Políticos e juízes chamados à Justiça

Clientes VIP de prostitutas serão expostos publicamente como testemunhas de crimes.

09 de novembro de 2010 às 03:00
Prostituição, Internet Foto: Jorge Paula
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Um alto-responsável dentro da RTP também está referenciado como cliente de prostitutas de luxo na lista explosiva que a PSP encontrou no computador de Carlos Pinota, operador de câmara da estação pública. O jornalista é suspeito de, além de gerir sites de anúncios de prostituição, angariar em Lisboa mulheres brasileiras para sexo com os vários ‘amigos’ VIP – entre os quais se encontram políticos e juízes, conforme o CM avançou ontem. E todos eles vão ser chamados à Justiça – de forma a explicarem a sua ligação à rede de alterne.

Conhecidos gestores ligados à Banca, o alto-quadro da televisão do Estado, deputados e ex-membros do Governo, magistrados. Nenhum está sob investigação, uma vez que não é crime pagar por sexo com prostitutas – mas todos serão testemunhas de um crime, praticado por Carlos Pinota e por outros elementos da rede, e que diz respeito a ganhar dinheiro com a exploração sexual de mulheres: lenocínio. Os clientes VIP não se vão livrar da exposição pública neste processo.

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Tudo se desmoronou a 13 de Outubro, o dia em que avançou a operação-surpresa da PSP, na investigação coordenada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Violento do DIAP de Lisboa. Carlos Pinota foi apanhado em flagrante num estúdio a fotografar prostitutas para o site Momentos de Prazer, e já não foi a tempo de apagar nada nos dois computadores apreendidos. Um deles, portátil, pertence à RTP.

Ao todo, na investigação que já conta com vários arguidos, entre os quais Miguel M., quadro do Banco Espírito Santo e que era sócio de Pinota no negócio do sexo, há um total de 21 computadores apreendidos. Todos estão a ser alvo de perícias – mas há um especial, precisamente o PC pessoal do operador de câmara da RTP. É lá que estão os nomes conhecidos dos vários quadrantes da sociedade portuguesa, homens para quem o jornalista e cúmplices arranjavam prostitutas.

Preferências físicas nas mulheres, datas e locais de encontros sexuais, pagamentos – informações em análise nas perícias a serem efectuadas. No processo, que começou na investigação à exploração de mulheres e travestis na zona do Conde Redondo, são investigados também crimes de associação criminosa e tráfico de droga.

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APANHADO PELA PSP A FOTOGRAFAR MULHERES

O repórter de imagem da RTP não só geria o site como também era uma das pessoas responsáveis por tirar as fotografias às anunciantes, num estúdio "próprio com mais de 100 m2, e fotógrafos com larga experiência em fotografia sensual", segundo se lê no site. E foi mesmo nestas tarefas que a PSP o encontrou quando, a 13 de Outubro, o deteve para ser ouvido como arguido. A garantia de que as fotos são as reais é, aliás, um dos cartões-de-visita do site que, nas regras para anunciar, exige que as fotografias sejam realizadas pelos "profissionais do site". As próprias garantem que as fotos são reais. Os responsáveis anunciam ainda que a disponibilidade para fotografar é de "24 horas por dia/7 dias por semana para melhor servir as anunciantes".

ANUNCIANTES DO SITE CAEM PARA METADE

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O site Momentos de Prazer apresentava, até ao final da noite de ontem, 49 mulheres que disponibilizavam os seus serviços de prostituição apenas em Lisboa. Mas segundo o ‘CM’ apurou junto de fontes ligadas à investigação, este número caiu para metade desde que o caso foi notícia. A média inicial situava-se nas cem anunciantes por mês, enquanto a média do último mês é de apenas 50. Tal como o ‘CM’ já avançou, cada anúncio custa 170 euros por mês e Carlos Pinota e o sócio Miguel M. são que recebe o dinheiro. O site apresenta mesmo um mapa interactivo da capital, onde se podem procurar as prostitutas disponíveis por zonas geográficas (pontos vermelhos na fotografia).

COLEGAS DA RTP SOLIDÁRIOS

Desde o momento em que o CM avançou com a notícia da operação da PSP, em meados do mês passado, que levou à constituição de Carlos Pinota como arguido, suspeito da prática de crimes de lenocínio e auxílio à imigração ilegal, muitas têm sido as mensagens de apoio ao repórter de imagem da RTP. Amigos e colegas de trabalho na estação pública deixam várias palavras de incentivo na sua página da rede social Facebook.

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Carlos Pinota, no entanto, desde que o escândalo rebentou no passado dia 13, apenas se manifestou por uma vez, e logo dois dias depois da operação policial. "Obrigado pelas dezenas de mensagens públicas e privadas de apoio. Obrigado a todos...", escreveu o jornalista da RTP, que desde logo viu a sua página ‘inundada’ de mensagens.

Uma delas tem mesmo como emissor um actual editor da televisão estatal. "Mais do que nunca, é nestas alturas que os amigos devem estar presentes. Estarei sempre ao teu lado", pode ler-se.

A grande parte das frases escritas desde então no Facebook de Carlos Pinota têm todas o objectivo de apoiá-lo. "Inveja e maldade, infelizmente cada dia mais presentes na nossa sociedade. Amigo Pinota força aí!!!! Grande abraço", relata um amigo do repórter de imagem. Outro diz acreditar num desfecho feliz. "A minha solidariedade, caro amigo. És um grande profissional e vais sair de cabeça levantada como sempre".

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ASSEMBLEIA TEM DE LEVANTAR IMUNIDADE

Para os deputados que constam da lista que o operador de câmara guardava no seu computador sejam ouvidos como testemunhas neste processo, seja na fase de inquérito seja na fase de julgamento, o Ministério Público tem de pedir à Comissão de Ética da Assembleia da República que a imunidade parlamentar seja levantada. Mas se os parlamentares tiverem de ser ouvidos na qualidade de arguidos – não será este o caso – já tem de ser um juiz de instrução criminal a solicitar o levantamento da imunidade. Quanto aos magistrados, nomeadamente aos juízes clientes da rede, a sua inquirição como testemunhas tem de ser sempre solicitada a um tribunal superior.

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