O Sporting está no centro de um processo judicial que ameaça trazer de novo à tona de água dois dos mais polémicos negócios dos últimos 20 anos em Portugal: a privatização do Banco Totta & Açores (BTA), na qual o Banesto obteve a maioria do capital à margem da lei, e a venda da Plêiade ao grupo Sociedade Lusa de Negócios (SLN)/Banco Português de Negócios (BPN).
Para se defender de 'um crime de difamação' de que é acusado por José Roquette, o ex-líder do Sporting, João Rocha, outro ex-presidente dos leões, arrolou como testemunhas Cavaco Silva e Braga de Macedo, então primeiro-ministro e ministro das Finanças, respectivamente, Alípio Dias, na altura dirigente do BTA, Mario Conde, ex-líder do Banesto e preso deste 1994 por gestão fraudulenta, e Dias Loureiro, sócio de Roquette na Plêiade.
Roquette acusa Rocha de ter praticado 'um crime de difamação' em declarações ao ‘Record’, em Fevereiro de 2006. E esta é a frase polémica: 'É muito simples. José Roquette julgava que o Sporting era uma operação tão fácil como o Totta, em que ele, numa operação ilegal, ganhou 20 milhões de contos [cem milhões de euros] sem pagar um tostão de impostos e, ainda por cima, acabou por comprometer aquele que foi recentemente eleito Presidente da República, Cavaco Silva.' A primeira audiência do processo, agendada para ontem no 1º Juízo do Tribunal Criminal de Lisboa, não aconteceu. Os advogados, por sugestão da juíza, decidiram adiá-la sine die (adiada sem data marcada), para os seus clientes tentarem chegar a um acordo.
Para já, ao que o CM apurou, Cavaco Silva, chamado a testemunhar por ser primeiro--ministro na altura em que o BTA foi privatizado, já disse, em depoimento escrito, que 'não tem conhecimento pessoal de qualquer facto a que se refere o processo.'
BANESTO CONTROLOU TOTTA COM AJUDA PORTUGUESA
A operação de privatização do BTA, entre 1989 e meados da década de 90, foi um dos negócios mais polémicos dos últimos 30 anos: segundo conta Mario Conde no seu livro ‘Banqueiros de Rapina’, em apenas quatro anos, o Banesto, a título individual e em aliança com a Valores Ibéricos, empresa detida pelo Banesto em conjunto com José Roquette, conseguiu controlar 50 por cento do capital social de um dos mais importantes bancos portugueses.
Entre Julho de 1989, data da privatização da primeira tranche do BTA, e Maio de 1993, quando o Governo de Cavaco Silva é informado da real participação do Banesto no BTA, tudo parece ter corrido bem na aliança de espanhóis e portugueses para conquistar o Totta. As relações terão começado a azedar a partir de 17 de Maio: nesta data, Braga de Macedo, então ministro das Finanças, reúne em almoço de trabalho com José Roquette, Mario Conde, Roberto Mendonça, vice-presidente da J.P. Morgan, e fica a saber que 'o Banesto controlava 50 por cento do BTA e que era necessário encontrar uma saída para a situação.' A Lei só permitia que uma entidade estrangeira tivesse até dez por cento do capital de uma empresa portuguesa.
Mario Conde diz no seu livro que o ministro das Finanças manifestou surpresa. Com o desagrado do Governo português, Conde acabou por desistir do projecto da fusão do Banesto com o BTA. E em Julho de 1993 revela à imprensa portuguesa, no Sul de Espanha, que o Banesto controlava 50 por cento do BTA. O escândalo rebentou. António Champalimaud acaba por comprar o BTA, que venderia depois ao Banco Santander.
CRONOLOGIA
10/07/1989
Estado procede à privatização da 1.ª tranche do Banco Totta & Açores (BTA). Banesto, em aliança com o grupo português de José Roquette, venceu por 50 cêntimos a oferta do Banco Hispano Americano (BHA): 21,5 euros por acção contra 21 euros. No fim do Verão, o Banesto tinha 3,32% e o grupo de Roquette 7,86% do BTA.
29/07/1989
Acordo entre Banesto e o grupo português, assinado por Javier Abad e José Roquette, cria a sociedade Valores Ibéricos e estabelece que 'o controlo do BTA era o objectivo do Banesto', relata Mario Conde no seu livro.
29/10/1989
Sonae e Banesto anunciam em Lisboa um acordo no qual o Banesto, em aliança com José Roquette, passaria a controlar 30% do BTA. 'Mediante uma contrapartida adequada, o grupo liderado por Belmiro de Azevedo aceita retirar-se da disputa', dizia o comunicado, pelo BTA.
31/07/1990
Estado procede à privatização da 2.ª tranche do BTA. Governo autoriza que a participação estrangeira aumente de 5% para 10%. Banesto passa a deter 9,50%, Valores Ibéricos 28% e Roquette, a título individual, 2,5%. Aliança Banesto-Roquette controla 40% do BTA.
27/12/1991
Mario Conde, presidente do Banesto, e José Roquette assinam o 'pacto de La Salceda'. Roquette, segundo o livro de Conde, 'comprometia-se a vender as suas participações no banco – a pessoal e a posição na Valores Ibéricos – ao Banesto.' Com esta operação, 'o Banesto completava, pois, um investimento que lhe permitira apoderar-se de 50% do Totta & Açores: 68 700 milhões de pesetas.'
22/04/1992
Braga de Macedo, então ministro das Finanças, reúne pela primeira vez com os accionistas privados do BTA. No almoço-trabalho, estão presentes Mario Conde, José Roquette, Alípio Dias, dirigente do BTA, Elias da Costa, secretário de Estado do Tesouro. 'Ficou claro, nessa reunião, o interesse estratégico do Banesto no BTA', disse o ministro na comissão eventual de inquérito parlamentar ao processo de privatização do BTA.
17/05/1993
Braga de Macedo reúne com Mario Conde, José Roquette, Roberto Mendonza, vice--presidente da J. P. Morgan. Conde afirma no seu livro que o ministro foi informado de que 'o Banesto controlava 50% do BTA e que era necessário encontrar uma saída para a situação.' E 'Braga de Macedo reagiu, manifestando uma surpresa que, naquele momento, parecia autêntica'. O ministro disse à comissão parlamentar que, 'durante a conversa, se tornou claro que os accionistas estrangeiros tinham uma influência na gestão do BTA muito superior à participação social que afirmavam ter'.
03/07/1993
Em Estepona, perto de Marbella, onde estava a decorrer um seminário do Banesto, Mario Conde revela a jornalistas portugueses que o Banesto controla 50% do BTA e dá informações sobre as sociedades portuguesas que haviam adquirido as acções.
03/12/1993
Braga de Macedo, antes de sair do Ministério das Finanças, determina o envio do processo BTA/Banesto à Procuradoria-Geral da República.
28/12/1993
Banco de Espanha abre um processo contra Mario Conde, o conselho de administração do Banesto e quatro directores-gerais. A nota de culpa, que seria entregue em Maio de 1994, inclui as operações no BTA correspondentes à 'realização de actos fraudulentos e utilização de pessoas interpostas'.
14/07/1994
Inicia funções a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar ao processo de privatização do BTA.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.