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O ano da morte de Eusébio da Silva Ferreira

A eterna glória do Benfica e da seleção portuguesa partiu em Janeiro de 2014.

30 de dezembro de 2014 às 17:30

A última vez que vi Eusébio foi no Estádio da Luz. A primeira vez que vi Eusébio foi também no Estádio da Luz. Passou-se, entretanto, quase meio século. Eusébio envelheceu e o tal Estádio da Luz, em que vi pela primeira vez Eusébio jogar, também envelheceu, deixou de existir e deu lugar a um novo Estádio da Luz.

INESQUECÍVEL

A primeira vez que vi Eusébio, ele jogava futebol, corria, marcava golos e o meu avô puxava-me pelo braço e dizia-me baixinho: "É este, é este!" Foi numa tarde de sol, de pouco mais me lembro.

Da última vez que vi Eusébio lembro-me de tudo. Foi numa noite de inverno poucos dias antes do Natal de 2013 na cerimónia de lançamento de um livrinho de memórias de António Simões. No palco do auditório do Museu Cosme Damião, Eusébio sentado numa cadeira de rodas ocupava o lugar à ponta direita da mesa corrida presidida por Simões, o autor do livro, e por Luís Filipe Vieira, o presidente do clube.

Estava cansado, quebrado, doente, aquele que foi um dos melhores do mundo. Simões e Vieira falaram e tinham à sua frente microfones. Eusébio não falou e tinha ao seu lado, compondo a decoração da mesa, uma das Taças dos Clubes Campeões Europeus conquistadas pelo Benfica no início da década de 60, provavelmente aquela que ele ajudou a ganhar marcando dois golos ao Real Madrid na final de Amesterdão.

A pouco mais de duas semanas da sua morte – Eusébio morreu na madrugada do dia 5 de janeiro –, terá sido esta, certamente, a última vez que Eusébio esteve na Luz com os amigos, com os antigos colegas e com os seus admiradores. E também a última vez que esteve frente a frente com a Taça dos Campeões Europeus, ali muito bem-posta a seu lado, lindíssima, impecavelmente areada a envolver com todo o seu brilho de prata a figura lendária do desportista notável e do homem que estava, agora, à beira do fim.

Era uma noite fria de dezembro. Terminada a sessão, Eusébio foi levado na sua cadeira de rodas enquanto António Simões assinava dedicatórias no seu livro perante uma extensa fila de interessados. Eusébio foi-se embora em silêncio e deixou a Taça dos Campeões Europeus sozinha lá no canto da mesa.

Depois surgiu um diligente funcionário do clube que, com o maior dos cuidados, pegou no troféu pelas asas e o levou de volta para o seu lugar no Museu. Ao contrário da Taça, o lugar de Eusébio não é no Museu. É no coração e na memória de quem o viu e até de quem nunca o viu jogar. É esse o apanágio e o privilégio das lendas.

Foi também numa noite fria de dezembro que Eusébio aterrou em Lisboa no ano de 1960. Tinha 18 anos. "Remata com os dois pés?" – perguntou-lhe Fernando Cruz dos Santos, jornalista de ‘A Bola’, que o aguardava na Portela. "Mais ou menos", foi a resposta que não pode deixar de fazer sorrir a quem haveria de seguir a história da sua carreira fabulosa em representação do Benfica e da seleção nacional.

O Benfica de Eusébio e o Portugal de Eusébio seriam a imagem internacional de Portugal na década de 60. Foi pouco para um país? Provavelmente. Eusébio foi grande demais, o que não é pecado. Aliás, Eusébio foi tudo demais. Nunca foi de menos.

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