Isabel II, A rainha que não nasceu para o trono mas que o ocupou mais tempo do que qualquer monarca
Com a abdicação do tio, o rei Eduardo VIII, e a subida ao trono do pai de Isabel, o rei Jorge VI, tornou-se na primeira da linha de sucessão
Nasceu para não ser rainha, mas o destino trocou-lhe as voltas e viria a ser a monarca que durante mais tempo reinou no Reino Unido. Isabel II morreu aos 96 anos e susteve o peso da coroa britânica durante mais de 70 anos.
Os primeiros anos e a reviravolta na família real
Nascida Elizabeth Alexandra Mary Windsor, em Mayfair, Londres, a 21 de abril de 1926, viria a ser conhecida apenas como Isabel, a segunda. A primeira filha dos duques de York veio ao mundo com a ‘promessa’ de uma vida longe dos holofotes do trono mas, com a abdicação do tio, o rei Eduardo VIII, e a subida ao trono do pai de Isabel, o rei Jorge VI, tornou-se na primeira da linha de sucessão. Viu uma reviravolta na sua vida, como viu toda a família real, com o escândalo e a possível crise constitucional, uma vez que Eduardo VIII abdicou para poder casar e viver o amor com Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada duas vezes.
Com a ‘mudança’, para o Palácio de Buckingham, Isabel não foi à escola a sua educação passou a ser supervisionada pela mãe. Teve como tutor particular o historiador C.H.K. Marten, da prestigiada Universidade de Eton, assim como muitos outros professores de relevo, que lhe ensinaram também geografia, matemática, línguas (Inglês, Francês e um pouco de Alemão), artes, música e dança. Assistia às aulas, por vezes, com a irmã, a princesa Margarida Rosa (nascida em 1930). Isabel e Margarida eram cuidadas pela governanta Marion Crawford, que mais tarde viria a descrever amor por cães e cavalos de Isabel, desde tenra idade, assim como a atitude de "responsabilidade" que desde muito cedo adotou na sua personalidade.
As duas irmãs, durante a II Guerra Mundial, foram levadas da tensão e do horror vivido em Londres, com bombardeamentos regulares por parte das forças alemãs. Separadas dos pais, ficaram alojadas no Castelo de Balmoral, na Escócia, no Royal Lodge, em Windsor, e no Castelo de Windsor.
As duas irmãs, durante a II Guerra Mundial, foram levadas da tensão e do horror vivido em Londres.
Em 1940, aos 14 anos, faz o seu primeiro discurso na BBC, no programa de rádio ‘A Hora das Crianças’, onde tenta acalmar os outros menores que, devido à guerra tiveram que ser levados das grandes cidades inglesas. "Estamos a fazer tudo o que podemos para ajudar os nossos galantes marinheiros, soldados e pilotos, e estamos também, nós, a tentar suportar a nossa parte de perigo e tristeza da guerra. Nós sabemos, cada um de nós, que no fim tudo ficará bem", afirmou a jovem Isabel.
Começa depois a sua ‘carreira’ militar. Fez a sua parte na II Guerra Mundial, longe das batalhas, como técnica de reparações e condutora, e logo em 1942 é nomeada coronel dos Guardas Granadeiros. Faria a sua primeira aparição pública a solo precisamente numa visita a este regimento de infantaria, no ano seguinte.
Em fevereiro de 1945, já depois de a lei ser mudada para que pudesse ser conselheira de Estado, é nomeada para liderar honorariamente o Serviço de Auxílio Territorial e viria a tornar-se comandante, ao dar nas vistas como mecânica e condutora de camiões.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, vai celebrar para as ruas com a irmã, com autorização doas pais, ambas disfarçadas para não serem reconhecidas pela população. "Lembro-me que estávamos aterrorizadas por alguém nos poder reconhecer. Lembro-me de linhas e linhas de pessoas de braço dado a desfilar por Whitehall, e nós erramos arrastadas numa onda de felicidade de alívio", disse numa rara entrevista, anos mais tarde.
Em 1947 acompanha os pais à África do Sul, naquela que é a sua primeira visita oficial fora do Reino Unido, e faz o famoso discurso em que, com apenas 21 anos, promete entregar-se de alma e coração à Coroa. "Declaro perante vós que toda a minha vida, seja curta, seja longa, será dedicada ao vosso serviço e ao serviço da grande família imperial a que todos pertencemos", diz na transmissão para toda a Commonwealth.
