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Sabotagem e Beethoven na RTP no dia da Revolução dos Cravos

Os estúdios do Lumiar da RTP eram o primeiro dos cinco objetivos em Lisboa definidos pelo MFA. Foram ocupados de madrugada pelos militares da EPAM.

20 de março de 2024 às 12:58

A revolução já estava na rua desde a madrugada. Soube-se às 4h26 pela Rádio, mas foi apenas ao fim da tarde que a RTP emitiu o seu primeiro telejornal, onde deu conta do que acontecia. O relógio marcava 18h40. Fernando Balsinha fez a introdução: "Atenção, senhores espectadores. Muito boa tarde. A partir deste momento o Movimento das Forças Armadas controla totalmente a rede emissora da Rádio Televisão Portuguesa." Seguidamente, Fialho Gouveia leu um comunicado do MFA, em que se pedia calma à população e se anunciavam os objetivos imediatos do movimento. Balsinha encerra o serviço noticioso e anuncia dois programas de música clássica: o 4.º concerto para piano e orquestra, de Beethoven (anunciado com a Sinfonia n.º 3, a ‘Heroica’ – erro emendado mais tarde –, e o ‘Quarteto Concertante’, de Frederico de Freitas.

Os estúdios do Lumiar da RTP eram o primeiro dos cinco objetivos em Lisboa definidos pelo MFA. Foram ocupados de madrugada pelos militares da EPAM, conhecidos como os "padeiros". Os ocupantes não sabiam que era a partir do posto emissor de Monsanto que se processava a transmissão televisiva. Ramiro Valadão, então presidente da RTP, ordena a sabotagem do emissor. Não foi possível, como estava previsto, colocar a emissão habitual no ar às 12h45, a hora marcada. A emissão foi feita a partir dos estúdios do Monte da Virgem, no Porto. Anunciou-se um serviço noticioso para as 13h45, mas foram para o ar as séries "Viver no Campo" e "Daktar".

A emissão prosseguiu, com cortes, mas nada de notícias. Entretanto, em Lisboa, os militares do MFA ocupam o transmissor de Monsanto e conseguem resolver o problema da sabotagem. Às 18h40 surgiu a primeira notícia da revolução. Nas horas seguintes, são mostradas imagens, não editadas, dos acontecimentos, recolhidas nas ruas de Lisboa. Às 21h30 vai para o ar o ‘Telejornal’, com as notícias do dia. Dura 12 minutos, seguindo-se programas de variedades, com canções de Domenico Modugno e show de Vinicius de Moraes. Às 22h22, Fialho Gouveia volta à antena e leu mais um comunicado, onde se informa que o MFA "está cumprindo com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa história e proclama à nação o seu propósito de a libertar de um regime que a oprime há longos anos e de levar a cabo até à sua realização um programa de salvação do país e de restituição das liberdades cívicas de que vem sendo privado". Às 1h23 de dia 26 é apresentada a Junta de Salvação Nacional. Spínola faz uma comunicação ao País.

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