Investigada extorsão a clientes VIP de site de prostituição

Polícia quer saber se políticos, juízes ou gestores que frequentavam prostituição de luxo eram chantageados por rede que organizava encontros sexuais.

10 de novembro de 2010 às 03:00
Prostituição, VIP, Luxo, Extorsão
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A hipótese de ter existido extorsão sobre os clientes VIP da rede de prostituição desmantelada em Lisboa, sob a forma de chantagem por estarem em causa personalidades com relevo na vida pública, está a ser levantada no seio da investigação policial. E essa é uma questão a ser aflorada junto das potenciais vítimas, quando os políticos, magistrados e gestores ligados à Banca forem ouvidos no âmbito do processo como testemunhas – já na fase de inquérito.

Em causa, acredita a PSP, numa investigação coordenada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento do DIAP, estará uma verdadeira associação criminosa, crime pelo qual já estão indiciados alguns dos cerca de 15 arguidos. É o caso de Michael Barbosa, que chefiava a rede e explorava, entre outros, muitos dos travestis e das prostitutas que ‘atacavam’ na zona do Conde Redondo, em Lisboa.

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Na investigação a Barbosa, surgiram nomes como Carlos Pinota ou Miguel M., sendo que o primeiro é operador de câmara da RTP, e o segundo informático no Banco Espírito Santo. São eles os gestores de sites na internet como o Momentos de Prazer, onde as prostitutas se anunciam, mas também se dedicavam à angariação de mulheres para vários clientes VIP. Há indícios de que Pinota até combinava encontros sexuais para um responsável da RTP.

A notoriedade pública de alguns dos clientes – há referências a deputados e ex-membros do Governo – fez com que ficassem permeáveis a qualquer forma de chantagem por parte da rede chefiada por Michael Barbosa. Em causa poderá estar um crime de extorsão, por via de pagamentos ou levando as vítimas a mover as suas influências em questões de interesse da rede. E essa é uma situação que os responsáveis da investigação querem ver esclarecida.

Já estão dados como fortemente indiciados no processo os crimes de lenocínio (favorecimento à prostituição) e auxílio à imigração ilegal – Miguel M., funcionário do BES, é suspeito de mover influências na legalização de prostitutas brasileiras (ver caixa) –, mas para a investigação à hipótese de extorsão são fundamentais outros meios de prova.

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Entre eles estão as perícias aos 21 computadores apreendidos e perícias financeiras às contas bancárias de alguns dos suspeitos – origem de determinadas transferências. Dois dos computadores apreendidos são de Carlos Pinota (um deles é da RTP) e estão a ser passados a pente fino.

UNIDADE ESPECIAL DO DCIAP

A investigação a esta rede de alterne, que se instalou em Lisboa com todos os seus tentáculos, está a cargo da 1ª Esquadra de Investigação Criminal da PSP e é liderada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento do DIAP de Lisboa, dirigido por Maria José Morgado. Tudo começou pelo desmantelar da exploração de prostitutas e travestis na zona do Conde Redondo, cuja rede era chefiada por Michael Barbosa, mas rapidamente os investigadores chegaram a outros nomes – como Carlos Pinota e Miguel M., que geriam sites na internet como o Momentos de Prazer. Afinal, passaram também a suspeitos de angariação de mulheres para encontros sexuais com clientes VIP.

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FIGURAS PÚBLICAS RECORREM A SERVIÇOS

As fotografias são reais, a produção é cuidada ao pormenor. Nos anúncios on-line, cada mulher mostra o que tem para oferecer de modo a prender a atenção dos melhores clientes. Poucas falam do tipo de pessoas que recebem, mas algumas revelam que têm encontros sexuais com "personalidades conhecidas".

C.P. é portuguesa e recebe homens num apartamento da Alta de Lisboa. Apesar de não se alongar em conversas, refere receber diferentes tipos de clientes. "O tratamento que lhes dou é igual, sejam pessoas conhecidas ou não. Mas é verdade que já recebi algumas personalidades conhecidas", conta.

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Os homens de elevados estratos sociais também não conseguem resistir a Roberta, brasileira de 26 anos. "Estou habituada a isso e podem ficar descansados que as suas identidades nunca são reveladas. Até porque não tenho nada que ver com o gestor do site", Carlos Pinota, arguido por suspeitas de lenocínio. Sejam figuras públicas ou não, o que é certo é que desde que o caso rebentou, em Outubro, "o telefone tem tocado muito menos".

ESCÂNDALO ESTÁ A ARUINAR O NEGÓCIO

À medida que a investigação prossegue e que o caso vai ganhando protagonismo mediático, o site, idealizado por Carlos Pinota e Miguel M., vai-se esvaziando de anunciantes. Segundo a investigação, a média inicial chegava às 100 mulheres. Mas no último mês caiu para metade, o que já foi confirmado pelas anunciantes (ver texto em cima). As próprias mostram cada vez maior receio e desconfiança em falar ao telemóvel e lamentam a publicidade negativa que o escândalo lhes tem trazido. Cada anúncio de prostituição rendia por mês aos gestores do site 170 euros, livres de impostos.

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