Habituado a vencer em todos os campeonatos, o português passa tempos muito difíceis no Chelsea. Mas não desiste.
Enquanto ouvia milhares de vozes a cantarem o seu nome, antes e depois de o livre direto marcado pelo brasileiro Willian garantir a vitória do Chelsea sobre o Dínamo de Kiev, impedindo mais um tropeção da equipa inglesa, é possível que José Mourinho se tenha lembrado de Cesare Pavese.
O italiano não foi jogador, treinador ou árbitro, embora tenha escrito acerca de futebol nos livros que publicou até optar pelo suicídio, em 1950, aos 41 anos. Entre as frases que deixou, nenhuma será tão célebre e adequada para os dias vividos pelo treinador português quanto o "nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz", do romance ‘A Praia’.
Apesar de o triunfo da noite de quarta-feira, que permitiu ao Chelsea subir para o segundo lugar do Grupo G da Liga dos Campeões, atrás do FC Porto, aumentar as hipóteses de seguir em frente, essa foi apenas a sexta vitória em 18 jogos oficiais nesta época. O 19º, disputado no estádio do Stoke City ontem à tarde, depois do fecho desta edição, determinou se os londrinos mantiveram um impensável 15º lugar na Liga inglesa, a 14 pontos do líder Manchester City e a quatro da despromoção. Ausente do banco esteve Mourinho, suspenso por um jogo por ter sido expulso no intervalo da visita ao West Ham, por "conduta imprópria" e pela linguagem usada com a equipa de arbitragem.
Na quarta-feira, dirigindo-se aos jornalistas que acusa de quererem o seu afastamento, Mourinho fez uma homenagem aos 40 mil adeptos que não deixaram de o considerar ‘Special One’. "Eles tentaram dizer que me querem aqui e provavelmente querem dizer-vos a vocês todos para me deixarem trabalhar. É uma sensação fantástica", afirmou o português, de 52 anos.
Mourinho está a começar a terceira temporada depois do regresso ao clube que já treinara, após levar o FC Porto à conquista da Liga dos Campeões, durante três anos e alguns meses, não conseguindo resistir a um mau arranque na temporada de 2007/2008 (três vitórias, dois empates e uma derrota), que estava longe de ser tão dramático quanto o desta época. Com três vitórias, dois empates e seis derrotas na Liga inglesa, já igualou o recorde de desaires desde que é treinador principal – perdeu seis vezes em 2013/2014, no regresso ao Chelsea, mas ao longo de 38 jornadas –, fazendo esquecer o título de campeão inglês celebrado há poucos meses.
Somando-se a isto a eliminação na Taça da Liga, num desempate por grandes penalidades com o Stoke City, que voltou a enfrentar ontem, não é de espantar que o português seja brutalmente realista. "Em 2004, depois de vencer a Liga dos Campeões com o FC Porto, disse que, um dia, os maus resultados teriam que aparecer e eu teria de os enfrentar com a mesma honestidade e dignidade com que me tornei campeão europeu. Onze anos depois, resisti bem à natureza do meu trabalho e à natureza do futebol", disse na terça-feira, na antevisão do jogo com o Dínamo de Kiev.
RUMORES DE REBELIÃO
Salientando que ainda tem três anos e meio de contrato para cumprir, encarregou-se de desmentir notícias quanto a uma rebelião no Chelsea. "Há grande solidariedade entre todos. Existe uma fantástica relação pessoal e uma muito boa relação profissional. Os meus jogadores treinam sempre no limite. Dão tudo. Querem sempre ganhar", garantiu, tendo ao lado o capitão John Terry – último resistente do núcleo duro, formado por jogadores como Drogba e Lampard, decisivo nos dois campeonatos conquistados na primeira passagem por Stamford Bridge –, que considerou "completamente ridículo" o que sai nos jornais. "Os jogadores estão 100 por cento com Mourinho", disse o defesa.
Estas declarações vieram depois de a BBC ter indicado que um elemento do plantel preferia perder jogos a ganhá-los, visto que isso poderia acelerar a ‘chicotada psicológica’. E de Cesc Fàbregas ser apontado como líder da insurreição. "Estou extremamente feliz no Chelsea e tenho excelente relação com o treinador", escreveu o médio catalão no Twitter, acrescentando que "certos indivíduos de fora estão a tentar desestabilizar o clube".
DIFERENTE DE MADRID
Este cenário é também desvalorizado por Luís Lourenço. Amigo próximo do ‘Special One’ há várias décadas e autor da biografia ‘José Mourinho’, o comentador da CMTV garante à ‘Domingo’ que tudo não passa de especulações da imprensa britânica: "Terry e Hazard já disseram publicamente que é mentira. Quem conhece um balneário sabe que, se lá dentro houvesse correntes contrárias, não viriam dizer isso. Se o balneário estivesse partido, os outros jogadores não deixavam que acontecesse."
