A palavra devia dizer tudo. “Mãe” o que é? É o princípio de todas as coisas. A certeza. A segurança. A primeira peça de todas as que virão a seguir para construir aquilo que um dia, visto de longe, será uma vida.
Na televisão vejo uma mãe destroçada, perdida num mar de lágrimas, o horror estampado na cara. Perdeu a filha em mais um dos brutais atentados suicidas que já não fazem mais do que engrossar as estatísticas de uma guerra que mergulhou o Médio Oriente num mar de sangue. À hora do jantar, o rosto daquela mãe, cuja filha, de pouco mais de 12 anos, seguia para a escola num autocarro – como todos os dias – corta a fome a qualquer um. Para o mundo, ela é apenas mais uma mãe que perdeu um filho. Para ela, a filha era tudo.
Nada nem ninguém poderão dizer àquela mulher que está histérica, cuja voz falha e os gestos frenéticos traduzem a maior das dores, que a morte da sua filha não é a coisa mais terrível do mundo. No final da peça jornalística, um anónimo conta que depois do autocarro ter explodido, ouviram-se durante algum tempo barulhos, gemidos, vozes roucas. Uma, infantil, chamava: ‘mãe’.
Dias depois há o rosto de outra mãe estampado num telejornal de horário nobre – nobre nas horas a que passa, triste nas coisas que revela. Este rosto não tem lágrimas, provavelmente porque a dona do mesmo já está farta de chorar. Só posso acreditar que sim. Susana Vasconcelos, 23 anos, uma portuguesa emigrada na Suíça, foi condenada a uma pena suspensa de seis meses durante três anos pelo homicídio – por negligência – da sua filha, de 16 meses. A história, atroz, conta-se em poucas linhas. Detida na madrugada de 8 de Maio de 2001 – tinha saído para comprar droga – Susana omitiu à Polícia o facto da sua filha, bebé, ter ficado sozinha em casa, com medo de perder a guarda da criança, que se encontrava nessa altura a partilhar com o Departamento de Protecção da Juventude. Vinte e um dias depois a menina foi encontrada morta, no apartamento, tendo sucumbido à fome, à sede, e sabe Deus que mais. Susana não perdeu a guardar da filha, perdeu a filha. Para sempre. Como será sobreviver a uma coisa destas?
Na próxima terça-feira, dia 3, uma jovem brasileira de 19 anos vai ser interrogada pelo assassinato dos seus pais. A rapariga, estudante universitária e filha de um casal abastado – um engenheiro alemão naturalizado brasileiro e uma pediatra – planeou e incitou o seu namorado e o irmão deste a espancarem os seus pais até à morte. O crime, levado a cabo por dois rapazes de 21 e 26 anos, foi cometido na casa da família, mais concretamente na cama onde o casal dormia.
Suzane Richthofen, assim se chama a jovem, alega que os pais não queriam que ela namorasse com Daniel Cravinho, um dos autores do crime, porque ele não estudava nem trabalhava. Os dois homicidas juram que Suzane não participou no crime e apenas montou toda a operação: arranjou as luvas cirúrgicas e meias de nylon para ambos e providenciou o saco de plástico que enrolou a cabeça da mãe, estrangulada depois de espancada com barras de ferro revestidas de madeira. O Departamento de Homicídios e Protecção às Pessoas brasileiro não descarta a hipótese da jovem ter, ela própria, desferido alguns golpes na mãe, que foi, das duas vítimas, a mais violentada. Ela, herdeira de uma fortuna ‘simpática’ diz que fez tudo por amor. Alguém lhe devia explicar que ela nunca soube, de facto, o significado dessa palavra.
Não há palavras para explicar o que se passou na Casa Pia durante 30 anos. Não foram 30 dias, nem 30 semanas. Foram 30 anos. Uma vida. A jornalista Felícia Cabrita, que também é mãe, fez mais por algumas gerações de meninos que passaram por aquela instituição do que os órgãos garantes da Justiça portuguesa nas últimas três décadas. É por estas e por outras que vale a pena andar cá (no jornalismo) todos os dias.
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