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TOLKIEN: A FANTÁSTICA IRMANDADE

Homens que lutam por causas justas, seres bons que os ajudam e demónios que tentam corromper ambos. Eis o universo da saga, cujo último capítulo chega quarta-feira aos cinemas.

14 de dezembro de 2003 às 00:00

Numa toca no chão vivia um hobbit...

Assim surgiu a ideia para uma história que, em 1928, John Ronald Reuel Tolkien escreveu para os seus filhos, a qual com o título ‘O hobbit’ seria publicada em 1937.

Nascido há 111 anos, em 3 de Janeiro de 1892, professor em Oxford, estudioso das línguas e literaturas do Norte da Europa, fascinado pelas mitologias escandinavas, nas quais se inspirou em toda a sua obra, Tolkien não esperaria que o sucesso de ‘O Hobbit’ lhe exigisse uma continuação dessa história. Nos 14 anos seguintes vai trabalhar nos manuscritos do que viria a ser considerada a sua obra-

-prima ‘O Senhor dos Anéis’, que serão publicados em 1954-55, em três volumes:

‘A Irmandade do Anel’, ‘As Duas Torres’ e ‘O Regresso do Rei’.

Afastando-se do carácter infantil de ‘O Hobbit’, a trilogia dirigia-se a um público com maior maturidade, o qual aderiu com entusiasmo à construção fantástica de um universo mitológico complexo. Centrando a acção no mundo imaginário da Terra-

-Média, Tolkien desenvolve todo um universo com a sua geografia, raças, língua, poesia, escrita, fauna e flora, onde centenas de personagens interagem, numa representação épica da luta do Bem contra o Mal, personificado por Sauron, o Senhor dos Anéis.

A MITOLOGIA

A trilogia apresenta-nos um conjunto de histórias que explicam a criação do Mundo e a organização do Universo, ao mesmo tempo que revelam os aspectos fundamentais da natureza humana. Através do encadear de histórias, muitas delas simples lendas, são expressas as características culturais, o modo de vida, o sistema de crenças de uma determinada comunidade numa dada época.

Ainda que, geralmente, associemos as mitologias a sistemas de pensamento antigos ‘O Senhor dos Anéis’ é um excelente exemplo de uma mitologia moderna a qual só não se desenvolve mais porque as limitações impostas pelos direitos de autor impedem a continuação e desenvolvimento da intriga e personagens originais por novos autores.

Mesmo assim a inspiração da obra de Tolkien está patente em dezenas de obras literárias, das quais a mais conhecida actualmente é o ciclo ‘Harry Potter’. Em Portugal, Filipe Faria, jovem autor galardoado com o Prémio Branquinho da Fonseca em 2001, com o livro ‘A Manopla de Karasthan’, confessa-se um admirador de Tolkien. O universo fantástico de 'O Senhor dos Anéis' tem também uma influência notória no jogo ‘Dungeons & Dragons’.

O TEMPO

As histórias mitológicas que Tolkien nos apresenta decorrem num tempo próprio, que é diferente do tempo real da existência, apresentando descontinuidades, desde a época remota anterior ao aparecimento das divindades (Ainur) até à Quarta Era, a da ascensão dos Homens.

As várias Idades do Mundo apresentam, desta forma, uma duração não especificada, excepto quando Tolkien se refere ao Universo da Terra-Média: na Primeira Era, que tem uma duração de menos de 600 anos, dá-se o aparecimento dos Homens; sucede-

-lhe a Segunda Era, com 3441 anos, em que se dá a ascensão de Sauron, as primeiras guerras dos anéis e termina com a vitória da Aliança de Elfos e Homens sobre Sauron; a Terceira Era, a de ‘O Senhor dos Anéis’ dura 3021 anos, enquanto na Quarta Era, da qual só conhecemos os primeiros séculos, se dá a ascensão final dos Homens e o declínio dos Elfos.

A CRIAÇÃO DO MUNDO Nas obras de Tolkien, Eru – que os Elfos designam por ‘Iluvatar’ – é Deus, criador dos espíritos (Ainur) e de todo o Mundo (Arda), bem como do que nele existe. Originalmente o Mundo era plano e os continentes cercados por um oceano e separados pelo grande Mar. O mundo foi criado por Eru, com a ajuda dos Ainur, através da grande canção do início dos tempos, a Música de Ainur. Com o decorrer dos tempos e dos conflitos que se verificaram, novas terras e continentes foram surgindo e o Mundo tomou a forma esférica.

