Das 800 jovens que concorreram a miss Portugal só quinze vão à final. As que ficam para trás vêem o seu sonho ir por água abaixo e, por vezes, aceitam com dificuldade as críticas do júri. “Se eu sou gorda, então o que será uma gorda de verdade?!”, dizia uma das candidatas eliminadas.
Viajou desde Leiria até Lisboa para mais um dia de ‘casting’ de ‘Um Sonho de Mulher – Miss Portugal 2004’. Já havia passado por duas eliminatórias mas, desta vez, a sorte não esteve do seu lado. “O júri disse-me que eu era uma mulher muito interessante mas que não sabia aproveitar a minha imagem. Disse também que as minhas sobrancelhas estavam estragadas”, conta a jovem leiriense às outras participantes após finalizar a prova de biquíni que a colocou fora do concurso.
As criticas ouvidas pela candidata de 20 anos não foram suficientes para a entristecer. A frequentar o terceiro ano de Medicina, afirma com boa-disposição: “Quando for grande quero ser médica.”
E enquanto retirava a faixa de participante para se proteger do frio com um roupão, as colegas iam-se chegando a ela, dispostas a dar uma palavra de consolo.
Valeu-lhes a atitude, porque de facto a leiriense não precisava de conforto. “Foi uma aventura interessante, já estou muito contente por ter chegado aqui. Sinto-me realizada.”
A participante de Leiria é uma excepção à regra. São muito poucas as candidatas que conseguem reagir de cabeça erguida à expulsão do concurso ‘Um Sonho de Mulher – Miss Portugal 2004’. Se bem que algumas tentem demonstrar o contrário.
Aconteceu com uma concorrente de 23 anos, residente em Lisboa, que perante o olhar atento das outras candidatas, após ser excluída, atirou: “Não passei, mas também já sabia que não passaria.” Aparentava estar bem, mas lá no fundo notava-se algum nervosismo e até uma certa revolta. “Aquilo que eles criticaram já eu sabia – estou com uns quilos a mais. Mas como costumo dizer, não é o meu corpo que me faz a mim, mas eu é que faço o meu corpo.”
A tirar um mestrado em Ciências da Comunicação, nunca antes tinha entrado num concurso de beleza. Se o fez em ‘Um Sonho de Mulher – Miss Portugal 2004’ foi por ter ficado com a ideia de que este ano “a avaliação não ia ser feita apenas à embalagem, mas também ao conteúdo”. Depois de saber o veredicto, não tem dúvidas de que esta primeira vez foi também a última. “Tenho 23 anos, já estou fora de prazo. O júri mandou-me ser uma boa jornalista e vão ver que hei-de sê-lo”, disse com um olhar que deixava reflectir uma ligeira sede de vingança.
BABA E RANHO
A felicidade das candidatas que passavam à fase seguinte contrastava com a tristeza de outras, a quem o júri informava que ficavam em 'stand-by' ou que o seu sonho terminara ali, naquele momento.
Sentada no chão a um canto, uma jovem de Barcelos chorava convulsivamente. Quem a visse pensava que já fora excluída. Mas afinal não. Era apenas uma das participantes a quem o júri não soubera dar certezas e pedira para aguardar mais um pouco.
Rodeada por outras tantas candidatas, que a tentavam consolar, dizia baixinho: "Só queria poder ir embora, estou a precisar do colo do meu namorado." Enquanto isso, uma das colegas confortava-a: "Mas não está tudo acabado, ainda podes conseguir." Com dificuldade em falar, por lhe tremerem tanto os lábios com o choro, a jovem de 22 anos respondeu: "Já não estou preocupada. Acho que vou desistir."
Também vinda de Barcelos, uma outra candidata ficou em 'stand-by'. Com 20 anos, saíra da ‘passerelle’ cabisbaixa e triste. "O Manuel Serrão disse-me que se dependesse dele eu passava, porque gostou de mim. A Xana Guerra disse-me que só tinha um problema, a única coisa que me deixava em dúvida: as pernas. É que jogo futebol e tenho algumas marcas de pancadas sofridas", justificava, transmitindo com um brilhozinho nos olhos o que lhe fora dito pelo júri. "Paciência, vou ter que esperar", acrescentou.
Sem esperança nenhuma ficou uma jovem ‘barwoman’ de Oeiras, que depois de ser eliminada contava às restantes presentes, de lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto, as críticas dos jurados. "Disseram--me que tinha barriga e que estava gorda onde não devia estar. O único que não reprovou foi o Manuel Serrão. De resto, disseram-me que eu não era aquilo que procuravam porque a minha imagem fazia lembrar a das misses dos anos 60."
Sem conseguir conter os soluços, desabafava ainda: "As expectativas nunca foram muitas, tipo… As coisas que me disseram é que… me custou ouvir. Disseram que eu estava gorda." Finalista do Miss Portugal em 2001, certeza só tinha uma: "Mais concursos? Não, fico-me por aqui." Mais tarde, já calma, enquanto se dirigia para outra sala acompanhada de uma colega, comentava: "Agora quero é sair daqui e conduzir, adoro conduzir quando estou triste."
GORDA, EU!?
Com um "adeus e até à próxima" de Manuel Serrão uma candidata algarvia saiu abaladíssima da ‘passerelle’ onde desfilou em biquiíni para o júri. E uma vez chegada perto das colegas, atirou: "Não fiquei. E sinceramente não percebo porquê, não me acho gorda."
Natural de Portimão, a candidata de 19 anos sentia-se injustiçada. "Não concordo com o facto de me dizerem que estou gorda. Não sei porque me disseram isso, mas eu não estou gorda. Se eu sou gorda, então o que será uma gorda de verdade?! Acho isto tudo injusto", afirmava sem fazer pausas. Posto isto, revoltada, a algarvia vestiu o roupão e saiu da sala.
Menos indignada estava a candidata de Vila Real. Apesar dos cerca de 500 quilómetros que teve de percorrer até chegar a Lisboa, e depois de ser eliminada, consegue manter-se calma.
"Estou triste por não passar, mas antes agora do que continuar aqui até mais à frente e depois não passar na mesma. Quanto mais tarde pior", diz.
Estudante do primeiro ano de Biotecnologia, empregada de papelaria e bombeira, depois de eliminada, a sua maior preocupação era arranjar uma forma de dar a notícia à mãe.
"Ela é que vai ficar triste. Isto para mim não era um sonho. A minha mãe é que estava sempre a tentar convencer-me a concorrer. Paciência, vou ter que lhe telefonar a dizer."
Um telefonema doloroso, como o de tantas outras colegas, que naquele dia viram o sonho interrompido. Às derrotadas não restava senão fazer as malas e esperar que os elementos da organização lhe abrissem as portas. E enquanto esperavam, presas à sala, fitavam com olhar vazio as outras, as que passaram na prova de biquíni, e ainda tinham licença para sonhar.
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