O casamento e o celebrar de um amor que começou aos 13 anos
Era ainda adolescente quando, durante uma visita à Escola Naval Real, em Darthmouth, cruzou-se mais uma vez com um primo seu (muito afastado), um tal príncipe da Grécia e da Dinamarca que dava pelo nome de Filipe. Primeiro em 1934, depois em 1937. À terceira, em 1939, foi mesmo de vez: Filipe acompanhou Isabel na visita que esta fazia à escola e a princesa apaixonou-se perdidamente. O amor durou 82 anos, até à morte de Filipe, duque de Edimburgo, em março de 2021.
Os dois começaram a trocar cartas de amor secretas regularmente, mas o noivado só viria a ser anunciado sete anos depois, quando Isabel tinha 21 anos, a 9 de julho de 1947. O casamento, ainda antes de acontecer, gerou controvérsia entre a corte porque, apesar de Filipe ter combatido pelos ingleses na Segunda Guerra Mundial, as suas irmãs eram casadas com aristocratas alemães com ligações Nazis.
Antes da boda, Filipe abdicou de todos os títulos nobiliárquicos gregos e dinamarqueses e converteu-se ao Anglicanismo, adotando o apelido da família inglesa da mãe, Moutbatten. Tornou-se o duque de Edimburgo.
A grandiosa cerimónia de casamento aconteceu a 20 de novembro de 1947, na Abadia de Westminster. Tendo em conta o racionamento que vigorava, em plena crise do pós-Guerra, Isabel teve que usar cupões para comprar os materiais para o vestido. Ficam também para a história algumas ausências polémicas: as irmãs de Filipe não foram convidadas, devido às alegadas ligações a altos-quadros Nazis, assim como o tio de Isabel, o ex-rei Eduardo VIII, agora Duque de Windsor.
Menos de um ano depois, a 14 de novembro de 1948, Isabel dá à luz o primeiro filho, - e o herdeiro da coroa inglesa -, o príncipe Carlos. Dois anos depois, a 15 de agosto de 1950, nasce a princesa Ana.
Nos anos seguintes a família vive entre Windlesham Moor e Clarence House, até que Filipe é colocado na base naval de Malta, então colónia britânica. O casal chega a viver lá, deixando as crianças em Londres.
Já no ano de 1951, a saúde do rei Jorge VI começa a deteriorar-se rapidamente e Isabel começa a ir no seu lugar a alguns eventos públicos.
A ascensão ao trono e a Coroação de Isabel, a primeira de seu nome a reinar na Escócia
Em outubro de 1951, Isabel e o marido brilham e dão que falar numa visita de grande sucesso ao Canadá e a Washington D.C. e, logo em janeiro do ano seguinte, seguem para uma viagem à Austrália e Nova Zelândia. Estão a caminho e ficam em Sagana, no Quénia, alguns dias.
Na manhã de dia 6 de fevereiro de 1952, o rei Jorge VI é encontrado morto na cama, devido a uma trombose coronária. Isabel e Filipe estão isolados em plena savana e a notícia da morte do pai que a agora rainha tanto amava demora algumas horas a chegar. Foi Filipe a dar a terrível notícia à mulher.
Isabel escolhe o seu nome real: "Isabel, claro", responde decidida ao seu secretário. ‘Perde’ o seu nome de batismo e passa a ser Isabel a Segunda, pela Graça de Deus, do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, e dos seus Reinos e Territórios Rainha, Líder da Commonwealth, Defensora da Fé. O nome não agradou particularmente a muitos escoceses, uma vez que seria a primeira Isabel a reinar no território escocês.
Isabel escolhe o seu nome real: "Isabel, claro"
É prontamente proclamada rainha e regressa imediatamente a Londres, mudando-se para o Palácio de Buckingham. Há tensão com o marido quando, a conselho de Churchill e da sua avó, Isabel II decide manter Windsor como nome da casa real e da dinastia, ao invés de adotar o ‘nome’ do marido, de Edimburgo. Após a morte da rainha Maria, e a resignação de Churchill em 1955, Isabel II dá um pequeno passo atrás na decisão – dos poucos que deu na sua vida – e permite que o apelido Mountbatten-Windsor seja usado por descendentes masculinos da família que não tenham títulos reais.
Os três meses seguintes são passados em período de luto e reclusão, ainda que tanha levado a cabo os seus deveres reais, como a sessão de abertura do Parlamento em novembro de 1952.
A rainha Maria morre a 24 de março o ano seguinte, pela mesma altura, a princesa Margarida confessa a Isabel o desejo de casar com Peter Townsend, divorciado e com filhos, o que significaria nova crise e escândalo na Corora: a rainha Isabel II aconselha a irmã a esperar um ano, na esperança que o ‘affair’ passasse.
