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Papa Francisco

Francisco: O Papa que veio do “fim do mundo”

“Quando morremos, levamos o abraço do Senhor”, diz Francisco.

“Quando morremos, levamos o abraço do Senhor”, diz Francisco.

21 de abril de 2025 às 08:00

“Não tenho medo da morte e imagino-a em Roma. A morte é um encontro: é Ele quem vem ao nosso encontro, é Ele quem vem nos pegar pela mão e nos levar até Ele. Todas as coisas que juntamos, que poupamos, licitamente boas, não levaremos nada ... Mas, sim, levaremos o abraço do Senhor”, diz Mario Bergoglio, o Papa que os cardeais “foram buscar ao fim do mundo”, como o próprio referiu na primeira mensagem dirigida aos fiéis.

O Papa Francisco
O Papa Francisco FOTO: Direitos Reservados

Uma estreia no Vaticano: é o primeiro jesuíta a sentar-se na cadeira de Pedro, o primeiro Santo Padre americano e o primeiro Sumo Pontífice não europeu em mais de 1200 anos. Escolheu o nome inspirado na simplicidade e dedicação aos pobres de São Francisco de Assis.

Ao contrário do seu antecessor, o Papa Bento XVI, Francisco só admite abdicar por razões de saúde, se surgir “um impedimento físico grave”, tendo, inclusive, uma carta de renúncia assinada, há mais de dez anos, para essa eventualidade. Está guardada na secretaria de Estado do Vaticano.

Reduzir 12 anos de pontificado a uma palavra, mesmo que repetida três vezes, pode parecer demasiado redutor, mas não no caso do Papa Francisco. Se João Paulo II deixou como legado um desafio do tamanho do mundo - “Não tenhais medo!” - e Bento XVI as raízes do combate à “ditadura do relativismo”, que consome as sociedades modernas, o Santo Padre argentino ficará na história como o Papa que abriu a Igreja Católica a “Todos, todos, todos”.

Saiam pelas periferias e tragam todos, todos, todos:
sãos, doentes, crianças e adultos, bons e pecadores. Todos! Que a Igreja não
seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Todos, cada um
com a sua vida às costas, com os seus pecados, assim como é diante
de Deus, como é diante da vida… Todos. Todos. Não levantemos
alfândegas na Igreja
Papa Francisco


Foi na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em agosto de 2023, que deu o mote para o lema que perdurará na memória dos tempos. E foi o primeiro a dar o exemplo, abençoando os homossexuais e divorciados, porque “a Igreja Católica abençoa pessoas, não relações”.

A Jornada Mundial da Juventude de Lisboa movimentou centenas de milhares de jovens
A Jornada Mundial da Juventude de Lisboa movimentou centenas de milhares de jovens FOTO: Direitos Reservados

Ficará também na história pelo combate sem tréguas aos abusos sexuais na igreja, por atribuir às mulheres um papel de maior relevo no seio da instituição, pelo aprofundamento do diálogo inter-religioso, iniciado pelos seus antecessores. Ainda abriu a discussão sobre os padres casados, “o celibato não é um dogma, é preciso considerar a evolução da sociedade”, mas encontrou grande resistência no interior da Igreja e a ‘revolução’ ficou pelo caminho.

Já sobre a ordenação de mulheres, o programa reformista do Papa Francisco não chegou tão longe: “Porque é que a mulher não pode entrar nos ministérios, ser ordenada? Porque o princípio petrino não o permite”. Seja como for, abriu caminhos e nomeou cardeais da sua confiança para que os mesmos continuem a ser percorridos, pese embora exista uma corrente contrária aos seus desejos.

Papa Francisco depois de estar internado
Papa Francisco depois de estar internado FOTO: Giuseppe Lami/EPA

Nasceu na capital argentina, Buenos Aires, o 266º pontífice da história, a 17 de dezembro de 1936.

O meu povo é pobre e eu sou um deles”, referiu várias vezes, para explicar o seu modo de vida, simples e humilde. Filho de imigrantes italianos – o pai trabalhava como contabilista nos caminhos de ferro, a mãe ocupava-se da lida da casa e da educação dos filhos – Bergoglio era o mais velho dos cinco irmãos.

Com 21 anos, removeu parte do pulmão direito, após uma infeção pulmonar. Amante do tango e simpatizante do San Lorenzo, equipa de futebol fundada por um padre, trabalhou como técnico químico antes de escolher o caminho do sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus.

Licenciado em filosofia e teologia, foi ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, ordenado bispo a 27 de junho de 1992 e criado cardeal a 21 de fevereiro de 2001.

Papa Francisco em Fátima
Papa Francisco em Fátima FOTO: Direitos Reservados

Foi eleito Papa a 13 de março de 2013, após renúncia de Bento XVI. Tinha 76 anos. “Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência”, disse, na sua primeira homilia. Está hoje a Igreja melhor do que quando Bergoglio se sentou na cadeira de Pedro? O tempo o dirá, mas há um facto incontornável: a Igreja Católica continua a perder fiéis.

Já houve uma mulher eleita papa?

É uma das lendas mais intrigantes da Idade Média. Alguns relatos, dão conta de que uma mulher chamada Joana teria governado a Igreja Católica, disfarçada de homem, entre 855 e 858, até ser descoberta ao dar à luz durante uma procissão. Essa história nunca foi categoricamente confirmada e muitos historiadores colocam-na em causa, uma vez que a primeira menção à Papisa Joana surgiu apenas no século XIII, 400 anos depois.

Foi um papa que criou o calendário

Em 1577, o Papa Gregório XIII reuniu um grupo de especialistas para corrigir o calendário juliano. O objetivo da mudança era fazer regressar o equinócio da primavera para o dia 21 de março e desfazer o erro de 10 dias existente na época. Após cinco anos de estudos, foi promulgada a bula papal “Inter Gravissimas”, que colocou em vigor o calendário Gregoriano.

Francisco: primeiro papa a vir da América

Quando, na noite de 13 de março de 2013, o francês Jean-Louis Tauran, cardeal camarelengo, surgiu na varanda da Basílica de São Pedro a anunciar o nome de Jorge Mario Bergoglio como pontífice eleito, depois de proferida a tradicional expressão “Habemus Papam”, fez-se História. É que Francisco era o primeiro papa americano.

O continente que não teve um papa

Já houve um papa americano, três africanos, ainda que nos primeiros cinco séculos do cristianismo e oriundos da zona do Império Romano, que hoje corresponde à Tunísia e à Líbia, e quatro do continente asiático, também todos no primeiro milénio, incluindo São Pedro, que nasceu na Galileia. E 258 papas europeus. Só há um continente que nunca teve um papa: a Oceânia.

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