Como se livra da ansiedade e do stress? Rói as unhas, morde o lábio, enrola o cabelo... Pois fique a saber que estes são os sinais do descontrolo. E depois dos tiques surge a depressão.
Não está a despender demasiadas energias no trabalho? Pois este é o princípio para que se torne (se ainda não for) um ’workaholic’. Mas, agora, não será isso uma fuga a qualquer outra coisa?
Há outros sinais, além do mergulho vertiginoso em tarefas, como o trabalho ou as lides da casa, para esconder estados emocionais, stress, ou ansiedade. É o caso de quem não consegue evitar roer as unhas ou trincar o lábio. E há quem se sinta melhor percorrendo as mãos pelo corpo (no cabelo e na cara), ou a tremer as pernas e as mãos.
São tiques nervosos. “Quando não se consegue lidar com a pressão associada ao stress, e tentamos apressar a vida, a fase de descontrolo assume estes tiques”, explica Ana Braz, psicóloga. “Quando as coisas começam a falhar, vem a depressão.”
Ainda antes, já muitas destas pessoas revelaram ter comportamentos desadequados perante os outros. Tornam-se arrogantes, rígidas, teimosas. Até a roçar o egoísmo. E são estes amigos que as questionam: “Não andas a trabalhar de mais? O que se passa contigo? Tu não andas bem...”
De acordo com Ana Braz, quando surgem estes sinais exteriores que indiciam que a pessoa não está bem emocionalmente ou nas suas relações pessoais é caso para abrandar o ritmo de trabalho, descansar e procurar um especialista. “Traçar pequenos objectivos para avançar para um outro patamar”, aconselha a psicóloga. “Lidar com o stress para não deprimir ou desorganizar no dia-a-dia.”
TIQUES REVELAM CONFLITUOS EMOCIONAIS
“Desde sempre que me recordo de roer as unhas”, conta Inês Martins. Hoje, com 23 anos, a estudante de Design Têxtil no Porto já está há dois meses livre do tique. “Os dez dedos das duas mãos não chegavam. Era compulsivo porque comia as unhas até ficar com os dedos em ferida.” Inês apercebia-se facilmente do gesto, só não se conseguia opor a ele. “É apenas um pormenor quando as pessoas nos dizem que é feio roer as unhas. Nós esquecemos depressa porque é um prazer, uma distracção.” Ou seja, acaba por ser um alívio à tensão acumulada.
Estima-se que 30 em cada 100 mil pessoas tenham um vício como este ou semelhante. “Talvez fosse um tique nervoso que passou a ser hábito”, analisa Inês Martins. “Quando estava nervosa, ansiosa [num momento crítico], punha as mãos à boca e roía as unhas.” Semelhantes ao exemplo da jovem estudante, são os tiques do corpo: oscilações dos membros, movimentos rotativos com a cabeça. No rosto, o piscar de olhos, franzir as sobrancelhas ou a testa, contracções de músculos. Tiques de voz como o falar aos berros, gaguejos, risos descontrolados. Além destes, bocejos, fungadelas, ou tosse. O rol de manifestações é extenso.
“Não sei explicar como passou: foi talvez por comentários que ouvi. Disse vou parar e parei!” Inês Martins acredita que a idade também a aconselhou a deixar de roer as unhas. “Por exemplo, se já tivesse 30 anos e alguém me visse, diria: rói as unhas como uma criança, é uma desmiolada.” Deste seu tique só resta um hábito. “O de esconder as mãos.” Acontece que a ansiedade persiste: “Acho que poderá haver uma relação entre os cigarros que agora fumo a mais, mas pode ser só do stress do dia-a-dia”, atesta.
Para os psicanalistas os tiques revelam conflitos emotivos ou perturbações de humor. “Muitas pessoas só os ganham devido à tensão, ao stress, e esta é uma forma de se controlar estes estados”, afirma a psicóloga Ana Braz. “A ansiedade tem a ver com problemas por resolver, ou seja, quando a pessoa tem algo planeado para fazer e não o consegue no imediato, deixa de controlar os seus movimentos como antes.” Embora haja vícios que se transmitem na família. A partir dos seis ou sete anos, as crianças tendem a assimilar rapidamente os gestos e as atitudes dos pais – que para eles são como heróis. O que os progenitores fazem, as crianças repetem até à exaustão. Acontece que esta é uma herança (boa ou má) que se prolonga até à fase adulta.
BOBONE RECOMENDA AUTO-ANÁLISE
Segundo Paula Bobone, a escritora com vários ‘best-sellers’ sobre etiqueta e vida social, “a base dos comportamentos sociais está na contenção das emoções pessoais.” Por exemplo: “Roer as unhas, dispensa-se. Já mexer no cabelo, algumas mulheres pensam que é ‘sexy’. Os barulhos corporais são uma coisa horrorosa, não civilizada. Gesticular em excesso é sinal de má educação. E os tiques de linguagem, tais como, ‘tá a ver’, ‘prontos’, ou ‘pá’, são de evitar.” Embora aqui se deva fazer uma distinção entre o que é um descontrolo emocional e o que é doentio ou patológico.
