A lista de processos de beatificação contempla 27 ‘santinhos’ portugueses, e nomes como o Padre Cruz ou Alexandrina de Balasar. Figuras que ainda hoje arrastam milhares de devotos
Depois de mais de um século a passar ao lado dos caminhos da santidade, as beatificações dos Pastori-nhos de Fátima, Francisco e Jacinta, em 13 de Maio de 2000, e do antigo arcebispo de Braga, D. Frei Bartolo-meu dos Mártires, a 4 de Novembro de 2001, parecem ter acordado o País e a Igreja para a possibilidade de engrossar a lista dos lusos veneráveis, que conta já com 83 nomes: 28 santos e 55 beatos.
Assim, estão em curso (ou concluídos) 27 processos de beatificação, interpostos por oito dioceses do País: Viana do Castelo (1), Braga (4), Porto (5), Guarda (1), Lisboa (4), Évora (2), Funchal (3) e Angra do Heroísmo (1). Há ainda seis processos que, por razões diversas, estão a ser acompanhados pelo Patriarcado de Lisboa.
E não será alheio ao interesse relativamente recente por estas causas o facto de, desde há dois anos, o responsável pela Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano, ser o cardeal português D. José Saraiva Martins.
A diocese de Viana do Castelo iniciou em 1983, há 20 anos portanto, o processo de beatificação de Maria da Conceição Pinto da Rocha, fundadora das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face.
Nascida em Dezembro de 1889, no seio de uma família humilde, esta religiosa levou até às últimas consequências a vivência dos valores da pobreza, humildade, caridade, misericórdia e obediência.
Faleceu em Outubro de 1958, com 69 anos, sendo ainda em vida, considerada santa por um grande número de pessoas. A diocese de Viana do Castelo espera que a beatificação aconteça em breve.
Um dos processos que se encontra em fase mais adiantada é o de Alexandrina Maria da Costa, conhecida como a ‘santinha de Balasar’. A recolha informativa sobre a vida, virtudes e fama de santidade desta serva de Deus começou em Braga, em 1967. Ao longo de seis anos, foram realizadas 110 sessões e ouvidas 48 testemunhas, cujos depoimentos e actas somam 1200 páginas. Remetido o ‘dossier’ para Roma, foi analisado e, em meados da década de 80, Alexandrina de Balasar foi declarada venerável por João Paulo II.
Em finais de 2002, quase 35 anos depois do primeiro passo, a arquidiocese de Braga deu por concluído o processo de beatificação, onde defende o reconhecimento de um milagre na cura de uma mulher que sofria da doença de Parkinson. A cura da mulher, natural de Famalicão e residente em Estrasburgo, França, e que sofreu 12 anos da referida doença, foi considerada por uma comissão médica como “um facto que não se pode explicar natural ou cientificamente”.
Um pequeno quarto de uma casa simples situada em Balasar, Póvoa de Varzim – onde Alexandrina viveu desde o nascimento em 30 de Março de 1904 até à sua morte a 13 de Outubro de 1955 – recebe centenas de milhares de fiéis, a uma média superior a 50 mil por ano. Aliás, os testemunhos de graças recebidas preenchem mais de uma dezena de cadernos.
A saga da futura beata portuguesa começou aos 14 anos de idade, quando se atirou de uma janela para fugir a um homem que abusivamente entrou em sua casa. O seu estado de saúde agravou-se progressivamente, ficando acamada em 1925. Nos últimos 13 anos de vida, manteve-se alimentada apenas pela hóstia recebida na comunhão diária e, segundo muitos testemunhos, chegou a sentir as dores da crucificação e flagelação de Cristo.
Se não houver entraves de maior, a beatificação da venerável Alexandrina deve ter lugar esta década. Há quem defenda que isso devia acontecer no próximo ano, quando passam 100 anos sobre o seu nascimento, ou em 2005, quando passa meio século sobre a sua morte. A decisão cabe ao Papa.
O processo de Alexandrina de Balasar é um dos quatro em curso na arquidiocese de Braga. Para além deste, há o do padre Aníbal Correia, antigo pároco de
S. Mamede de Este, em Braga; o de
D. Bernardo de Vasconcelos, um padre beneditino, nascido em 1902 em S. Romão do Corgo, Celorico de Basto, e que teve uma vida curta, de apenas 30 anos, mas de grande sofrimento; e o de Guilherme Braga da Cruz, um catedrático nascido em Braga em 1916 (faleceu em 1977), que foi pai de 9 filhos e, ao longo de vários anos, Reitor da Universidade de Coimbra.
Fenómeno comparável ao de Alexan-drina de Balasar é o de Ana de Jesus Maria José de Magalhães, nacionalmente conhecida como a ‘Santinha de Arrifana’.
Nasceu em Agosto de 1811, na freguesia de Arrifana, Santa Maria da Feira, diocese do Porto. Aos 16 anos ficou entrevada no leito, onde permaneceu 48 anos até à sua morte. Durante o período em que esteve acamada a sua alimentação era reduzida, comendo pão de trigo, chá e leite, apenas às terças, quintas e domingos. Confessava-se e comungava tanto quanto permitia o costume da época e, segundo testemunhos escritos, depois de receber a comunhão elevava-se da cama, ficando o seu corpo totalmente suspenso.