A TERRA MÉDIA

A Terra – Média, um território de ficção criado por Tolkien, onde se desenrola a acção de ‘O Senhor dos Anéis’, é um mundo completo onde vivem e se digladiam diferentes raças, cada um com as suas características físicas e culturais próprias, língua, hábitos, músicas. Tolkien inspirou-se na designação que, em inglês antigo, era dado ao espaço entre o Céu e a Terra: ‘Middangeard’, a qual, por sua vez, deriva do Midgard das mitologias nórdicas, o reino dos Humanos. A Terra-Média é o cenário onde se desenvolve o combate eterno entre o Bem e o Mal e é, talvez, o elemento chave para a popularidade da trilogia.

FEITICEIROS

Os feiticeiros, como Saruman e Gandalf, são seres imortais, com grandes poderes físicos e mentais. São chamados 'Os Sábios' pelos Elfos. No ano 1000 da Terceira Era vieram para a Terra-Média a fim de ajudarem os povos livres (Homens, Elfos, Anões e Hobbits) na luta contra Sauron, o Senhor das Trevas. Foram enviados pelos Valar, os mais importantes dos espíritos Ainur. Os feiticeiros pertencem também aos Ainur, mas a uma categoria menos poderosa, a dos Maiar (à qual pertence o próprio Sauron). Adoptam a forma humana para mais facilmente agirem na Terra-Média mas, mais do que isso, partilham dos sentimentos humanos.

ELFOS

Os Elfos, ou Primogénitos, foram os primeiros habitantes da Terra-

-Média capazes de falar. São as mais justas de todas as criaturas, amantes das artes, principalmente da música. Esbeltos e esguios são mais fortes do que os Homens e têm sentidos mais desenvolvidos. A sua afinidade com a natureza é vista pelos Homens como mágica, tal como a sua capacidade de reviver memórias e sonhos como se da vida real se tratasse. Foram os Elfos que, na Segunda Era, fabricaram os 19 Anéis do Poder mas, tendo-se apercebido que Sauron fizera às escondidas o Anel Um (ou Anel-Mestre), que controlava todos os outros, recusaram-se a usar os Três Anéis que possuíam, os quais permanecerão escondidos até à queda do Senhor das Trevas. Na Terceira Era, a sua importância no governo do Mundo vai diminuindo e muitos abandonam a Terra-

-Média. Elfos importantes: Legolas, Galadriel, Elrond, Glorfindel, Arwen.

ORCS

Os Orcs são uma raça de criaturas humanóides que actuam com o instrumento do Mal, ao serviço de Sauron e de Saruman. Curiosamente, descendem dos Elfos e foram criados pelo demónio Melkor (Morgoth) durante a Primeira Era, a partir de Elfos que se deixaram corromper. Existem três tipos de Orcs: os Orcs comuns que vivem na escuridão de cavernas e temem o sol; os Uruk-Hai, ou grandes Orcs, guerreiros que suportam a luz do sol e servem de tropa de elite de Sauron; e os Meio-Orcs, nascidos da mistura entre Homens e Orcs. 'Orc' é a palavra que em inglês antigo e nas línguas escandinavas designava demónio.

ENTS

Os Ents constituem a mais antiga raça da Terra-Média. São criaturas semelhantes a árvores mas que têm a capacidade de se deslocar. Vivem metidas consigo próprias excepto quando provocadas – o que acontece em 'As Duas Torres'. Representam as forças da natureza. O seu líder é Treebeard (Barba de Árvore), o mais antigo dos Ent.

TROLLS

Os Trolls apresentados por Tolkien são criaturas gigantescas, pouco dotadas de inteligência. Senhores de grande força, transformam-se em pedra quando expostos à luz do sol. Um dos seus prazeres consiste em devorar hobbits e anões. Aos normais Trolls das Colinas, das Cavernas, da Neve e das Montanhas, juntam-se os Olog-Hai que têm a capacidade de falar e de suportar a luz do Sol, também chamados Trolls Negros pelo seu couro escamoso e sangue preto. Tolkien inspirou-se nos trolls, criaturas sobrenaturais das tradições populares nórdica e inglesa e fê-los descender de Ents corrompidos por Sauron.

