Fomos ver como se diagnosticam e tratam problemas de coração. Não contávamos era assistir a uma paragem cardíaca em directo, menos ainda ver um desfibrilhador falhar na hora ‘h’.
As doenças cardíacas são uma realidade. Todos os anos, mais de cinco milhões de pessoas recebem tratamento para esta patologia e, só na Europa, mais de um milhão de novos pacientes são submetidos a tratamento clínico. Tabagismo, colesterol elevado, hipertensão arterial, diabetes, obesidade, stresse e falta de exercício são quase sempre os responsáveis. “Aumentam significativamente as chances de se desenvolverem doenças do coração”, alerta o director de cardiologia do Centro do Coração dos hospitais CUF, Sousa Ramos, garantindo que as pessoas já começam “a ter alguma consciência disso”.
Com o objectivo de diagnosticar e tratar patologias cardíacas, o especialista realiza frequentemente cateterismos cardíacos. Esta intervenção permite avaliar o funcionamento do coração e seus vasos (válvulas, músculos, cavidades cardíacas, artérias coronárias, anomalias cardíacas congénitas). É um procedimento que possibilita estabelecer um diagnóstico preciso e, em função dos sintomas e resultado, determinar um tratamento. Regra geral, realiza-se quando se suspeita de qualquer problema no funcionamento das estruturas cardíacas vitais.
Como se efectua? “Introduz-se um fino tubo flexível, chamado cateter, através de um introdutor colocado numa veia ou artéria da perna (femoral) ou do braço (radial ou umeral). Este é guiado, por controlo radiológico, até ao coração”, explica Sousa Ramos. As imagens, obtidas através de tecnologia digital, facultam o diagnóstico das artérias coronárias permitindo detectar, localizar e avaliar o número e gravidade de eventuais obstruções (estenoses).
Mediante o tipo de patologia detectada, o médico vai indicar se o paciente necessita de tratamento com fármacos, cirurgia ou – se for apropriado – realizar uma intervenção coronária percutânea, antes conhecida por angioplastia coronária percutânea. A decisão depende, segundo o cardiologista, do “tipo de patologia e doente a tratar”.
SUCESSO ELEVADO
A mais recente das técnicas é a intervenção coronária percutânea. Consiste em desobstruir uma ou mais artérias de coração e restabelecer o fluxo sanguíneo adequado. É realizada de maneira semelhante à descrita para o cateterismo cardíaco de diagnóstico e, quase sempre, no seu seguimento. Para diminuir a probabilidade da artéria voltar a apertar no mesmo local (reestenose) utilizam-se, muitas vezes, uns dispositivos chamados Stent. São malhas ou redes metálicas (próteses endovasculares) que, através de um cateter balão (cateter com um minúsculo balão na extremidade), podem ser colocadas nas estenoses das artérias coronárias e que servem para manter as paredes do vaso abertas.
O progresso mais recente deu-se com a utilização de Stents revestidos com fármacos (Sirolimus; Paclitaxil) que diminuíram significativamente a taxa de reestenose, aumentando as indicações para esta intervenção terapêutica. O Cypher foi o primeiro destes Stents. Está disponível desde há dois anos em Portugal e é considerado um grande avanço na tentativa de controlar a reestenose. Para além de desobstruir a artéria, desempenha o papel de veículo para libertação localizada do Sirolimus na lesão a tratar. Sendo um inibidor da proliferação celular, principal mecanismo da reestenose, diminui a sua ocorrência.
Segundo o Dr. Sousa Ramos, este é um procedimento com “uma taxa de sucesso elevada”. Contudo, o pós-intervenção é muito importante. “O paciente tem que ter cuidados redobrados. Cumprir a terapêutica, modificar o estilo de vida, evitar certos alimentos, deixar de fumar, controlar o colesterol e a hipertensão arterial, praticar exercício físico”, alerta. Ou, como diz o anúncio da TV, “ponham-se a andar”.
SUSTO COM FINAL FELIZ
Eram 9h15 da manhã. No hospital CUF da Infante Santo o cardiologista Sousa Ramos preparava-se para realizar mais um cateterismo cardíaco.
Acabado de sair da sala de angiografia (sala própria para a realização de cateterismos cardíacos) estava Alexandre Taborda Ferreira, de 46 anos. No dia anterior havia sido vítima de um ataque cardíaco. “Senti uma forte dor no peito e o dedos do meu braço esquerdo ficaram dormentes”, descreve. Mesmo assim ainda teve forças para pegar no carro e conduzir até ao hospital. Não saiu mais.
Os cigarros – um maço de tabaco por dia – e o stresse são as causas mais prováveis para o sucedido. Após ter-se submetido a um cateterismo cardíaco, e de lhe terem sido detectadas artérias obstruídas, Alexandre teve que fazer uma intervenção coronária percutânea. No final, o proprietário de alguns restaurantes em Lisboa apresentava boas cores. “Sinto-me bem, foi uma intervenção rápida e praticamente indolor.”
Enquanto Alexandre repousava cá fora, o paciente que se seguia já estava deitado no centro de uma sala apetrechada com todos os aparelhos necessários. Só as pernas irrequietas revelavam algum nervosismo. E como se viria a verificar, o nervoso miudinho tinha razão de ser… A intervenção a que assistimos, à partida simples e corriqueira, teve um percalço – coisa raríssima nestes casos –, mas não passou do susto.
SERVIÇO DE URGÊNCIA
A equipa médica, composta por cinco pessoas, está pronta a dar início à intervenção. Começa por aplicar o soro e pequenos eléctrodos com gel, para monitorização contínua da actividade eléctrica do coração. A seguir o médico desinfecta a virilha do paciente, injecta-lhe um anestésico no local da incisão e põe mãos à obra. O cateterismo cardíaco decorre com normalidade. Detectam no paciente algumas artérias obstruídas e, portanto, havia que tomar medidas.
Próximo passo: a intervenção coronária percutânea. A equipa permanece calma, afinal já estão habituados a todo o processo. A meio da intervenção, porém, e sem que nada o faça prever… o paciente sofre uma paragem cardíaca.
A enfermeira não perde tempo e rapidamente socorre-se do desfibrilhador, que aplica no paciente. Ou pelo menos tenta. Após algumas tentativas falhadas verifica que o aparelho não está a funcionar. O médico ajudante tenta por sua vez a reanimação do paciente através de uma massagem cardíaca. Sem sucesso. Segue-se nova tentativa com segundo desfibrilhador, que a enfermeira entretanto foi buscar.
Ao todo, o sufoco não durou mais do que alguns segundos, tempo suficiente para que o coração do paciente voltasse a bater.
A intervenção propriamente dita durou mais cerca de dez minutos e, assim que termina, os elementos da equipa vão abandonando a sala um a um.
“Já tiveram um bónus”, diz-nos o médico ajudante com ironia. Sem querer alongar-se em explicações, Sousa Ramos acrescenta: “Poderiam assistir mais mil vezes a uma operação destas e isto não voltaria a acontecer.” É caso para dizer que estivemos no local certo… à hora errada.
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