Subida da inflação será apenas temporária, uma ideia que tem vindo a ser repetida pelo presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Jerome Powell.
Os Estados Unidos registaram uma subida acentuada da inflação em abril, com a reabertura progressiva da economia após o pico da pandemia, e o mesmo poderá acontecer na Europa, principalmente na segunda metade do ano.
Esta possibilidade tem alimentado o debate sobre um eventual aperto gradual da política monetária, elevando a expectativa quanto à reunião do Banco Central Europeu (BCE) prevista para 10 de junho.
Em abril, a inflação anual subiu para 1,6% na zona euro e para 2% no conjunto da União Europeia (mais três décimas nos dois casos), indicou na quarta-feira o Eurostat.
"Os indicadores mais recentes já dão nota de uma aceleração da inflação também na Europa que resulta de alguns fatores semelhantes aos dos Estados Unidos (efeitos de base, subida de preço de 'commodities', contingências logísticas, regresso ao consumo por parte de particulares que puderam poupar, entre outros) e outros mais localizados como a reposição do IVA na Alemanha", afirmou à Lusa Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros.
"É provável que a inflação continue a subir nos próximos meses, refletindo a normalização da atividade económica. Como sabemos, em 2020 não tivemos uma crise 'normal', mas uma travagem a fundo que paralisou muitos setores. Agora, a reativação também não é normal, é mais acelerada, e pode originar subidas nos preços", explicou.
Pedro Lino, dirigente da DIF Broker - Sociedade Financeira de Corretagem, tem idêntica opinião e considera que os países europeus vão registar aumentos de preços nos próximos tempos.
"A inflação na Europa também deve subir bastante nos próximos meses tendo em conta que o preço das matérias-primas está em máximos de vários anos, como milho, trigo, soja, cobre, madeira. Por outro lado, a reabertura da economia irá trazer uma onda de consumo inicial que não é acompanhada pela oferta, nomeadamente no turismo, serviços e até nos automóveis, cuja indústria está a defrontar-se com escassez de chips", afirmou, também em declarações à Lusa.
Muitos economistas consideram, no entanto, que a subida da inflação será apenas temporária, uma ideia que tem vindo a ser repetida pelo presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Jerome Powell, que considera que o banco central deve continuar a apoiar a economia com uma política monetária expansionista.
Na zona euro, têm igualmente surgido informações sobre uma possível retirada gradual dos estímulos monetários, mas os responsáveis do BCE têm afastado para já essa possibilidade.
Após a última reunião de política monetária do BCE, em 22 de abril, as taxas de juro permaneceram, como era esperado, em mínimos históricos e a presidente da instituição, Christine Lagarde, explicou que não se abordou na reunião uma retirada progressiva das compras de dívida do programa de emergência (PEPP), o principal instrumento do banco central contra a crise, porque isso "seria prematuro".
Após um aumento dos juros da dívida soberana da zona euro em dezembro, o BCE considerou em março que seria justificado levar a cabo "um aumento significativo" do ritmo de aquisições no segundo trimestre deste ano.
Esta intervenção contribuiu para um abrandamento no mercado obrigacionista após a agitação suscitada no início do ano pelos receios de um sobreaquecimento da economia norte-americana.
"O Conselho de Governadores prevê que as compras no quadro do PEPP continuem no trimestre em curso a um ritmo significativamente mais elevado do que nos primeiros três meses deste ano", disse o BCE no comunicado divulgado no fim da reunião de abril.
Segundo Pedro Lino, o BCE não deve alterar a sua política antes de 2023.
"Provavelmente esta alteração iniciar-se-á com o abrandamento das compras de ativos e com a subida das taxas de depósito dos -0,5% para níveis próximos do zero. No entanto, qualquer alteração da política monetária na Europa será mais lenta do que nos Estados Unidos, tendo em conta que a recuperação e vigor da economia europeia também são menores", considerou.
Filipe Garcia lembrou que os bancos centrais "têm até agora considerado que a subida da inflação é esperada, desejada até certo ponto, e que se tratará de um fenómeno transitório".
"Por isso, é pouco provável que o BCE suba as taxas de juro nos próximos anos, embora seja de esperar que o ritmo de compras de ativos venha a diminuir. Aliás é isso que o mercado espera e, por isso, as taxas de longo prazo já vão subindo. É de esperar que essa tendência continue, até porque não fará muito sentido continuar a ter taxas a 10 anos na Alemanha a níveis negativos", apontou.
"Estamos perante o início de um ciclo lento, longo e sustentado de inversão das taxas de juro no mundo. Não creio que seja possível manter os juros nestes níveis na Europa muito mais tempo", afirmou, por seu lado, Pedro Lino.
O economista explicou que "foram injetados biliões na economia à custa do aumento do endividamento dos Estados e bancos centrais que tudo compravam. O risco, medido pela taxa de juro, foi mantido artificialmente baixo, pelo que é normal que à medida que os agentes económicos se apercebem do risco de incumprimento, voltem a exigir um juro superior para deter dívida".
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