HOMENS

Os Homens foram os segundos seres falantes a nascer na Terra-Média, logo a seguir aos Elfos. Diferem destes por serem mortais e viverem as suas breves vidas com paixão. Sofrendo de doenças, tendo defeitos e fraquezas, entre as quais a ambição do poder. Aliam-se aos Elfos e aos Anões para combater Sauron. Os Homens mais famosos são Aragorn, Boromir e Faramir.

ANÕES

Os Anões da Terra-Média são seres de pequena estatura, criados por Aulë, o Ferreiro dos Valar, pelo que não são considerados filhos de Deus, como os Homens ou os Elfos. Aliás, mantém para com estes uma atitude de desconfiança permanente, o que não os impede, contudo de serem aliados, juntamente com Homens e Hobbits na luta contra Sauron. Os Sete Reis Anões, dos quais todos os Anões descendem, receberam dos Elfos os Sete Anéis do Poder, dos quais, mais tarde, três viriam a ser destruídos pelos Dragões e os outros quatro roubados por Sauron. Gimli é o mais famoso dos Anões.

HOBBITS

Com menos de um metro de altura e grandes pés peludos, levando uma vida pacata de agricultores, os hobbits vivem numa região da Terra-Média chamada ‘O Shire’. Tendo surgido na Primeira Era, são relacionados com os Homens, dos quais divergem não só no aspecto como também na ausência de ambição do poder. A felicidade, para os Hobbits, é poder levar uma vida simples. O Shire representa uma ilha de paz, de equilíbrio com a natureza que talvez explique a popularidade da obra de Tolkien nos anos sessenta do século passado.

Os Hobbits mais famosos são Bilbo Baggins, durante longos anos detentor do Anel Um; seu sobrinho Frodo Baggins que irá ser o portador do Anel; Sam Gamgee, fiel companheiro de Frodo durante toda a aventura; Merry e Pippin, os dois desajeitados companheiros de Frodo; Sméagol, conhecido por Gollum, que deteve o Anel Um durante centenas de anos, até este ir parar à posse de Bilbo Baggins.

ESPECTROS

Da larga família de entes fantasmagóricos que Tolkien nos apresenta destacam-se os Nazgül, também chamados ‘Fantasmas do Anel’. São nove antigos Reis dos Homens a quem foram dados os Nove Anéis do Poder e que, pela sua ambição, se tornaram escravos de Sauron. São das criaturas mais inquietantes da trilogia, não mais do que espíritos imortais, cujo corpo está reduzido a uma névoa, envoltos em grandes capas escuras e montando cavalos negros.

DEMÓNIOS

Do conjunto de demónios que aterrorizam a Terra-Média, os Balrogs, demónios com um chicote de fogo, são os mais inteligentes e temidos.

ANIMAIS FANTÁSTICOS

Tolkien inspirou-se nas lendas europeias para povoar a Terra-Média com algumas espécies de dragões, dos quais os mais importantes são Glaurung, Scatha, Smaug e Ancalagon. Aves, insectos e outros animais, de simples póneis a bestas imaginárias como os Olifantes ou os Wargs (misto de urso, lobo e hiena), completam a fauna da Terra-

-Média.

FLORA

Para além dos Ents e dos Huorns (árvores-espírito), flores, arbustos e árvores constituem a flora da Terra-Média. Embora com designações diferentes, identificam-se espécies como a faia, o vidoeiro, o salgueiro ou o azevinho.

LINGUAGEM

A criação de linguagens próprias, inventadas por Tolkien para as personagens da sua obra, é um dos aspectos mais importantes da trilogia.

Professor de Língua e Literatura Inglesa, desde muito novo que o fascínio de Tolkien pelas línguas, particularmente o grego, o latim e o finlandês, o tinha levado a inventar novas linguagens. ‘Sindarin’ e ‘Quénya’ são as linguagens mais desenvolvidas que Tolkien criou, como dialectos dos Elfos e que muito contribuem para tornar convincente a identidade própria destes seres fantásticos. Ao mesmo tempo, inspirado no antigo alfabeto rúnico dos povos germânicos, criou as escritas ‘Tengwar’ e ‘Cirth’ para as linguagens da Terra-Média.

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