Reynaldo Gianecchini venceu o cancro e isso mudou-lhe a vida. A história foi contada em livro, agora publicado em Portugal.
Talvez todas as vidas dessem uma novela. Mas nem todas, seguramente, seriam êxitos de audiências. Se a vida de Reynaldo Gianecchini – o ator brasileiro que venceu um cancro e que veio a Portugal apresentar a sua biografia – fosse uma novela, exagerava nas emoções, nos presentes do destino e nos enganos da sorte. Mas ninguém conseguiria certamente descolar os olhos do televisor.
O livro, escrito pelo jornalista Guilherme Fiuza após 50 horas de entrevista com o ator e outras tantas com amigos e familiares, dá pelo título de ‘Giane’ (edição portuguesa da Marcador). O diminutivo, que era só para os amigos, agora é um pouco de todos. Justifica-se porque o apoio incondicional dos "outros foi determinante para a recuperação". Portugueses incluídos, por causa da imagem de Nossa Senhora de Fátima que lhe enviaram numa carta.
Mas ‘Giane’ é muito mais do que um relato sobre dias vividos no hospital, às voltas com resultados inconclusivos de exames, antibióticos, tentativas falhadas e outras tantas bem-sucedidas.
Antes pelo contrário. Chega a ser divertido. E, sobretudo, revela como é que uma criança oriunda da classe média dos arredores de São Paulo cresce para ser o bonitão que arranca suspiros na televisão e se transforma no homem que venceu a mais dura das batalhas, travada contra a morte. Saiu vencedor. E ainda diz que a vicissitude lhe deu a mais preciosa das oportunidades: "Transformar a vida."
"Hoje em dia, tenho um olhar muito diferente sobre as pessoas, sobre a vida, um olhar mais atento ao ser humano. A gente vive nessa vida louca e corrida, mas hoje em dia eu faço questão de parar e olhar de verdade para as coisas e para as pessoas", justifica Gianecchini .
Na sua recente visita a Portugal, esteve sempre rodeado de gente, entrevistas e holofotes. Enquanto esteve no hospital, não foi muito diferente. Desde que a notícia da sua doença chegou à comunicação social, a sua prolongada estadia no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo foi tudo menos normal. Mas por várias razões, que vão muito além do sorrisinho nervoso das enfermeiras, de Gianecchini a atravessar o corredor careca, de roupão, para ir treinar ao ginásio do hospital; dos colegas atores a entrarem e saírem por uma porta escondida.
O que fez a diferença não foi o ‘circo’, mas o próprio Gianecchini, que é um caso raro em todos os sentidos. Acima de tudo, o diagnóstico terrível: linfoma angioimunoblástico – inicialmente diagnosticado como uma hérnia inguinal, depois como uma infeção e, finalmente, a pior das notícias: cancro. Raro também porque, durante o tratamento, o ator fintou duas vezes a morte: uma infeção e uma paragem cardiorrespiratória. Se a doença era incomum, o caráter da pessoa que a desafiava com um sorriso nos lábios não lhe ficava atrás.
PRESSA NO FUTURO
Reynaldo Cisotto Gianecchini Júnior nasceu a 12 de novembro de 1972 em Birigui, no Interior de São Paulo, sendo o mais novo de três irmãos. A mãe era delegada de educação, o pai basquetebolista profissional. Detestava futebol, adorava ver televisão no quarto dos pais.
Aos 7 anos, vaticinara o destino: passar a vida a viajar, a correr o Mundo. Com que profissão era coisa que ficaria para decidir depois. Antes disso, já declarara à mãe, Heloísa, que ia ganhar uma bicicleta num concurso de desenho para oferecer à irmã, e assim mesmo aconteceu. Havia nele uma "pressa de crescer e uma capacidade de predizer o futuro" que impressionava a progenitora. Talvez por isso, ela acreditou, quando, no início do internamento no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, ele lhe declarou que não podia ser cancro: "Eu sou saudável, alegre, de bem com a vida. Não pode ser cancro, mãe."
Mas as coisas más também acontecem às pessoas boas. Talvez por isso, o livro ‘Giane’, como o seu protagonista, já é encarado como uma inspiração. "Não o fiz para servir de modelo para ninguém, para dar o exemplo, mas se servir de inspiração para alguém também não me importo. Fico feliz com isso", declarou numa conferência de imprensa em Lisboa.
A FAMA
O tal mundo de viagens chegou aos 17 anos, quando se tornou modelo da alta roda internacional, depois de uma sessão de fotos com Mario Testino. Gianecchini estava decidido a nunca mais voltar ao Brasil, mas numa reviravolta do acaso perdeu um trabalho importante, sendo desclassificado da última etapa de uma seleção mundial, ao mesmo tempo que era conquistado por uma paixão brasileira.
O duplo choque levou-o de volta ao seu país e, quando chegou, Manoel Carlos, um dos mais conhecidos autores de telenovelas da Globo, cismou que ele haveria de ser o protagonista da sua próxima criação, em horário nobre. Até parecia coisa de novela. Tratava-se de ‘Laços de Família’, um dos maiores sucessos de sempre no Brasil e também em Portugal.
Ironicamente, nesta trama, Carolina Dieckmann enfrentou um cancro, que obrigou a atriz a rapar o cabelo. As suas madeixas louras foram cortadas em direto para as câmaras e Reynaldo Gianecchini, atrás do plateau, chorou lágrimas sentidas durante a filmagem.
Mas foi também esta série que o colocou debaixo dos holofotes da fama. Estreou-se na televisão com a tarefa de garantir a audiência, na ‘master piece’ da emissora. Foi criticado, idolatrado, fuzilado – tudo ao mesmo tempo, como só os grandes são. Ficou obstinado por contrariar todos os que teimavam em fazer-lhe o funeral artístico precoce.
Pouco depois, a relação com a apresentadora Marília Gabriela, 26 anos mais velha, com quem foi casado entre 1998 e 2006, foi outro alvo de críticas e desconfiança. A seguir veio o cancro. Ou, como diria a colega e amiga Cláudia Raia, "currículo a mais".
Agora, porém, a doença tornou-o um herói, sobretudo para aqueles que lidam com a mesma doença ou com a de familiares. Além disso, o cancro não só transformou a vida de Giane, como promete mudar a de muitas crianças e adolescentes no Brasil, já que a totalidade dos lucros da venda da obra será para a edificação de uma instituição solidária que terá o nome do seu pai: professor Reynaldo Gianecchini, que a mesma doença matou aos 72 anos.
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