Minas à solta são uma ameaça para a região
O vice-primeiro-ministro ucraniano, Oleksandr Kubrakov, já disse que "a água está a mover as minas que foram colocadas anteriormente, fazendo-as explodir" e esta é uma ameaça para aquela região, no leste do país, a norte de Kherson.
André Luís Alves, jornalista em serviço especial para a CMTV naquela cidade (a única capital de distrito que os ucranianos reconquistaram aos russos desde o início da guerra, em fevereiro de 2022), apontou a existência de milhares engenhos explosivos, essencialmente minas, que estão a ser movidos pela corrente. Dado o perigo e imprevisibilidade da sua ativação, muitos civis optam por não sair de casa pelo próprio pé.
Autoridades focam-se em retirar pessoas das áreas afetadas pelas inundações
Mais de 80 localidades estão a ser afetadas pela catástrofe e já há registo de vários desaparecidos e de, pelo menos, um morto. O objetivo principal das autoridades é, agora, retirar dezenas de milhares de pessoas das áreas envolventes e encontrar os desaparecidos.
Em Kherson, a cerca de 60 quilómetros a jusante da barragem destruída, forem criados pontos de embarque improvisados para que a polícia, as equipas de salvamento e os voluntários possam deslocar-se e tornar o processo de evacuação mais eficaz.
Segundo o governador regional, Oleksandr Prokudin, a água atingiu 5,34 metros em alguns locais da cidade.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descreveu a situação como "uma bomba ambiental de destruição maciça". A justiça ucraniana está a investigar o incidente como um caso de "ecocídio", aponta a CNN Internacional.
"As consequências da tragédia serão claras dentro de uma semana. Quando a água desaparecer, tornar-se-á claro o que resta e o que vai acontecer a seguir", disse o líder ucraniano.
As inundações já afetaram vilas, cidades e terrenos, comprometendo as culturas numa zona fortemente agrícola já muito afetada pela guerra.
A possível contaminação das águas por produtos químicos e industriais e também o derrame de petróleo proveniente da central hidroelétrica existente na barragem de Kakhovka contribuirão para o agravamento do desastre ecológico na zona.
O ministro ucraniano do Ambiente, Ruslan Strilets, afirmou que, pelo menos, 150 toneladas de petróleo foram derramadas naquele troço do rio Dnipro, o mais importante da Ucrânia. Os danos ambientais estão estimados em cerca de 46 milhões de euros, reporta a agência Reuters.
"Um litro de petróleo pode contaminar um milhão de litros de água. Assim, 150 toneladas terão numerosos impactos nos recursos hídricos e no ambiente ucranianos", disse à CNN Internacional, Yevheniia Zasiadko, chefe do departamento climático da organização ambiental Ecoaction, de Kiev.
Barragem de Kakhovka foi construída durante a época soviética
A central hidroelétrica de Kakhovka fica localizada na cidade de Nova Kakhovka, no ‘oblast’ de Kherson. A barragem foi construída na era soviética e é uma das seis que se situam ao longo do rio Dnipro. De acordo com a agência Reuters, ainda não se sabe ao certo quando é que a barragem foi danificada pela primeira vez, mas as imagens sugerem que se tenha vindo a deteriorar ao longo dos últimos dias.
Um crime sem culpados
Até ao momento, nenhum dos lados em guerra assumiu a responsabilidade pelo colapso da barragem. A Ucrânia atribui a culpa da explosão à Rússia, justificando que Moscovo tentou assim impedir a anunciada contraofensiva ucraniana em direção à Crimeia ocupada. Já a Rússia defende-se e diz que a Ucrânia sabotou a barragem para desviar as atenções de uma nova contraofensiva.