No país estão à venda palácios que chegaram ao séc. XXI para serem vendidos por milhões
As paredes do Palácio do Mitelo contam histórias que valem quatro milhões e 200 mil euros. Este é o preço pedido pelo imóvel no Campo Mártires da Pátria, em Lisboa, com três mil metros quadrados e construído na 1ª metade do séc. XVII; um dos muitos espaços majestosos à venda em Portugal.
Do edifício que recebeu nobres e burgueses, os livros de História contam que "no séc. XVII, quando a zona era conhecida como o Curral" - pelo número de ovelhas que ali pastavam - era habitado por D. Guiomar Nunes Coronel, passou em 1672 para as mãos de um marchante da Casa Real e recebeu melhoramentos em 1737, ao ser comprado pelo desembargador Alexandre Metelo de Sousa e Meneses, homem próximo de D. João V, cujo apelido por corruptela deu lugar ao Mitelo, "pelo qual é conhecido o palácio e o largo fronteiro", frente ao Paço da Rainha.
À época do terramoto de 1755, o palácio pertencia a Laureano da Câmara Coutinho; em 1865 foi última morada do conde de Vimioso e mais tarde da marquesa de Pomares. Em 1925 foi comprado por uma senhora abastada que deixou a casa às sobrinhas.
É com gosto indisfarçável que o engenheiro Norton de Matos, um dos habitantes do palácio, abre as portas da construção seiscentista. Nas mais de 50 assoalhadas há ombreiras semelhantes às do Palácio de Mafra, tectos em masseira e painéis de azulejos. O palácio inclui dois amplos apartamentos reservados à família, capela - onde todos os anos, pelo Natal, o único filho homem, padre jesuíta, celebra missa aberta ao público -, um pátio tido como dos mais antigos da cidade, salão de baile e um enorme espaço, que ainda guarda quadros, cadeiras e sebentas das alunas do Instituto de Serviço Social, que ali funcionou de 1941 a 2005.
"Neste momento, o palácio é da minha mulher e da irmã, mas os herdeiros serão seis raparigas, três de cada lado, casadas e com vida noutros locais. Para evitar conflitos, inevitáveis se pensarmos que 12 adultos terão de resolver a herança, optámos por vender agora", explica Norton de Matos.
O momento é oportuno, já que a procura por imóveis nobres tem aumentado, explica Teresa Serrano, da Remax Collection, que negoceia este e outros palácios. "São adquiridos por portugueses que estão no estrangeiro e pretendem investir no país de origem ou por estrangeiros", do centro da Europa e Rússia. Empresários e construtores, "que compram para reconverter em apartamentos de luxo e hotéis de charme", são os investidores do momento e "oferecem logo 80 a 90% do valor à cabeça", adianta André Azevedo, da mesma imobiliária, que aposta no segmento que está em fase ascendente. "Recentemente, começam a aparecer famílias. Vendi um palácio a uma senhora que pretende juntar no mesmo espaço filhos e netos, mas é raro. A maioria quer rentabilizar o investimento."
Apesar de por palácio se entender a casa de nobres ou de chefes de Estado, o dinheiro da burguesia fez nascer, a partir do séc. XVII, verdadeiras jóias da arquitectura.
No bairro da Graça, o palacete que acolheu a embaixada alemã na I Guerra Mundial, recebendo espiões e várias filmagens, está à venda. "O preço é de 1 650 000 euros, negociáveis. Os herdeiros, pai e filho, da família que o habita desde os anos 1930 pretendem vender e o mais certo é vir a ser adquirido para hotel de charme", nota o agente imobiliário António Pedro.
Em Sintra, um palacete Art Déco, cuja fachada ostenta um florão - obrigatório a todas as casas da rua - está no mercado por 860 mil euros. Na vila, a Quinta da Princesa, que D. Fernando II mandou construir para a amante, pode ser adquirida por cinco milhões de euros.
A história da Junqueira
Manoel Caroça enriqueceu como dentista em Lisboa - vindo de uma aldeia da Guarda e tendo estudado na Suíça. Em 1918 quis uma vinha. E comprou parte da herança dos condes da Junqueira. A Quinta da Alorna, em Almeirim, era a propriedade que queria. Mas com ela fez a escritura de um terreno na capital, na rua da Junqueira - desconhecendo do que se tratava. Numa bela tarde, passeando na Junqueira com o irmão, percorreram o gradeamento do número 138, delimitado por dois torreões com uma águia de pedra sobrepujada. Para lá dos jardins elevava-se o palácio que Manoel comprara - tinha o nome de Quinta das Águias, mandada construir por Manuel Lopes Bicudo e adquirida em 1731 por D. Diogo de Mendonça Corte-Real, secretário de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos do rei D. José I .
