Governo 'martela' contas do BPN

Executivo mandou esconder 157 milhões de prejuízo.

29 de setembro de 2015 às 09:55
maria luís albuquerque Foto: Inácio Rosa/Lusa
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O Governo terá mandado alterar as contas da Parvalorem para que os prejuízos fossem menores do que aquilo que eram na realidade, baixando em 157 milhões de euros, revela esta terça-feira a Antena 1.

Numa investigação, a rádio estatal avança que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, enquanto secretária de Estado do Tesouro, pediu para a administração da Parvalorem, empresa pública que ficou a gerir os ativos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN), que mexesse nas contas de forma a que estas revelassem um cenário de perdas mais otimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.

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Revela a investigação da Antena 1 que quando Maria Luís Albuquerque soube, em fevereiro de 2013, que as contas da Parvalorem apresentavam perdas de 577 milhões de euros com créditos em riscos de incumprimento, o que iria engordar o défice orçamental, fez o pedido à administração da empresa pública.

Redução para 420 milhões

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Tal pedido é admitido à Antena 1 pela administradora da Parvalorem Paula Poças, recordando a pergunta da então secretária de Estado: "Qual é melhor expetativa quanto à informação que tínhamos às garantias no momento. Nós considerámos que não fazia sentido estar a agravar no momento as imparidades."

No entanto, e de acordo com declarações à Antena 1 de uma fonte que refez o relatório da Parvalorem, a empresa pública fez uma operação contabilística para baixar os prejuízos em 157 milhões de euros, sendo o impacto adiado para exercícios futuros.

Para responder positivamente a Maria Luís Albuquerque, a administração da Parvalorem mudou as contas já auditadas, entregando-as três dias depois após o pedido, adianta a Antena 1.

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"Foi uma martelada que demos nas contas"

"Foi uma martelada que demos nas contas, eu nem questionei, as ordens vinham de cima, para recalcular as imparidades de forma a baixar o valor, atuámos dentro da margem que tínhamos", revela à Antena 1 uma das fontes que refez o relatório.

Segundo um documento enviado à tutela, a Parvalorem anuncia: "Após o trabalho cirúrgico conseguimos reduzir o valor das imparidades de 577 milhões de euros para 420 milhões de euros."

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De acordo com a investigação, no mesmo dia, a empresa recebeu um agradecimento de Maria Luís Albuquerque, referindo que queria uma redução ainda superior, mas a admitir que talvez "não fosse possível melhor". Na sua peça, a Antena 1 diz que pediu segundo-feira esclarecimentos à ministra das Finanças sobre esta questão, mas ainda não recebem resposta.

Governo rejeita manipulação de contas

O Governo rejeitou hoje "qualquer manipulação ou ocultação de contas" da Parvalorem.

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O Ministério das Finanças explicou hoje num comunicado que "o registo contabilístico de imparidades é função de estimativas de perdas futuras em créditos existentes", acrescentando que "as imparidades são avaliadas e validadas pelos auditores das empresas de acordo com os critérios definidos para o efeito e adequadamente refletidas nas contas".

Parvalorem recusa manipulação

O Conselho de Administração da Parvalorem, empresa gestora dos ativos tóxicos do ex-BPN, recusou hoje a manipulação de contas, realçando que o fecho de 2012 "não foi mais do que um normal exercício". O Conselho de Administração da Parvalorem diz, no comunicado, sentir-se "gravemente lesado na sua honra e dignidade profissional, já que mais não ocorreram do que procedimentos normais em qualquer empresa com este perfil e objeto social".

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