Ator esteve doente, mas porque ainda é ele quem “marca golos à vida”, está de novo no pequeno ecrã na pele de um pescador.
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João Ricardo está de volta ao trabalho. com uma obsessão: "Não desiludir o público". "Com o que me aconteceu na cabeça, se calhar as pessoas questionam se tenho capacidade para continuar… o gajo vai esquecer-se…"
Em ‘Espelho d’Água’ é um pescador reformado. Este papel, mais calmo, é adequado para o regresso à ficção?
É adequado para este momento. Quero fugir ao estereótipo dos personagens que tenho feito, com certa comicidade.
Está cansado desse registo?
Não. Gostei de todos, porque achei que tinha a possibilidade de subir um patamar na interpretação. E este pescador tem uma comicidade contida. E é um sobrevivente, porque foi impedido de continuar a pescar e agora gere um restaurante.
Um sobrevivente como o próprio João?
Sou um sobrevivente, mais calmo, mas não menos aventureiro. Com a doença subi de estatuto na vida.
Como olha hoje para esse sobressalto?
Não foi desta que a vida me marcou um golo! Fui eu que a fintei.
É católico?
Sou. Vou todos os dias à igreja para rezar. Mas não as orações convencionais. Nunca Lhe pedi para ficar bom! Nunca pedi nada para mim. A primeira vez que fui à igreja depois de ter deixado o hospital, entrei, olhei para Ele e perguntei: ‘Achaste bem a bela merda que fizeste?’. Mas quem tem cu tem medo, ajoelhei-me e rezei. Acredito que Ele me acompanha.
É um homem de fé?
Profundamente! Muita gente diz que sou um herói por ter superado a doença. Não sou, porque não sofri nada.
Não sofreu?
Não! Entrei em coma sem saber que tinha um cancro na cabeça. Estava a jantar com o meu filho e uma amiga e comecei a ter um comportamento sem nexo, fui então levado para o hospital e não me recordo de mais nada. Nas gravações há quem diga que eu já revelava um comportamento diferente, com esquecimentos. Após entrar no hospital fui operado, durante sete horas, acordei dois dias depois.
E depois?
Acordei e percebi que estava no hospital. Um médico sentou-se ao meu lado e pediu-me para fazer uma série de exercícios. Depois disse-me que tinha sido operado para retirar um cancro na cabeça. Sorri e perguntei-lhe: ‘E o que quer que faça?’. Apertou-me a mão e foi-se embora. Fui um felizardo!
Como está a recuperar?
Faço exames mensais e quimioterapia oral, tomo seis comprimidos por dia.
A doença mudou a sua vida?
Passei a ser um homem mais feliz! E nunca vou morrer!
Tem sido feliz no amor?
Se calhar sou eu que não quero ser feliz! Sou eu quem, por vezes, estraga as relações. Não me posso lamentar. A má pessoa sou eu. Sempre fui muito aldrabão, sempre menti muito nos namoros e quando me questionavam se estava a mentir dizia: ‘Se minto que tenha um cancro na cabeça...’.
Enganava a sua namorada?
Namorada? Tinha umas cinco ou seis… Como conseguia? Mentindo!
Deixou-se disso?
Todo o homem tem de ter um lado charmoso! E há sempre o desafio de ver se ainda tenho o charme da mentira… agora ainda estou em convalescença.
Voltando a ‘Espelho d’Água’. Que acha desta novela?
Pode ser egoísta, mas estou mais preocupado com o que quero fazer. A SIC já nos habituou a projetos de qualidade e gostava de ganhar um prémio com este papel, que pode não ter dimensão para isso, mas todos os dias tento ser contido, porque antes improvisava muito e desviava-me para a comicidade. Agora represento-a de forma mais subtil.
Cansou-se da graça?
Quero levar-me mais a sério! Era muito indisciplinado.
Ainda é exclusivo da SIC?
Sou! E serei para sempre porque tenho sido muito estimado. Se aparecer quem me dê o dobro do que ganho, rejeito.
Quando termina o contrato?
Não sei… não olho para os papéis…
Nem para os das contas da luz e da água?
Não, não olho. O Dário [contabilista] faz isso por mim. É ele que me organiza a vida, desde a renda à pensão de alimentos do Rodrigo.
A representação foi sempre a sua atividade na vida?
Comecei a trabalhar com doze anos como ajudante de motorista, após chumbar o ano. Mas já trabalhava nas férias numa empresa de caixas de papel.
Tinha um pai espartano?
Mas nunca me bateu. Um dia depois de vir do trabalho fui brincar para a rua e impôs-me entrar em casa às 21h00. Atrasei-me e ele mandou-me embora… Se calhar era só para me meter medo... Mas armei-me em herói e fui-me embora. Voltei um dia, muito mais tarde, só para ir buscar os documentos para levantar 200 contos [mil euros] que tinha em meu nome e concretizar um sonho: viajar de avião até Faro. Teria 16 anos.
Nunca mais voltou?
Nunca mais… Nos primeiros meses vivi na rua. Anos mais tarde fui trabalhar para as obras, ajudei a construir as Torres das Amoreiras, em Lisboa. Mas foi um esforço sobre-humano, porque não estava preparado… às 10h30 já estava a almoçar… transportava aduelas para os diferentes andares.
E a relação com o seu pai?
Ficou mal. Reconciliámo-nos quando a minha madrasta faleceu, tinha eu já vinte e tal. Ele procurou-me porque ela se queria despedir de mim. O meu pai nunca foi amado, nunca viveu com a mãe. A minha família não tem afeto, toda ela.
Teme reproduzir este comportamento com o seu filho?
Por isso exagero. Sempre sonhei ter uma pista de automóveis, o meu pai nunca ma deu. E dei cinco ao meu filho. Nunca tive um Action Man, mas dei quatro ao Rodrigo. O meu pai nunca foi feliz. Nunca foi menino, tal como eu. A minha avó separou-se cedo do meu avô, a minha mãe também se separou cedo do meu pai, nunca foram felizes, eu também me separei. É a vida.
Perfil
Ator e encenador João Ricardo, que para a semana faz 53 anos, decidiu ser ator depois de o pai o ter levado ao Odeon e de ter visto Tony de Matos no filme ‘Destino Marca a Hora’. "Fui para casa a chorar, fechei-me no quarto e decidi que seria ator." Começou pelo teatro, mas foi na TV que se popularizou. Após fazer vários trabalhos na RTP e na TVI, o ator conquistou o público com o personagem Armando Coutinho na telenovela da SIC ‘Laços de Sangue’.
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