.
Os Patrícios são uma família grande de Mação - dez irmãos, o pai do agora CEO da Kraft Heinz era o mais velho, engenheiro civil de profissão.
O português agora encarregado dos destinos da multinacional em que apostou o homem que não perde dinheiro, Warren Buffett, esteve em Portugal em 2017 para uma reunião familiar - "e até pediu que houvesse um rancho folclórico, e houve" - voltou ainda em 2018 mas por pouco tempo.
Por causa da sua figura, Miguel Patrício aparenta estar sempre de saída do pub da série americana ‘Cheers’ - sempre bem-disposto, nunca de gravata. Foi ele, responsável pelo marketing do conglomerado cervejeiro desde 2012, que contra todos associou a Bud Light a uma nova série americana, a ‘Guerra dos Tronos’, e ao slogan tolo "Dilly Dilly" e mostrou que em publicidade, às vezes, o melhor para ‘entrar no ouvido’ é não querer dizer mesmo nada.
O Exterminador Implacável
Miguel Patrício, que é descrito no site do NASDAQ (segundo maior mercado de ações do Mundo, depois da Bolsa de Nova Iorque) como perito em marcas, substitui o brasileiro Bernardo Hees, gestor focado mais no corte de custos do que na expansão do negócio, numa altura em que a indústria de distribuição agroalimentar ainda não saiu da crise. A histórica Heinz, por exemplo, fundada nos Estados Unidos da América em 1869, com a comercialização de frasquinhos de rábano picado, e que tem outra portuguesa na sua história - Maria Tereza Thierstein Simões-Ferreira que casou em 1966 com o herdeiro do império - teve uma queda de 20 por cento em bolsa.
"O importante é que vou trazer um background diferente à empresa", disse Patrício, otimista, à ‘Forbes’. À CNBC frisou que o convite foi feito há meses, antes de se saber dos resultados desastrosos da multinacional.
Patrício acredita que a sua experiência de 30 anos de trabalho em empresas associadas ao grande consumo fará a diferença "numa altura em que a indústria atravessa uma fase de profunda transformação - o que também representa novas oportunidades".
Nascido em 1966, em Lisboa, acompanhou os pais quando estes emigraram para o Brasil no dia 25 de abril de 1974, mas acabou por ficar em São Paulo a completar os estudos superiores em gestão de empresas pela Faculdade Getúlio Vargas, quando estes retornaram.
Nunca esqueceu Portugal; é adepto do Benfica, fã de João Félix, e ouve fado. É casado com uma panamiana e tem três filhas. Trabalhava na AB InBev desde 2006 e foi ele quem levou as cervejas Corona, Budweiser e a Stella Artois a resultados com seis dígitos. Vinte por cento dos lucros da multinacional em 2018 provêm destas marcas.
A irmã, Maria, prefere falar de "uma pessoa muito simples e verdadeira, que vive a sua vida como o seu trabalho: sempre com muita paixão, entrega-se por inteiro às suas causas. É muito exigente mas também dá tudo, veste a camisola em todos os momentos." E é também ela quem conta a história do ‘Exterminador Implacável’ que chegou a governador do Estado da Califórnia: "O Miguel era o responsável pelo camarote da Brahma no Carnaval do Rio, onde todos têm de vestir uma t-shirt com publicidade da Brahma, e o Arnold Schwarzenegger não queria vesti-la.
Quando o Miguel ficou a saber convidou-o a vestir a t-shirt, e como o conhecido ator não quis vesti-la foi convidado a sair". Já o tio prefere contar a história do jornalista que pôde sentar-se nesse mesmo camarote só por ser português.
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