Antes da cirurgia plástica, já o cinema soviético reconstituía corpos montando planos de diferentes pessoas. E o cinema de Hollywood especializou-se em transformar físicos (sobretudo femininos) em corpos de deuses.
 
                                    Os seus rostos são iluminados de modo a eliminar qualquer falha. As cenas de sexo ou de aventura/risco são muitas vezes interpretadas por outros corpos. Ou seja, cinema e TV são, por excelência, território de transformação do corpo em função dos supostos desejos do espectador.
O neo-realismo, nas suas mais diferentes cambiantes, trouxe uma abordagem pretensamente mais crua. Os corpos assumiram todas as formas, a maquilhagem desapareceu e a iluminação não escamoteava 'defeitos'.
A série televisiva ‘Nip Tuck’, não deixando de ser essencialmente hollywoodesca, mostra os tecno-escatológicos caminhos da cirurgia plástica. O fascínio/repulsa do espectador ainda é maior do que nas cenas de morgue do ‘CSI’. Em ‘Nip Tuck’ dissecam-se os vivos.
O enredo mistura os meandros dum negócio, ao qual recorrem milhares de americanos por ano, com as vidas pessoais dos médicos. E tudo é excesso. O lado mais telenovelesco gira em torno dum cirurgião que é um sedutor em série e dum outro que é um moralista falhado. Já a faceta satírica da vida moderna inclui mutiladores sádicos, gémeos que pretendem diferenciar-se, alguém que quer amputar uma perna porque, simplesmente, sente que está a mais. Os episódios, muitos baseados em casos reais, tratam temas desde o tráfico de órgãos ao terrorismo.
A série começou em Miami, onde o inglês quase já é uma língua estrangeira e ser-se homem caucasiano, rico e atraente pode simbolizar a crítica ao americanismo branco. Depoismudou-separa Hollywood, onde os dois cirurgiões continuaram a representar o sistema patriarcal que impõe às mulheres padrões de beleza a elevados custos. Mas a trama de ‘Nip Tuck’ é mais abrangente. Quer às ambições da medicina actual, quer à frenética actividade sexual omnipresente na série, subjazem ilusões de automelhoramento. E muita violência, nessa declaração de guerra contra a mortalidade. Até porque a série nunca deixa a sua moral. A luta contra a natureza só pode ser ganha nas batalhas contra a genética ou contra o tempo. Mas a aparência não altera o essencial: todas as outras disputas estão perdidas e o ser humano continuará igual a si próprio.
CARNIFICINA
Um dos filmes que mais longe levou a politização do corpo e dos seus limites foi ‘Saló ou os 120 dias de Sodoma’ (Pier Paolo Pasolini, 1975). Dos poucos que ainda hoje em dia é desaconselhável a espectadores mais impressionáveis.
ENLATADA
Paul Morrisey, o mais célebre cineasta da Fábrica de Andy Warhol, explorou (literalmente) na sua trilogia ‘Flesh, Trash e Heat’ a relação da câmara com os corpos e dos corpos com a sociedade.
CARNE DE PLÁSTICO
Pioneiro a especular sobre o futuro da cirurgia estética (entre muitas e apocalípticas coisas) foi ‘Brazil’ (Terry Gilliam, 1984). E esse futuro é exemplificado através do destino da mãe do protagonista, cujo corpo realiza autênticas viagens no tempo.
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