Trabalhador, positivo e apaixonado. O empresário que lançou a marca a Vida é Bela acordou de um sonho: suspendeu o negócio
António Quina, o fundador de A Vida é Bela, partiu – a 4 de Janeiro de 2011 – com três amigos à aventura numa viagem de barco à vela entre as Canárias, Cabo Verde, Fernando Noronha, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Caraíbas e os Açores. Não foi a beleza do arquipélago de Fernando Noronha (Brasil) que o seduziu.
Mergulhou no mar coroado de peixes e corais e apaixonou-se por uma brasileira – Andréa Ribeiro Martins – que estava lá de férias. Dias depois, António voou até ao Rio de Janeiro para um jantar a dois. Foi a pedra-de-toque nesta história de amor.
Ao fim de nove meses, o casal protagonizou um momento romântico digno do filme ‘Meia-noite em Paris’, de Woody Allen. António alugou um carro de 1911 para o casal e outro para os pais e os tios de Andréa e passearam pela Cidade das Luzes. Antes de jantar, passaram em Montmartre, pararam numa rua pequena e ele ofereceu-lhe o anel de noivado.
Casaram onde as princesas gostariam de casar: no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, um "castelo" exclusivo onde a cerimónia custa, em média, 94 mil euros. O matrimónio celebrou-se a 17 de Março de 2012, às 20h30, num dos salões com janelas e portas amplas que dão acesso à varanda que deslumbra ao ver a praia de Copacabana.
Esta história de amor não deu um filme (ainda), mas inspirou uma nova marca de vouchers de turismo e de lazer – a A2, "presentes a dois" –, que terá sido das últimas chancelas lançadas em Portugal pelo empresário. Contudo, a ambição de facturar 200 milhões de euros em 2013 começou a desmoronar-se no Natal passado: as vendas caíram 50 por cento. De 80, a empresa passou para 30 colaboradores. "A actividade de A Vida é Bela em Portugal torna-se impossível", anuncia um comunicado, a 21 de Novembro último.
A Maritz Marketing – à qual pertence a marca A Vida é Bela – "foi acumulando dívidas à Banca, no total de nove milhões de euros. Só ao BES deve quatro milhões e mais dois milhões aos fornecedores" – diz uma fonte, que prefere o anonimato. O comunicado do empresário esclarece apenas que "foram liquidados mais de sete milhões de euros a fornecedores" este ano.
A 1 de Novembro, fechou a loja de A Vida é Bela no Restelo. Quem comprou vouchers e não os usou – a preços entre 15,90 e 299 euros –, se os quis trocar, esbarrou numa porta fechada, sem qualquer aviso. No café do lado, não param de entrar pessoas indignadas. "A gente até brinca" – conta a empregada de balcão: "Se cobrarmos um cêntimo por cada pessoa que nos vem pedir informações, podíamos viver só disso."
A DECO aconselha os lesados a tentar reaver o seu dinheiro, reclamando por carta registada.
O EXÍLIO NO BRASIL
António Pereira dos Reis Gentil Quina nasceu em Lisboa há 45 anos. Conta um tio que o avô paterno, Mário Quina, era médico e a avó era filha do professor Francisco Gentil, fundador do Instituto Português de Oncologia (1923). A família de António, terceiro filho de um engenheiro (já falecido), partiu para o exílio em Bilbau (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil), após o 25 de Abril de 74. Só regressou pouco antes de ele completar 9 anos.
Curiosamente, a marca A Vida é Bela expandiu-se, em 2007, para Espanha e, dois anos mais tarde, para o Brasil. A empresa espanhola foi vendida este ano – garante a mesma fonte – "por quatro milhões de euros". Também este ano, a Ongoing "retirou-se da participação" na A Vida é Bela no Brasil, esclareceu a empresa de Nuno Vasconcellos, sem precisar datas.
A mãe e quatro filhos de António Quina estão em Portugal. O empresário está a viver no Brasil desde o início do ano. Lá estará também o barco à vela de A Vida é Bela, que valerá meio milhão de euros. Todos os esforços para o contactar foram infrutíferos. Rui Cruz Alves, da Central de Informação, que gere a comunicação do empresário, justifica que o empresário tem, agora, "outras prioridades".
O escritório da Maritz, em Algés, encerrou no início do mês. "Má gestão", ajuíza uma fonte. "António Quina nomeou há uns anos [Fevereiro de 2010] um director, Pedro Marinho de Castro, ex-quadro do BES, e desligou-se do negócio. As dívidas acumularam-se. Não sei se há gestão gravosa, mas os bancos deram-lhe corda para se enforcar. Não foi para fugir que ele se mudou para o Brasil: a mulher pressiona-o para lá estar."
António não terminou os cursos de Direito e de Gestão. Mas não será isso que lhe faltou. O amigo e mentor Francisco Banha diz que "ele é um empreendedor. Mas para se ser empresário é preciso mais atributos – não sei se é o caso dele em particular. É preciso rodear-se de uma estrutura que o acompanhe na vertente operacional". Para o empresário, a contratação de Marinho de Castro – que não respondeu ao pedido de contacto da Domingo – peca por tardia. "A empresa poderia já estar numa fase descendente."
Este ano, também, António desfez a sociedade que tinha no eco-resort Cocoon, da Herdade da Comporta – em terras compradas ao Grupo Espírito Santo –, confirmou o ex-sócio Nuno Calheiros Veloso. Vendeu também a sua quota na empresa AVEB Evolução, que explora a praia da Terra Estreita, num acordo com a Junta de Freguesia de Santa Luzia, Tavira. Eduardo Marques confirma e elogia o antigo sócio: "Dificilmente se encontra outra pessoa que trabalhe mais do que ele." O amigo acredita também que o empresário tenha deixado para trás o viveiro de ostras, na ria Formosa, que fornecia o seu restaurante, Pérolas a Porcos (encerrado há três anos).
O mar está presente na vida de António Quina desde a infância. Influência do avô. Com 16 anos, limpava barcos na doca de Belém. Aos 23 criou a revista ‘Vela Náutica’. Chegou a trabalhar na Pescanova. E foi responsável por uma agência de publicidade: despediu 22 pessoas e acabou ele no desemprego. Em 2002, o filme ‘A Vida é Bela’, de Roberto Benigni, encheu-o de optimismo. Como não queria usar gravata, lançou um projecto original de presentes-experiências. Nascia a A Vida é Bela, que poderá ser alvo de um Plano Especial de Revitalização.
Como defeito, o amigo Francisco Banha reconhece-lhe o que "caracteriza qualquer empreendedor [ele próprio, até]: às vezes vemos o mundo de uma maneira e esquecemo-nos de que ele não é assim tão positivo". Já no que toca a qualidades, o empresário enaltece "a assertividade na forma como se relaciona com os outros e o ser sonhador, para quem a vida é bela."
NOTAS
2002
A marca A Vida é Bela chega ao mercado num conceito que mistura diferentes experiências numa só caixa.
2011
Em Junho, António Quina obteve autorização de trabalho no Brasil e, consequentemente, visto de residência
2012
Foi "suspensa" devido à quebra das vendas, subida das taxas de juro e difícil acesso a crédito.
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