Hoje, são aos milhares as pessoas que se deslocam, sobretudo ao fim-de-semana, à casa onde nasceu e viveu a veneranda ‘Santinha de Arrifana’.
Diz o processo de beatificação, iniciado a 7 de Maio de 1915 (já lá vão quase 90 anos) que “viveu na verdade e na oração e santificou-se extraordinariamente”. Este caso foi despoletado por D. António Barroso, então bispo do Porto, também ele alvo de um processo de beatificação.
Mas na diocese do Porto contam-se ainda os processos da Irmã Maria Droste Zu Vischering, de Sílvia Cardoso e do padre Américo Monteiro de Aguiar.
Quanto à primeira, são escassas as informações. No que concerne a Sílvia Cardoso, nasceu em 1882, em Paços de Ferreira e tem o seu nome ligado a mais de uma dezena de instituições de caridade, sendo a mais conhecida a ‘Sopa dos Pobres’. Faleceu em 1950 e, três anos mais tarde, o então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Cerejeira, inaugurou a estátua que hoje se encontra mesmo no centro da cidade de Paços de Ferreira. O processo de beatificação iniciou-se em 1977, tendo dado entrada em 1992, na Congregação da Causa dos Santos, em Roma.
O caso do padre Américo de Aguiar está também intimamente relacionado com as virtudes da santidade e da caridade. Nasceu em Galegos, Penafiel, em 1887 e faleceu no Porto, em 1956, vítima de um acidente de viação.
Teve de enfrentar a oposição do seu pai, que queria fazer dele um comerciante, pondo-o a trabalhar em Moçambique dos 18 aos 36 anos. E só aos 41 anos conseguiu ordenar-se padre, em Coimbra. Pedagogo da caridade e renovador de mentalidades, vai ficar para a história como o fundador da Casa do Gaiato.
Dez dos processos de beatificação em curso estão a ser conduzidos pelo Pa-
triarcado de Lisboa, sendo que quatro são originários da diocese (D. Fernando – o Infante Santo, a Maria do Lado, a Sãozinha e o padre Cruz) e seis de outras zonas ou ordens religiosas, nomeadamente padre Gonçalo da Silveira, padre José Aparício da Silva, monsenhor Joaquim Alves Braz, madre Maria Clara do Menino Jesus, irmã Luiza Maria Mesquita e Melo e a madre Teresa Catarina de Sousa.
Dos casos referidos, o mais adiantado e, sem dúvida, de maior alcance popular, é o do padre Cruz. Baptizado com o nome de Francisco Rodrigues da Cruz nasceu em Alcochete, em 1859, e faleceu em Lisboa no ano de 1948.
Foi, no seu tempo, o homem mais venerado de Portugal. Praticava o que aconselhava aos sacerdotes: “a nossa missão é confessar enquanto se apresentarem pecadores, pregar enquanto houver ouvintes e rezar até já não se poder mais”. Pregou de Norte a Sul do País, relevando as virtudes da oração, da humildade e da piedade, constando que converteu muitos pecadores. Em 1913 confessou e deu a Primeira Comunhão à Lúcia de Fátima, incentivando-a a rezar o terço e acreditar em Nossa Senhora. O seu funeral foi uma verdadeira apoteose em Lisboa, onde terá estado mais de um milhão de pessoas.
O processo informativo em ordem à sua beatificação começou em 1951 e, 20 anos mais tarde, foi decretado em Roma que nada havia que impedisse a sua continuação. Já está concluído e aguarda apenas a declaração do Papa.
Na lista de portugueses candidatos à beatificação constam ainda dois antigos titulares de dioceses: o antigo bispo
da Guarda, D. João Oliveira Matos e D. Manuel Mendes da Conceição Santos, antigo arcebispo de Évora.
O prelado eborense nasceu em 1876 na freguesia de Olaia, Torres Novas, e faleceu em 1955, em Évora. Ficou conhecido como o ‘arcebispo santo’ e ficaram célebres as suas Missões no Alentejo. A causa de beatificação foi iniciada em 1972.
É também de realçar que esta lista de venerandos com processo de beatificação em curso inclui quatro pessoas das ilhas: três da Madeira e uma dos Açores.
A diocese do Funchal tem em curso os processos do Frei Pedro da Guarda, um franciscano que viveu na Madeira no século XV, da Madre Maria de S. Francisco Wilson, fundadora das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, e a Madre Virgínia, das Irmãs Clarissas.
Na Diocese de Angra do Heroísmo há décadas que se trabalha no processo de beatificação da Irmã Teresa da Anunciada, a religiosa que iniciou a devoção ao Santo Cristo dos Açores, em Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel. O Santo Cristo é hoje o maior alvo da devoção popular açoriana mas, também, são muitos milhares os que veneram a Irmã Teresa da Anunciada e que reclamam a sua beatificação.
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