Alexandre III determinou maioria qualificada para eleger o papa. Só um século depois seria instituído o conclave.
Alexandre III determinou maioria qualificada para eleger o papa. Só um século depois seria instituído o conclave.
Estávamos a mais de um século da realização do primeiro conclave (fórmula atual da eleição dos papas), que aconteceu em janeiro de 1276 e elegeu Inocêncio V. Até então, os papas eram eleitos em assembleia aclamativa por unanimidade. Muitas vezes precedidas por acesas e longas discussões, mas a eleição era unânime. Acontece que Alexandre III recebeu 21 votos de uma assembleia constituída por 28 cardeais, o que provocou um cisma de vinte anos, resolvido apenas nos últimos meses do seu pontificado.
Entretanto, no Concílio de Latrão, que o próprio papa Alexandre III convocou, foi decretada a necessidade da maioria de dois terços dos votos dos cardeais para a eleição papal. Essa regra, com mais de oito séculos, instituiu-se de tal maneira, que continua em vigor nos dias de hoje. Aliás, essa foi a regra estabelecida pela constituição apostólica Ubi Periculum, assinada pelo papa Gregório X e que instituiu o Conclave.
Quando Alexandre III assumiu os destinos da Igreja, o mundo católico vivia tempos de acentuada turbulência. Por um lado enfrentava sérios conflitos com o Sacro Império Romano-Germânico, liderado por Frederico I Barbarossa (barba ruiva), por outro, empreendia esforços para evitar a conquista de Jerusalém e dos lugares santos pelo líder islâmico Saladino e, por último, enfrentava os cismas internos enquanto geria as diversas guerras e o surgimento de novos reinos na Europa.
Na época, os Templários, a grande ordem guerreira fundada no Templo de Salomão em 1120 com o objetivo de proteger os peregrinos que rumavam à Terra Santa, assumia o controlo estratégico de diversos territórios europeus, sobretudo no sul do continente, no sentido de proteger o mundo católico das investidas muçulmanas.
Um dos territórios onde os Templários desempenharam um papel de elevado relevo foi no nordeste da Península Ibérica, contribuindo decisivamente para a criação do reino de Portugal.
Depois de contar com a ajuda dos cavaleiros da Segunda Cruzada para a conquista de Lisboa aos mouros, D. Afonso Henriques concedeu vastas terras à Ordem do Templo, no centro do País, tendo estes, partir da cidade de Tomar e liderados pelo notável cavaleiro Gualdim Pais, contribuído decisivamente para levar a cabo a reconquista cristã “muito para lá do rio Tejo”.
Alexandre III contava, portanto, com um braço armado no sul da Europa, que travava as investidas islâmicas, que chegaram a ameaçar expandir-se para Norte. Para além disso, do ponto de vista religioso e da povoação dos territórios, dispunha das duas grandes ordens religiosas da época: os beneditinos e os cistercienses.
O maior problema de Orlando Bardinelli (nome de batismo de Alexandre III) era, portanto, o conflito com o imperador Frederico Barba Ruiva e o apoio que o líder do Sacro Império Romano-Germânico conferia aos anti-papas que alimentavam o grande cisma.
Foi por isso que, logo no início do seu pontificado, excomungou Frederico I, assim como Vítor IV, o primeiro dos três antipapas. Um dado histórico relevante foi também a imposição, em 1172, de uma severa penitência ao rei inglês, Henrique II, pelo assassinato do célebre arcebispo de Cantuária, Tomás Becket.
1179 foi o ano de ouro de Alexandre III (papa entre 1159 e 1181). Apesar de aturadas investidas diplomáticas, não conseguiu trazer para o seu lado o “Barba Ruiva”. No entanto, o imperador foi derrotado, em 1176, na célebre batalha de Legnano, perto de Milão e viu-se obrigado a negociar com o papa.
Foi assim que, no designado “Encontro de Veneza”, o imperador e o papa concordaram que seria suspensa a excomunhão de Frederico e este, em troca, reconheceria Alexandre como líder único da Igreja Católica.
Resolvida a questão fundamental do pontificado, Alexandre III pode, finalmente, dedicar-se à gestão dos inúmeros conflitos que grassavam um pouco por toda a Europa e dirimir alguns dos principais litígios territoriais.
Foi assim que, após decisiva investida diplomática do então arcebispo de Braga, D. João Peculiar, o papa Alexandre III promulgou a Bula Manifestis Probatum, reconhecendo oficialmente o reino de Portugal.
O assunto da independência estava praticamente resolvido desde o Tratado de Zamora, em 1143, mas carecia da chancela oficial, que só podia ser conferida pelo papa.
A primeira residência dos papas em Roma foi o Palácio de Latrão, junto à basílica que ainda hoje é a catedral do bispo de Roma. Foi assim desde o século IV até ao século XIV, quando o papa se instalou em Avinhão, na França. Regressado à Itália, o papa passou a residir no Palácio do Quirinal e só em 1870 se transferiu para o Palácio Apostólico, na cidade do Vaticano.
Pio IX, que liderou a Igreja entre 1846 e 1878, foi o primeiro papa a ser fotografado. A fotografia foi tirada em 1875 por Adolphe Braun. Já Leão XIII foi o primeiro papa a ser filmado. O registo foi feito em 1896 por William Dickson, um dos pioneiros do cinema, do laboratório de Thomas Edison. O vídeo mostra o papa, já idoso, a caminhar e a abençoar a câmara de filmar.
Em 1513, Júlio II recebeu a monumental embaixada de D. Manuel, chefiada por Tristão da Cunha, para impressionar o Papa com as riquezas acumuladas. Uma das inúmeras novidades foi a presença de um elefante trazido das Índias. Causou um espanto tal que passou a constar das grandes obras de arte italianas, sobretudo das pinturas.
Considerado o pai do monaquismo ocidental, São Bento de Núrcia escreveu a famosa regra em 529 e fundou a primeira ordem religiosa católica na Abadia de Monte Cassino. Uma ramificação desta, em 1098, deu origem aos Cistercienses. Em 1118 nasceram os Templários, de pendor militar, e, mais tarde, em 1209, os Franciscanos. Em 1216 surgiram os Dominicanos e, em 1534, os Jesuítas.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.