Clientes lesados do BES manifestam-se, mais uma vez, esta quinta-feira.
Cliente do Banco Espírito Santo (BES) "há mais de 40 anos", o comerciante Fernando Fernandes aplicou "à confiança" 50 mil euros de "poupanças" num produto que lhe disseram ser "garantido", aguardando agora "na miséria" a devolução do valor entregue.
"Eu já conhecia o meu gestor de conta há mais de oito anos e, portanto, a coisa era só abanar a cabeça, nunca assinei nada. Tinha muita confiança no Banco Espírito Santo, que é um banco com 140 anos", lamenta em declarações à agência Lusa durante mais uma manifestação dos clientes lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) que hoje decorreu no Porto.
Escolhido "à confiança" pelo comerciante como único guardião das poupanças "de uma vida", o balcão do antigo BES -- agora Novo Banco - na avenida dos Aliados tinha, ao final da manhã de hoje, as portas bem fechadas e guardadas por perto de uma dezena de agentes da autoridade.
O objetivo foi impedir o que não há muito tempo aconteceu e se repetiu, nas semanas seguintes, em vários locais do país: a invasão das instalações pelo grupo de clientes, na sua esmagadora maioria com mais de 50/60 anos, que exigem a devolução do dinheiro aplicado, garantem que sem o seu conhecimento, em papel comercial do GES.
"Estou sem todas as minhas poupanças, estou sem nada. Fiz lá uma aplicação de 50 mil euros e disseram que era garantido, que era igual a um depósito a prazo, e até agora andam a empalear e nada", afirma Fernando Fernandes, numa história em muito semelhante à de outros dos manifestantes presentes.
Descrevendo a sua vida atual como "um caos" - "não durmo, ando à base de comprimidos e já não sei trabalhar nem o que ando a fazer neste mundo", resume -- o comerciante afirma-se "revoltado", não só por si, mas pelas "centenas de indivíduos acamados" que diz estarem na mesma situação.
"Basta ver nesta manifestação, são quase todos idosos. Houve um aproveitamento da banca em pôr este papel comercial na mão de pessoas idosas, com 70, 80 e 90 anos, o que é lamentável", acusa, apelando ao "dr. [Carlos] Costa", governador do Banco de Portugal, para que rapidamente resolva a situação porque os lesados estão "a ficar perdidos".
Professora reformada, Maria de Lurdes Marques Leitão, de 67 anos, hesitou em baixar a máscara de proteção que lhe escondia parte do rosto para dizer à Lusa ter confiado ao BES quer as suas poupanças, quer a herança deixada pelo pai.
"Pensei sempre que aquilo era um depósito, disseram que não podia tocar no dinheiro durante um ano e ficava com um juro de 3%, o que achei ótimo. Não percebo nada, [...] ninguém me falou em risco e eu confiei, nem li os papéis", disse à Lusa.
Garantindo "nunca" ter sequer ouvido "falar em GES", a antiga professora confessa já ter desistido de rumar ao balcão do agora Novo Banco onde é cliente, para pedir esclarecimentos aos funcionários.
"Durante os primeiros meses ainda caminhei para lá e de vez em quando telefonava e diziam que não era nada com eles. Mas agora já me custa e já desisti de ir, porque oiço as notícias na televisão e vejo que não tem nada a ver com os gestores. O que é que eu vou fazer? Vou insistir com eles quando não me podem dar o dinheiro?", questiona comovida.
O "algum" património que lhe foi deixado pelo pai é hoje mais um problema do que uma garantia, porque se traduz num "IRS [Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares] louco para pagar", para o qual Maria de Lurdes garante "não ter dinheiro".
Relativamente à atuação das autoridades competentes e do Governo no caso BES afirma-se "completamente desiludida" e, quando recorda os "grupos de jovens do 25 de Abril" em que participou enquanto estudante em Lisboa, dando o seu contributo para "ajudar a fazer" a revolução, sente-se "derrotada": "Já não tenho esperança de nada nesta vida. Acho que este país me derrotou, me desmoralizou e me tirou tudo", atira.
Apesar dos seus 81 anos, Fernando Alves era dos manifestantes que mais se fazia ouvir, gritando alto a indignação com o "país de ladrões, 'chulos' e vigaristas" em que diz que Portugal se tornou.
"Está lá um na cadeia, mas deviam estar dezenas deles, para não dizer centenas. E o senhor Presidente da República que não se esconda e que não assobie para o lado, que isto é gente que trabalhou muito para ter alguma coisa", gritou assim que foi abordado pela Lusa.
Cliente do BES "já desde antes de o banco ter sido nacionalizado", Fernando Alves saiu "da escola aos 10 anos para ir trabalhar" e, aos 18, emigrou para a Venezuela, onde trabalhou "uma vida para ganhar algum dinheiro".
"Confiei nas pessoas, mas depois vamos a ver aquelas letrinhas pequeninas...vigarices. Isto transformou-se num país de vigaristas e ladrões, puseram o país na bancarrota e agora que já não há mais onde sugar lá, vêm roubar o povo", acusou enquanto apressava o passo para não perder o grupo de manifestantes.
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