Economia descapitalizada e presa num crescimento medíocre, por João César das Neves

O segundo meio século do regime começa com fortes bloqueios gerados por interesses instalados que capturaram o Estado a seu favor.

20 de março de 2024 às 13:09
dinheiro xxx Foto: Julia Klueva/ Getty Images/iStockphoto
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Meio século depois da revolução, o período foi na economia simultaneamente um grande sucesso e uma desilusão, com a desilusão como efeito lateral do sucesso.

O 25 de Abril não nasceu por razões económicas. O Antigo Regime, também de meio século, depois de estabilizar forte desequilíbrio financeiro, incluindo os efeitos da II Guerra Mundial, registou desde meados dos anos 1950 um período de intenso crescimento e modernização que transformou o país numa economia semi-industrializada de rendimento médio.

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A revolução de Abril coincidiu com os choques do petróleo dos anos 1970, gerando novo desequilíbrio financeiro

e implicando dois programas de ajuda externa. Mas no final da primeira década de Abril o país estava solidamente democrático e financeiramente estável, tendo até conseguido crescimento razoável no período.

Depois deste primeiro sucesso, a época seguinte foi dominada por duas decisões cruciais: a adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986 e ao euro em 1999. Mais uma vez registou-se um estrondoso êxito. Apesar das evidentes dificuldades, sendo o candidato mais pobre de sempre, conseguiu uma saudável integração no espaço europeu, acompanhada por forte desenvolvimento. Coroação dos dois primeiros períodos, em 1994 Portugal foi integrado pelo Banco Mundial na classificação de "país de rendimento alto", o escalão de topo, onde permanece desde então.

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Aí começou a desilusão, pois o país adquiriu hábitos europeus sem a produtividade adequada. Isso gerou primeiro uma dívida crescente, pública e privada, que só parou após novo colapso financeiro, que anulou os défices. Desde então temos uma economia descapitalizada e presa num crescimento medíocre.

Assim, o segundo meio século do regime começa com fortes bloqueios gerados por interesses instalados que capturaram o Estado a seu favor. A economia, sobrecarregada de impostos e regulamentos, até é boa, mas sobrevive como pode.

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