“Maria João Seixas [jornalista de televisão], por exemplo, às vezes gagueja, mas isso é uma imagem social dela. Ou o dr. Mário Soares, que quando aparecia na televisão mexia muito na cara ou coçava a cabeça” – exemplifica Paula Bobone. “Às vezes eu dou uma gargalhada nervosa.”
Em qualquer caso, “recomenda-se a auto-análise, para as pessoas verem o que podem corrigir na imagem.” Desde que se rodeiem de pessoas que as possam também ajudar. É que “todas as pessoas emitem sinais que permitem que outras tenham informações sobre a sua identidade.”
AMIGOS E RISOS AJUDAM
É uma regra básica mas que muitas vezes nos esquecemos – é preciso que cada pessoa aprenda a ter consciência dos seus limites. Para isso, nada melhor do que se rodear de outras pessoas.
Esquecer o isolamento. “Quanto mais a pessoa lidar com outras, menor é a probabilidade de de-senvolver tiques nervosos”, afirma convictamente a psicóloga Ana Braz. Isto porque haverá sempre alguém a indicar um destes sinais que indiciam que a pessoa não está bem emocionalmente.Mais. “Aumenta a resistência à frustração, porque se está mais propenso a ouvir as críticas”, acrescenta a especialista.
Dedicar tempo aos amigos e à família – se for preciso em grupos diferentes – é uma forma de descontrair. “Rir e divertir” são remédios, considera a psicóloga. A vida não tem que ser cinzenta. Há inúmeras maneiras de se conviver com as outras pessoas. E, neste sentido, o trabalho também é um bom local.
A quebra da rotina laboral e do excesso de formalismo, pode ser feita num almoço, por exemplo, onde se reúnam os colegas de trabalho e se fale dos mais diversos temas.
Os problemas da ansiedade, medos, stress, não se resolvem com o isolamento. Siga estes conselhos
e verá que pode melhorar o seu dia-a-dia.
TRABALHO Q.B.
Proponha-se a cumprir tarefas com pequenos objectivos e não se envolva em muitas ao mesmo tempo. Se falhar, assuma o seu erro. Isso permite-lhe ter consciência das suas atitudes e é uma forma de aprendizagem. Não se afunde no trabalho, reparta o tempo com os amigos e a família.
VIDA DAUDÁVEL
O princípio para se manter o equilíbrio corporal parte de hábitos saudáveis de vida. Cumpra horários para não desregular o relógio biológico: marque uma hora para se deitar/levantar e para as refeições. Não se esqueça que a alimentação deve ser regrada. Tire um dia por semana de descanso.
AJUDA PRECISA-SE
Resolver um tique nervoso, como o de roer as unhas, passando a fumar mais ou substituindo-o por outro, é uma nova forma de não resolver o problema. Pare para descansar e procure um especialista. A melhor ajuda é o contacto com as pessoas, sabendo ouvi-las.
REGRAS DA VIDA SOCIAL
A educação é um princípio para a vida em sociedade. Isto faz com que as pessoas não devam esconder as emoções para viver em sociedade. É preciso saber falar dos problemas e ouvir os conselhos daqueles em quem se confia. As regras de etiqueta não devem sobrepor-se às emoções.
OPINIÃO DA JORNALISTA DULCE GARCIA
Os tiques têm o seu quê de provinciano. A sério. Percebi isso quando me mudei para Lisboa, há mais ou menos 16 anos, e comecei a dizer bom dia antes de entrar no elevador do prédio onde trabalhava.
As reacções eram quase sempre a mesmas: silêncio, olhares de desprezo, grunhidos e pigarreares forçados. Ao princípio pensei que era impressão minha, a seguir achei que estava com azar e às tantas percebi que estava prestes a ser metida num colete de forças por fazer uma coisa que na minha terra era normal mas na cidade era um óbvio sinal de demência.
Habituei-me então a analisar discretamente as pessoas, antes de me deixar levar pelo tique provinciano. Reservei o bom dia para gente com pés de galinha e pequenas rugas ao canto da boca. Porquê? Pareceram-me ambos sinais de riso e de lágrimas, coisas de pessoas de carne e osso. Melhorou. Ainda tropecei nalguns falsos mudos, mas comecei a equilibrar as contas entre o dar e receber.
Percebi também que esse cumprimento que me foi ensinado como elementar regra de boa educação podia criar falsas expectativas em estranhos. Muitos rapazes olharam para mim com um ar maroto quando foram alvo dessa saudação inofensiva. Como se ela fosse, afinal, uma senha para me começarem a piscar o olho, a cravar cigarros ou até, nos casos mais aberrantes, a poderem convidar-me para sair.
Mas não foram os únicos. Lembro-me de dizer bom dia a velhinhos de ar composto e receber deles olhares de esguelha, franzires de sobrolho e abanares de cabeça, como se em vez de lhes ter desejado a felicidade lhes tivesse apontado uma faca ao pescoço. Desisti. Até aos 32, 33 anos, desisti de ser bem educada no que toca a saudações matinais.
Mas há dois anos, voltou-me o tique. Lá estou eu outra vez a dizer bom dia à porta do elevador, na esperança de ouvir uma resposta simpática ou, mais louco ainda, um sorriso bem disposto. Com uma diferença: já percebi que não sou eu que sou maluca. Há é muita gente mal educada.
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