Regulamentação do setor ainda é escassa, o que implica mais riscos para as aplicações nesses ativos.
Os criptoativos estão a atrair cada vez mais o interesse de investidores institucionais, apesar de ainda ser escassa a regulamentação do setor, o que implica mais riscos para as aplicações nesses ativos, segundo analistas à Lusa.
Apesar da volatilidade dos preços e da regulamentação ser pouca, há cada vez mais interesse nos criptoativos seja por investidores particulares seja pelos chamados investidores institucionais (bancos, sociedades que gerem fundos de investimento, entre outros).
De acordo com o analista da XTB Henrique Tomé, são cada vez mais as instituições financeiras (bancos de investimento sobretudo) a ponderar fornecer este tipo de ativos aos seus clientes, carteiras de investimento com uma pequena parte alocada a criptoativos e já há ETFs (fundos que replicam o desempenhos dos ativos a que estão indexados) ligados a criptoativos aprovados por reguladores.
Segundo o analista, o interesse institucional nos criptoativos somado ao facto de grandes países admitirem legalizar e regular as criptomoedas, como a Rússia (em fevereiro, Governo e Banco Central decidiram preparar uma proposta de lei para regular o uso do Bitcoin, que poderá ser reconhecido como "análogo a divisa"), têm contribuído para o interesse nos criptoativos.
Contudo, Henrique Tomé disse que ainda não compreende "até que ponto o Bitcoin tem tido papel de reserva de valor" (reserva de valor é um ativo que serve como uma proteção contra as variações do mercado, sendo o ouro a mais conhecida) e considerou que como ativo financeiro está "ainda em fase de aceitação" e que dependerá da sua utilidade.
Já para o presidente da Criptoloja (corretora de criptomoedas), Pedro Borges, o Bitcoin "já mostrou ser uma reserva de valor fortíssima". Para o gestor, o comportamento do Bitcoin mostra que "não é só reserva de valor para inflação", mas também "é reserva de valor para tempos conturbados".
A Criptoloja é uma corretora registada no Banco de Portugal que troca euros por criptomoedas e criptomoedas por euros. Obteve a licença em junho de 2021 e, segundo Pedro Borges, desde então já captou dois milhões de euros e tem 3.000 utilizadores.
"O crescimento está sempre muito ligado ao preço da Bitcoin. É um mercado muito procurado pelas gerações mais novas, que não se viam na corretagem 'online' de ações, pessoas de 18 e 19 anos, mas também há pessoas de 30 e 40 anos e até com mais idade", afirmou.
Esta segunda-feira pelas 16:00 (hora de Lisboa) a Bitcoin desvalorizava para 38,32 mil dólares (33,8 mil euros, à taxa de câmbio atual), menos 45% face ao seu máximo histórico de quase 69 mil dólares, em novembro de 2021.
Para Mário Martins, administrador da ActivTrades, a "loucura de 2020 e 2021" no mercado de criptomoedas deverá ter terminado, já que se devia ao excesso de liquidez proporcionado pela ação dos bancos centrais (sobretudo a Reserva Federal norte-americana, a Fed).
"O comportamento do Bitcoin, assim como da generalidade das criptomoedas, está diretamente correlacionado com a disponibilidade de liquidez no mercado, mais do que qualquer outro fundamento. Logo, a perspetiva de uma redução da liquidez - não apenas porque a Fed deixará de injetar massa monetária já em março, mas deverá mesmo começar a diminuir o seu balanço no terceiro trimestre - leva a uma redução do apetite pelas criptomoedas, o que deverá condicionar o segmento no médio a longo prazo, o que não quer dizer que algumas criptomoedas não tenham um futuro risonho", afirmou à Lusa.
Sobre se o Bitcoin já poder ser hoje uma reserva de valor, Mário Martins recusa perentoriamente: "Não tem qualquer tipo de valor intrínseco que não seja dentro do binómio procura/oferta momentâneo, ruído e interesses [dos detentores desse ativo]. Não tem um racional para ser considerada um ativo com valor fundamental, mas apenas especulativo", diz.
A indústria e o mercado de criptoativos está em crescendo (com mais investidores a entrarem, seja porque acreditam no futuro destes ativos ou para fazer dinheiro rápido), mas este ainda é um tema muito controverso.
A China decretou no ano passado as transações com criptomoedas ilegais.
Na União Europeia e nos Estados Unidos os reguladores avisam os investidores de que há riscos nesses investimentos, mas - mais de 13 anos depois da publicação do protocolo de uma moeda digital que não estaria vinculada a nenhuma autoridade legal ou soberana (Bitcoin) e do desenvolvimento do setor dos criptoativos - a regulamentação ainda escasseia, o que deixa investidores mais vulneráveis a abusos, manipulações e fraudes.
Em Portugal, a única regulação que há sobre criptoativos cabe ao Banco de Portugal e é a autorização e supervisão de entidades que exercem serviços de troca, transferência ou guarda de ativos virtuais (como Bitcoin).
Esta segunda-feira, o presidente da CMVM considerou importante que haja regulamentação sobre criptoativos em Portugal, mas que para já se espera pelo regime europeu MiCA (Markets in Crypto-Assets) para regular os criptoativos enquanto valores mobiliários, o que pode tardar um ano ou mais.
Assim, admitiu, para já o que a CMVM pode fazer é alertar os investidores para os riscos: "Alertamos quem investe nestas áreas que tenha consciência dos riscos que está a correr. Tudo o que seja para além disso necessitamos de regulação específica em termos europeus e nacionais", afirmou Gabriel Bernardino.
Segundo o presidente da CMVM, sendo esta uma área não regulada há mais riscos para os investidores, em termos de "mecanismos de evolução dos preços, de poder haver manipulação e de possíveis esquemas de fraudes".
Já os defensores dizem que os criptoativos trazem transparência e justiça aos sistemas financeiros e de gestão digital, que permitem que as transações não precisem de intermediários e consideram que as estruturas de poder tradicionais estão é preocupadas por as 'blockchains' e as suas criptomoedas serem sistemas alternativos de troca de valor. Dizem que há mesmo uma competição pela hegemonia monetária.
Bancos centrais já estão a criar protótipos de moedas digitais próprias. O Banco Central Europeu está a estudar o lançamento do Euro Digital e a Fed avalia o Dólar Digital.
Em outubro passado, num relatório sobre o tema, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse ver vantagens nos criptoativos e na chamada finança descentralizada, desde logo a facilitação das transações financeiras internacionais (mais rápidas e baratas), defendeu padrões de regulação global para mitigar riscos de criarem instabilidade financeira.
Ações fortes como banir estes ativos não são eficazes, considera o FMI, porque continuarão a ser transacionados em meios alternativos.
No tema das criptomoedas há ainda a preocupante questão da sua 'mineração' pelo enorme consumo de eletricidade que exige.
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