Apesar de serem públicos os problemas com alguns jogadores que abreviaram a passagem de Mourinho pelo Real Madrid – agora recordados na nova biografia de Cristiano Ronaldo, escrita pelo jornalista espanhol Guillem Balague, que descreve um episódio em que o avançado português terá sido agarrado por colegas no intervalo de um jogo, furioso com um reparo do treinador à sua falta de disponibilidade para ajudar a defesa –, o biógrafo oficial de Mourinho marca diferenças. "No Real Madrid ele nunca disse que as notícias eram mentira. Pode é nunca ter falado nisso. Mas agora é categórico a desmentir que haja problemas com os jogadores", diz Luís Lourenço.
Solidário com o "sobrinho Zé", o veterano Manuel Cajuda, que está a treinar o BEC Tero Sasana, da Tailândia, publicou no Facebook uma carta aberta a Mourinho: "É bom não esquecer que os vencedores são os que ganham mais vezes e tu, José, és um dos mais ganhadores da história do futebol mundial. Há muita gente que gosta de te ver ver perder , mas nós, os que gostamos de ter ver ganhar, sabemos que isso vai voltar a acontecer em breve."
Luís Lourenço, conhecendo um Mourinho "extremamente pragmático", lembra-se de lhe ter perguntado, no início da carreira – após ser adjunto de Bobby Robson no Sporting, FC Porto e Barcelona, trabalhando ainda com Van Gaal no clube catalão, assumiu o comando do Benfica em 2000/01 –, se estava preparado para as alturas em que tudo correria mal. "Ele sempre esteve consciente de que a vida também é feita de derrotas e de que tudo aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes", garante o comentador da CMTV.
OFERTA MILIONÁRIA
Seja como for, até agora não há sinais de que o multimilionário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, esteja interessado em afastar o homem que desafiou a voltar a ser feliz num clube em que já conhecera a felicidade. O empresário italiano Alessandro Proto, famoso por dizer-se pronto a pagar uma indemnização de 20 milhões de euros a Cristiano Ronaldo por lhe retirar o papel prometido num filme biográfico a ser dirigido por Martin Scorsese – não existe confirmação oficial de que ‘The Manipulator’ esteja entre os próximos projetos do realizador norte-americano –, anunciou que o clube londrino recusou uma oferta de 50 milhões de euros para ceder José Mourinho ao Mónaco, agora treinado por Leonardo Jardim, de que Proto alega ser acionista minoritário. Terão pedido o dobro.
Nas declarações após a derrota (1-3) do Chelsea com o Liverpool, no fim de semana passado, o técnico português deixou claro que não contava ser despedido. Logo a seguir, respondeu com um sucinto "sim" quando lhe perguntaram se esperava dar a volta à fase negativa da equipa. "Os detratores têm de ter paciência, porque ainda vamos ter muito Mourinho pela frente", comenta Luís Lourenço, certo de que o amigo tem tudo para somar novos triunfos: "Se o Mourinho saísse, mais depressa se levantaria ele do que o Chelsea."
Com 52 anos, e um palmarés que inclui duas Ligas dos Campeões (FC Porto e Inter de Milão), uma Liga Europa (FC Porto), três títulos de Inglaterra (Chelsea), dois de Itália (Inter), dois de Portugal (FC Porto) e um de Espanha (Real Madrid), e ainda muito novo para assumir a Seleção de Portugal, no horizonte do treinador nascido em Setúbal pode estar o desafio de triunfar na Alemanha ou em França, as duas ligas de topo europeias que lhe faltam. Mas Luís Lourenço não acredita muito nisso. "Uma das armas dele é o poder de comunicação, para fora e para dentro. Na Alemanha teria o problema da língua. Já a Liga francesa pode ser que dentro de algum tempo tenha alguma competitividade..."
MÉDICA EVA CARNEIRO AFASTADA NO PRIMEIRO JOGO
Entre as polémicas de José Mourinho nesta temporada, nenhuma se compara à que envolve Eva Carneiro, a britânica de 42 anos, natural de Gibraltar, médica do Chelsea desde 2009, quando o treinador era André Villas-Boas. Logo no primeiro jogo desta edição da Liga, quando o Chelsea perdia com o West Ham e jogava com apenas dez, Eva entrou em campo para assistir Hazard, contra a vontade de Mourinho. O português terá insultado a médica e afastou-a da equipa principal, o que levou à sua saída do clube londrino.
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