O palácio ficou para a filha de Manoel viver com o marido, o professor Lopo de Carvalho, fisiologista. Foi lá que a escritora Maria João Lopo de Carvalho passou a infância. "Era a casa da minha avó e, na parte de trás, depois da horta, ficava a casa do meu pai - que hoje está arrendada, sendo a residência oficial do embaixador do Reino Unido." O palácio impunha-se. Dois andares de fachada. "Por baixo tinha a casa da lenha, onde nós, as crianças, nos escondíamos."
Hoje está desabitado. Quatro pisos, com 24 quartos e dez casas de banho. Quando faleceu, em 1994, a avó da escritora, a propriedade foi vendida a Ricardo Oliveira, um dos accionistas do BPN - constituído arguido no âmbito da investigação à instituição bancária - e está à venda por 17,5 milhões de euros, pela Sotheby's.
Vende-se castelo
No concelho de Ponte de Lima está um castelo à venda. Tem o nome de Paço do Curutelo. Na verdade, é uma casa-fortaleza. A construção da torre poderá ser anterior à fundação de Portugal - mandada construir por um fidalgo asturiano da linhagem dos Godos, por volta do ano 800. À torre adicionou-se na época medieval uma construção em granito, que corresponde à zona residencial. Já no século XVI foi edificada uma capela, junto dela ergue-se um dos oito marcos da Casa de Bragança. Conta Manuel Assunção, sócio-gerente da Solares Ibéricos, que castelo de dois milhões e 245 mil euros "está já em fase de venda a espanhóis, que estão interessados principalmente na vinha".
Perto de Coimbra, no Luso, a mediadora imobiliária PortugalRur tem à venda - por três milhões de euros - a Quinta da Torre do Viso, com um palacete de 1894 situado no meio de um valioso parque botânico, muito "frequentado pelo rei D. Carlos e pela rainha D. Amélia, amigos da família" - explica Francisco Grácio, da PortugalRur.
Não foi este o caso, mas há imobiliárias que falam de estrangeiros a comprar palacetes pagando com malas de dinheiro.
No entanto, nem só os particulares vendem património com História. A Estamo, responsável pelas vendas de imóveis do Estado, publicita dois palacetes, na Lapa e na Junqueira. Este, conhecido como Palácio Pessanha, do séc. XIX, tem 4240 m2, amplo jardim e base de licitação de 5 500 000 euros. De fisionomia oitocentista, o palácio foi encomenda de D. João da Silva Pessanha, passou para a condessa de Porto Brandão e para o marquês de Valada, que ali deu festas opulentas.
À Estamo as propostas deverão ser entregues em carta fechada. "O valor global das vendas efectuadas em 2011", de imóveis antigos e outros, "foi de cerca de 70 milhões de euros", frisa.
A Câmara de Lisboa colocou à venda, em 2008, seis edifícios históricos destinados ao mercado dos hotéis de luxo, cujo valor-base de licitação totalizava 12,723 milhões de euros. O Palácio Braamcamp (Príncipe Real) foi o único vendido em 2009, por 2,4 milhões de euros, num negócio adjudicado ao grupo 3K Hotéis. Para trás fica a história do espaço que foi da família do político Anselmo José Braamcamp, morada de Fontes Pereira de Melo e local da École Française de Lisbonne. Em 1945 foi adquirido pela Câmara.
Da lista constam ainda o Palácio Visconde do Rio Seco, no Bairro Alto, cujo valor de licitação era, em 2008, de 424 mil euros; o Palácio Pancas Palha, em Santa Apolónia (4,083 milhões); o Edifício Passo da Procissão do Senhor dos Passos da Graça, Castelo, (1,554); o Palácio Benagazil, nos Olivais, por 1,405 milhões de euros; e o Palácio Machadinho, antiga propriedade de José Pinto Machado, fidalgo da Casa Real, na Madragoa (3,373 milhões). Todos eles imóveis com História.
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