Em 1975, Muhammad Ali e George Foreman defrontaram-se no ringue. Mas era muito mais do que boxe
As quase 1500 páginas de ‘O Fantasma de Harlot’ (1991) podem ser uma espécie de resumo da grande arte narrativa de Norman Mailer – é uma história romanesca tanto quanto cruel, da CIA. Só um grande romancista podia fazê-lo: colocar-se no lugar do outro, passar totalmente para o outro lado, escolher os pontos de contacto entre inimigos e amantes (porque é disso que se trata, amor e morte, sexo e política, abnegação e aventura).
Mailer tem uma obsessão: a história da América. É assim desde ‘Os Nus e os Mortos’ (1948) até ‘Os Duros Não Dançam’ (1984) ou ‘O Fantasma de Hitler’ (2007, o seu derradeiro livro, publicado no ano da sua morte) – mas também nos seus livros -reportagens ou biografias (como a de Marilyn, de Picasso ou a de Lee Harvey Oswald, o assassino de Kennedy, que ele trata com rigor conspirativo em ‘Oswald’s Tale. An American Mistery’, 1995).
Uma das suas paixões declaradas é o boxe. Há dois textos magníficos de Mailer, um na ‘Esquire’, outro no ‘Village Voice’ (jornal que ajudou a fundar em 1955) – mas nada chega ao ritmo alucinante, à transfiguração e à atenção ao pormenor de ‘O Combate’ (1975), o relato do confronto entre Muhammad Ali e George Foreman que ditaria o campeão mundial de pesos-pesados desse ano; tudo teve lugar em Kinshasa, no antigo Zaire – mas Mailer sabia que não era apenas um combate pelo título; havia dois exércitos atrás de cada um dos pugilistas, e não eram compostos de homens, mas de estilos diferentes, palavras e temperamentos diferentes. Mailer também sabia que as questões raciais e a violência americanas estavam no ringue nessa noite, e que o vencedor seria não apenas o mais inteligente ou astucioso, mas também o mais capaz de simbolizar a negritude americana e os seus traumas e aspirações.
‘O Combate’ não é um romance; é uma reportagem; é esse ringue. E Muhammad Ali é o desafiador tagarela, o artista que transforma a tela num céu de relâmpagos; Foreman, o calculista que confia na sua força tranquila. Mailer tinha a consciência de que aquele combate seria histórico e o vencedor não vestiria apenas o cinto de campeão – mas também o de vingador, mestre e exemplo. Que livro, que livro.
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