Rui Borges apagou Ruben Amorim e a seleção sonha com o Mundial
Rui Borges estreou-se no Sporting vencendo o Benfica, por 1-0, em Alvalade. Há estreia melhor?
Bem sabemos que a nossa seleção se qualificou para o Mundial de 2026 e que venceu a Liga das Nações, tudo isto sob o comando de Roberto Martínez, o espanhol que ainda não conseguiu convencer a ‘afición’ nacional por mais que se exprima num português escorreito e que se esforce por cantar o nosso Hino sem tropeçar nas palavras. A qualificação para o Mundial é vista pelas novas gerações como uma normalidade. Sorte a deles que não sofreram as agruras das desqualificações consecutivas em eras passadas. O último triunfo na Liga das Nações numa final com a Espanha, decidida nos penáltis, foi um feito que merece o seu crédito. A seleção principal de Portugal passou a ter três títulos oficiais: o Europeu de 2016 e a Liga das Nações de 2019 e esta de 2025.
O currículo recente da seleção e os currículos individuais dos jogadores que Roberto Martínez chamará para a ocasião permitem-nos considerar altas as expetativas para o Mundial. Também suspeitamos que vai ser em 2026, antes, durante ou depois do Mundial, que Cristiano Ronaldo vai atingir a marca dos 1000 golos sem a qual jamais fechará a carreira. O português mais famoso do mundo já anunciou que o Mundial dos EUA, Canadá e México é o seu último Mundial. Será?
A escalada de Rui Borges
No que diz respeito ao homem que, em 2025, levou o Sporting ao título e ao bicampeonato perseguido há 71 anos é impossível não relembrar os últimos meses de 2024 e as extraordinárias circunstâncias que conduziram o transmontano Rui Borges ao posto de treinador do Sporting. Podem criticar-lhe os modos, apontar-lhe provincianismos, fazer pouco do seu sotaque, mas a verdade é que Rui Borges, 44 anos, nascido e criado em Mirandela, conseguiu fazer esquecer Ruben Amorim em Alvalade. E esta foi a sua proeza inicial. É um facto que beneficiou – e não foi pouco – do desastroso consulado de João Pereira, a primeira solução de Frederico Varandas para colmatar a infame deserção do treinador que, em março de 2020, foi buscar a Braga para recolocar o Sporting no trilho dos títulos. João Pereira, o treinador da equipa B promovido a treinador principal, recebeu de Amorim uma equipa com avanço de 6 pontos sobre o FC Porto e 8 sobre o Benfica e foi desbaratando essas vantagens até que o presidente do Sporting emendou a mão e foi a Guimarães contratar Rui Borges ainda a tempo de salvar o campeonato e conquistar a Taça de Portugal, formalizando a dobradinha que não acontecia há 23 anos.
Rui Borges iniciou a sua modesta carreira de futebolista e a sua fulgurante carreira de treinador no Sport Clube de Mirandela. Sentando no “banco”, prestaria depois bons serviços no Académico de Viseu, na Académica e no Nacional até chegar ao Moreirense que classificaria na 6.ª posição da Liga principal, coisa nunca vista em Moreira de Cónegos. Iniciaria a temporada de 2024/2025 como treinador do Vitória Sport Cube, mas a 26 de dezembro de 2024 foi apresentado em Alvalade como o sucessor do infeliz João Pereira que, no pouco tempo no cargo, não conseguiu validar o prognóstico de Frederico Varandas que o via “dentro de pouco tempo num dos clubes mais poderosos da Europa”. Rui Borges aceitou com modéstia a transição para um “grande” do nosso futebol. “Ainda há sete anos estava a jogar o Minas de Argozelo-Mirandela, no Campeonato de Portugal…”, disse em vésperas de viajar para a Capital. Estreou-se no comando do Sporting vencendo o Benfica, por 1-0, em vésperas de Ano Novo e recuperando a liderança da Liga. Querem estreia melhor?
Ganhos e perdas
Com o Sporting na condição de grande arrebatador dos títulos maiores, o ano de 2025 não foi bom nem para o Benfica, que reelegeu Rui Costa na presidência, nem para o FC Porto, porque não ganharam o campeonato – a prova das provas – nem a Taça de Portugal, a “prova rainha” como todos gostam de lhe chamar. O Benfica teve dois treinadores em 2025 – Lage e Mourinho – e, com Lage, somou dois títulos considerados ‘menores’, a Taça da Liga e a Supertaça. Quanto ao FC Porto teve três treinadores – Vítor Bruno, Martín Anselmi e Francesco Farioli – e não somou título algum. Foi, assim, 2025, literalmente, o ano zero portista. E foi também o ano em que Jorge Nuno Pinto da Costa, o líder histórico do dragão, morreu aos 87 anos, 10 meses depois de perder eleições para André Villas-Boas.
Não deixou nada por dizer nem por fazer o homem que presidiu ao FC Porto por 42 anos e que conquistou 69 títulos de futebol. O FC Porto homenageou pela via oficial o dirigente que transformou o clube do Norte de Portugal num clube do mundo – “Uma inspiração eterna. Um Legado imortal.” Mas, apesar da passagem do caixão pelo relvado do Dragão, a atual Direção do clube esbarrou com muitas restrições impostas pela família de Pinto da Costa nas cerimónias fúnebres, cumprindo-se a vontade do ex-presidente que partiu zangado com quem lhe sucedeu. Em 2025, o futebol português perdeu a sua figura de referência do dirigismo, mas perderia também, num horrífico acidente de automóvel, um dos seus jogadores internacionais mais amados. Diogo Jota, do Liverpool, sucumbiu aos 28 anos numa estrada em Espanha provocando uma onda de dor no país.
Esta memória de 2025 no que respeita ao futebol português não ficaria completa sem realçarmos o facto de, pela primeira vez, uma equipa estrangeira, o PSG, ter conquistado a fabulosa Liga dos Campeões com a presença de quatro jogadores portugueses. Nuno Mendes, Vitinha, Gonçalo Ramos e João Neves são os nossos campeões europeus de 2024/2025. Para o ano há mais?
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