Teixeira dos Santos antecipa que as pressões inflacionistas deverão obrigar a algum ajustamento da política monetária.
O ex-ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos alertou este sábado que o ambiente de baixas taxas de juro não se irá manter por muito tempo, defendendo "prudência" no endividamento da economia.
"É importante que tenhamos solidez financeira no país e estabilidade financeira, porque os juros acumulam à dívida. As perspetivas que temos para o futuro é de que este ambiente de taxas de juro baixas não vai manter-se durante muito tempo", disse em entrevista à Lusa, a propósito do lançamento do novo livro "Mudam-se os tempos, mantêm-se os desafios", da Bertrand Editora.
Teixeira dos Santos antecipa que as pressões inflacionistas deverão obrigar a algum ajustamento da política monetária, o que levará a "alguns" aumentos das taxas de juro.
Ainda que acredite que o Banco Central Europeu (BCE) irá ser prudente na transição, para evitar grandes perturbações, assinala ser "expectável que a prazo" o "aumento das taxas de juro vai ocorrer".
"Temos também que pensar que as taxas de juro se têm mantido a nível baixo e, em particular, no domínio da dívida pública, porque o BCE tem vindo a intervir de forma muito significativa nos mercados da dívida pública. E não vai continuar indefinidamente com esta política", disse.
Descartando que o BCE avance com uma subida das taxas de juro já este ano, antecipa que o banco central poderá começar a sinalizar e a preparar as expectativas dos agentes económicos para o ajustamento.
"A não ser que alguma coisa inesperada ocorra ao nível dos mercados financeiros internacionais ou da economia que force alguma mudança brusca da política, não é expectável neste momento e, portanto, podemos esperar que o BCE seja muito prudente neste domínio", defendeu.
Para o antigo ministro de Estado e das Finanças do governo socialista, face, contudo, à expectativa da futura alteração na política monetária do BCE, é preciso ser "mais prudentes principalmente no endividamento".
"O Estado não se pode endividar mais e o setor privado também tem que ser prudente", frisou, justificando que o setor privado "será porventura aquele que mais depressa poderá vir a sentir os efeitos negativos desta mudança".
Teixeira dos Santos recorda que a dívida pública é contratada a médio longo prazo e durante algum tempo os encargos da dívida pública poderão manter-se relativamente baixos, mas no setor privado as famílias e as empresas têm taxas de juro variáveis.
"Havendo um aumento das taxas de curto prazo, as Euribor, por exemplo, isso repercute-se mais rapidamente no setor privado e os encargos financeiros do setor privado tenderão a aumentar mais depressa. Será este a sofrer primeiro o impacto do ajustamento da política monetária", sublinhou.
Desta forma, "temos que ter muita prudência em tudo o que tem a ver com o endividamento da economia", afirmou Teixeira dos Santos.
Quando questionado sobre se o aumento da inflação é um fenómeno temporário, conforme afirmado pela instituição liderada por Christine Lagarde, o antigo ministro aludiu ao impacto da pandemia nas cadeias de produção e aos estrangulamentos na oferta em mercados de matérias-primas e de produtos intermédios.
"Nesse sentido, isto tem um caráter transitório e estou de acordo com a leitura que o BCE faz de haver aqui uma componente transitória muito importante", afirmou. No entanto, ressalvou que as adaptações tecnológicas e climáticas poderão vir também a refletir-se na inflação e poder vir a "ter um caráter mais permanente".
Apesar de sublinhar que tal ainda não "está muito presente na inflação atual", acredita "que vai condicionar a evolução dos preços a prazo".
"Vamos ter que enveredar por um novo paradigma tecnológico associado às questões energéticas e à proteção do ambiente e da descarbonização, que vai ter um custo para a sociedade. Vai refletir-se nos preços dos bens e serviços e consequentemente vai levar a uma subida de preços", exemplificou.
Fernando Teixeira dos Santos foi ministro de Estado e das Finanças, entre 2005 e 2011, tendo sido o responsável pelo pedido de ajuda externa de Portugal aquando da crise económica e financeira. Entre diversos cargos, entre 2000 e 2005, foi também presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), tendo sido entre 2016 e 2020 presidente da Comissão Executiva do Eurobic.
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