Rajoy defende polícia e culpa separatistas
Atuação policial para travar referendo ilegal fez centenas de feridos.
O primeiro-ministro Mariano Rajoy responsabilizou ontem o governo catalão pelos violentos confrontos que marcaram a consulta ilegal sobre a independência e garantiu que as forças policiais "agiram com proporcionalidade" ao carregar com bastões e balas de borracha sobre as pessoas que tentavam votar, fazendo mais de 800 feridos, numa atuação muito criticada e que parece afastar de vez qualquer possibilidade de entendimento.
"O referendo, simplesmente, não existiu", garantiu Rajoy, afirmando que os catalães foram "enganados" a participar numa votação inválida. "A culpa do que aconteceu hoje [ontem] é daqueles que promoveram a rotura da legalidade e da convivência", acusou, antes de agradecer "o civismo da maioria da população catalã" e apelar à "reflexão" de todos os partidos políticos.
A atuação policial foi muito criticada, não só pelo uso excessivo da força, mas também pela sua duvidosa eficácia. Apesar das imagens que correram Mundo das cargas policiais e das agressões gratuitas contra mulheres e idosos, a Guardia Civil e a Polícia Nacional não conseguiram mais do que encerrar cerca de 300 locais de voto, pouco mais de 10 por cento do total. Nos restantes, os eleitores puderam votar livremente perante a passividade dos Mossos d’Esquadra, a polícia regional, que na maior parte dos casos desobedeceram às ordens judiciais para impedir a votação e se limitaram a observar.
A poucos minutos de começar a votação, o governo catalão anunciou que, perante o fecho de vários locais de voto, os eleitores poderiam votar onde quisessem, o que, somado ao bloqueio das aplicações informáticas criadas para gerir o escrutínio, tornou impossível qualquer tipo de controlo: os eleitores podiam votar várias vezes em mesas diferentes, e mesmo pessoas que não estavam registadas na Catalunha conseguiram votar, como foi o caso de um jornalista do ‘El Mundo’. Os responsáveis pelas mesas limitavam-se a escrever o número do cartão de identidade do eleitor numa folha de papel.
"Ganhámos o direito à independência"
O líder do governo autonómico da Catalunha e principal impulsionador do referendo, Carlos Puigdemont, disse ontem que os catalães "ganharam o direito à independência" pela forma como desafiaram a repressão "vergonhosa" de Madrid e saíram à rua para votar.
"O Estado espanhol perdeu muito mais do tinha perdido até agora e os cidadãos da Catalunha ganharam muito mais do que aquilo que já tinham conquistado", afirmou Puigdemont, denunciando o uso de "bastões, balas de borracha e violência injustificada contra pessoas que defendiam urnas, boletins de voto, mesas eleitorais". Já a presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, pediu a demissão do PM Mariano Rajoy, a quem chamou "cobarde".
"Não é aceitável lançar a polícia contra uma população pacífica, indefesa e diversa, que saiu à rua para votar e reivindicar os seus direitos e liberdades", afirmou a edil, enquanto o conselheiro de Justiça da Generalitat, Carles Mundó, vaticinou que o Estado espanhol "pagará muito caro" pela imagem ontem dada.
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