Tu não sabes nada, Jon Snow

Os livros vão muito além do que se pode adaptar para o ecrã.

05 de maio de 2019 às 09:00
Livros xxx Foto: Direitos Reservados
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O segundo volume tem 444 páginas. O primeiro, 396. Ou seja, 840 de aventuras, medo, assassínios, violações, guerra, traições, discursos sobre a honra, feitiçaria, inimizades, lealdade, desilusões, ambição, ódio, inteligência superlativa, crueldade, conspiração, mentira, adivinhação e morte, perigo, tensão, vergonha, coragem, abnegação, sombras, maldade, caçadas, condenações, fantasias, conquistas, sexo, viagens, sobrenatural, diálogos inacessíveis, descrições épicas, febres mortais – e gloriosos anacronismos que seriam mortais noutro qualquer género narrativo, e que a televisão transformou num dos seus maiores trunfos.

Para quem vê ‘A Guerra dos Tronos’, se uma das personagens que interpreta as aventuras de dinastias inteiras de monstros e beldades metesse a mão no bolso para exibir um telemóvel, não seria escandaloso. O mérito pertence, em muito, a George R.R. Martin, o homenzinho atarracado, barbudo e de boné que escreveu os dois tomos de ‘As Crónicas de Gelo e Fogo’ – primeiro volume, ‘A Guerra dos Tronos’, segundo volume, ‘A Muralha de Gelo’.

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Quem procurar nesses dois livros a reposição – por escrito – do material televisivo das sete (agora oito) temporadas televisivas de ‘A Guerra dos Tronos’, vai ao engano: nem George R.R. Martin é um anjinho nem a história dos seus livros pode ser alguma vez adaptada fielmente. Mantê-lo no elenco de produção e escrita da série televisiva é um bom achado, mas os livros vão muito além do que se pode adaptar para o ecrã.

A meio da leitura apetece enumerar aqui um bom número de cenas que poderiam ter sido encenadas para televisão – há dez ou vinte diálogos que poderiam entrar para além das tiradas que nos lembram "you know nothing, Jon Snow" ou "the winter is coming".

E há cinco ou seis personagens de mérito que ‘entram’ nos livros e não têm lugar na série televisiva, sob o risco de a ter transformado numa confusão de elenco, cenários e estratos temporais. Portanto, o remédio é imaginar o que ‘A Guerra dos Tronos’ – uma longa saga sobre poder, guerra, imaginação e crueldade – poderia ainda arrancar das páginas destes livros.

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