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Saiba quem era Nuno Loureiro, o físico português morto a tiro em Boston

Investigador de 47 anos era diretor de um dos centros de investigação mais importantes do mundo, no renomado MIT. Morreu esta terça-feira, após ser baleado em casa.

16 de dezembro de 2025 às 17:31

Ainda andava na escola primária e já sabia que queria ser investigador, apesar de não haver na família tradição científica que ditasse o fado, com a mãe de Letras e o pai de Direito. Nuno Loureiro, nascido em Viseu, e que morreu esta terça-feira, aos 47 anos, vítima de um tiroteio em casa, em Boston, nos EUA, tinha razão. Trilhou um caminho tão reconhecido pelos pares que foi nomeado, no início de maio de 2024, diretor de um dos centros de investigação mais importantes do reputado MIT (Massachusetts Institute of Technology, em Boston, nos Estados Unidos) e, por consequência, do mundo.

Trata-se do MIT Plasma Science and Fusion Center (Centro de Fusão e Ciência de Plasmas), onde mais de 250 investigadores a tempo inteiro trabalham em sete edifícios com quase 25 mil metros quadrados de espaço de laboratório. Físico teórico, licenciado pelo Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e cientista de fusão, Nuno Loureiro entrou para o MIT como membro do corpo docente em 2016 e foi nomeado diretor-adjunto do Plasma Science and Fusion Center em 2022. Especializou-se em fusão nuclear por achar que tinha o potencial de uma revolução energética com resultados possíveis no seu tempo de vida. Tanto que nos últimos anos trabalhou em áreas que contribuem para essa fusão, da turbulência de plasmas à chamada reconexão magnética, que é o que dá origem, por exemplo, às explosões solares. A fusão nuclear, uma forma de energia que promete há décadas revolucionar o planeta, pode ser uma das alternativas ao consumo de energias fósseis, uma vez que para fazer face às alterações climáticas é urgente diminuir esse consumo, numa altura em que as energias renováveis não conseguem fazer face a todas as necessidades energéticas.

Pode estar para breve

“Ao longo dos últimos cinco anos esta área foi revigorada por interesses filantrópicos ou de capital privado, pessoas que perceberam que a única alternativa viável para resolver a crise energética era esta”, partilhou o cientista, em 2024, numa entrevista à revista Domingo, sobre o momento em que os resultados desse investimento começam a revelar-se “muito promissores”.

Não que esta fonte de energia seja propriamente uma novidade. Há dezenas de anos que se sabe que é possível produzir energia de fusão, uma vez que se trata da fonte de energia do sol, onde as altas temperaturas e a enorme gravidade geram a fusão de átomos de hidrogénio. No entanto, conseguir gerar este tipo de reação na Terra tem-se revelado uma missão difícil, daí a importância destes avanços.

“É uma área que está na iminência de ter resultados que são transformadores. Uma das empresas privadas que domina o mercado das ‘start-ups’ uma ‘spin-off’ (empresa derivada) do MIT. Ou seja, são colegas do meu centro que saíram para montar uma empresa e que estão a fazer uma experiência que deverá estar pronta daqui a dois anos”, congratulou-se Loureiro, na mesma entrevista. Não é para menos: “O mundo todo da fusão está na expectativa dos resultados dessa experiência e penso que daqui a dois anos estaremos numa situação de poder anunciar ao mundo resultados que eu acho que vão ser revolucionários nesta área.” As vantagens são muitas. Esta energia não emite dióxido de carbono para a atmosfera, tem um baixo risco associado e é virtualmente ilimitada. É ainda mais poderosa do que a energia nuclear clássica e, ao contrário desta, produz muito pouca radioatividade.

Apesar de não depender apenas de mim, sinto que seria uma vitória poder ser o diretor do centro numa altura em que se faz um anúncio desta magnitude”, assumiu o cientista que se doutorou no Imperial College, em Londres, e fez um pós-doutoramento em Princeton, nos Estados Unidos. Depois regressou a Inglaterra para trabalhar no laboratório nacional de fusão nuclear do Reino Unido e ainda aterrou em Portugal entre 2009 e 2015. “Mas, em 2015, o MIT queria um professor nesta área, candidatei-me e fui para os Estados Unidos no início de 2016. É como ser um futebolista de alta competição, vai-se mudando de equipa.” E, tal como no mundo da bola, a família (no caso, a mulher e três filhas) vai também.

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