COP30 termina com sabor agridoce

Vila do Pesqueiro, na Amazónia, perde casas e restaurantes devido à subida do mar. Moradores sentem-se abandonados.

24 de novembro de 2025 às 01:30
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“Antes havia árvores de fruto. As dunas aqui da praia tinham três metros e agora está assim, sem nada”, descreve ao CM a professora Sandra, já reformada. Mora na Vila do Pesqueiro, uma pequena localidade na Amazónia, no Brasil, banhada pelo oceano Atlântico. É um dos exemplos do que acontece com o aumento do nível do mar: em poucos meses a maré subiu e levou tudo consigo. Para além do mar ocupar o lugar das espreguiçadeiras, as fundações dos restaurantes estão a descoberto.

“Aqui estava tudo enterrado. O mar fez com que se perdesse uns três metros de altura da duna”, contabiliza. Já Rafael, de 36 anos, vende passeios na praia aos poucos turistas que por aqui passam. “Por mais estranho que pareça, este era o local da minha casa”, diz, apontando para o chão. Ao longo da linha de água é visível outro sinal de que o mar ganhou terreno. “Isto aqui era uma árvore, tal como aquelas ali”, indica Caetano, do corpo de bombeiros do estado do Pará, ao estender a mão para um tronco enterrado na água. A erosão na Vila do Pesqueiro não é caso único na região. Aliás, se aqui o mar galgou a praia, em outras zonas é o contrário: os rios secam e deixam leitos vazios.

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Os registos da NASA mostram o aumento do nível do mar a acelerar. Por outro lado, 2024 foi o ano mais quente de sempre e a perspetiva é que 2025 se mantenha no pódio. “Isto é uma vergonha. Em plena COP30, em pleno estado do Pará, na Amazónia, deixam-nos abandonados”, diz com revolta Rafael. “A COP é um engodo. Nós tentamos preservar o ambiente, mas a ‘socialite’ não tem compromisso e nós é que sofremos as consequências”, critica a professora Sandra. Para além da perda das casas e restaurantes, estas comunidades perdem outro sustento: o turismo. São artesãos, cozinheiros ou guias. Segundo as contas da população, num junho normal poderiam ser dez mil pessoas. Agora não vão para além dos dois mil turistas. “É triste. Porque este é o nosso sustento e ninguém quer saber”, remata. 

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