Apesar destes contratempos, a coroação de Isabel II ocorre como planeado, a 2 de junho de 1953, numa grandiosa cerimónia na Abadia de Westminster, que pela primeira vez foi emitida na televisão pela BBC – a unção e a comunhão não foram transmitidas. O famoso vestido que Isabel II usou no momento em que recebe a coroa foi bordado, segundo as suas estritas instruções, com os emblemas florais dos países da Commonwealth.
O início do reinado: as transformações na Commonwealth e visitas oficiais
Isabel II senta-se no trono já em plena transformação do Império Britânico, com várias nações da Commonwealth independentes (ou em processo de independência) a aceitarem-na como líder.
No final de 1953, Isabel e Filipe embarcam numa visita de Estado de sete meses, percorrendo 13 países e mais de 64 mil quilómetros, por terra mar e ar. Entre os países que visita estão a Austrália e a Nova Zelândia (foi a primeira vez que um monarca britânico o fez). Faz particular sucesso na Austrália, com cerca de 75% da população a acorrer aos locais por onde a rainha passava para a poder ver.
Nos anos seguintes vê-se no meio da tensão entre Reino Unido e Franca na chamada Crise do Suez, com os dois países a invadirem o Egito. O alegado desapoio da rainha a este golpe, resulta na demissão do então primeiro-ministro, Anthony Eden. O caso vale-lhe algumas críticas entre as lides políticas.
Em 1957, após várias visitas oficiais pela Europa, vai com o duque de Edimburgo ao Canadá e aos Estados Unidos da América. Em 1961 realiza a primeira visita à Índia, em 50 anos, por um monarca inglês. Em 1959 e em 1963, durante as gravidezes do príncipe André e do príncipe Eduardo, falha a sessão de abertura oficial do Parlamento. Institui novas tradições nas visitas oficiais, como os passeios reais pelas localidades, encontros com membros da população.
Até à década de 1970 (inclusive) aceleram os processos de descolonização em África e nas Caraíbas, com mais de 20 países a ganharem a independência do Reino Unido. Isabel vive ainda (na retaguarda) o ‘Parlamento Pendurado’ em 1974, e a crise constitucional australiana de 1975, que levaria ao ganhar de força do movimento republicano na Austrália.
A tragédia de Aberfan: um dos maiores arrependimentos da rainha
Em 1966, a 21 de outubro, na pequena aldeia mineira de Aberfan, no País de Gales, ocorre uma tragédia que viria a mudar para sempre a visão de rigidez e de uma certa ‘frieza’ da Coroa. A gigante pilha de detritos retirados da mina acumula água devido às fortes chuvas e as toneladas de terra, lama e rochas cria uma avalanche, que desce pela colina atinge casas e uma escola. Morrem 116 crianças e 28 adultos no horror.
Isabel sabe da tragédia momentos depois de esta acontecer, mas decide não ir ao local imediatamente. Segundo a biógrafa Sally Bechdel Smith, a decisão não partiu de uma falta de emoção, mas sim de um pragmatismo que sempre marcou Isabel II: "As pessoas vão estar mais preocupadas comigo. Talvez até percam uma pobre criança que pudesse ser encontrada debaixo dos escombros", terá dito a monarca. Vários argumentos foram feitos a favor. Isabel não se demoveu da decisão, algo de que se viria a arrepender uma semana depois (e para o resto da vida, segundo dizem os que com ela conviveram).
Oito dias passam e, já depois do marido o príncipe Filipe visitar o local da tragédia, Isabel decide ir ao local. A população agradece o apoio e atenção da rainha num momento tremendamente difícil, e não a culpa pelo ‘atraso’. Isabel II visita familiares das vítimas, acompanha os esforços de buscas pelos corpos, suja os sapatos na lama. E chora. Foi uma das poucas vezes que a rainha chorou, mostrou-se emocionada, frágil e humana. E os súbditos viram.
Nas cerimónias fúnebres das vítimas, a rainha revela-se abalada. Coloca uma coroa de flores no memorial erguido. E chora. Tenta controlar a emoção. Mas era tudo demais.
"Uma das coisas que me lembro do desastre é o momento em que a rainha chega e como tudo aquilo a fez chorar. Fazer o que ela fez, mostrar simpatia e compaixão da forma que ela mostrou, por pessoas que tinha acabado de conhecer. Acredito que tenha sido difícil [para ela]. Ela estava emocionada por tudo o que viu. Tentou muito travar as lágrimas, mas aquilo fê-la chorar", recorda Mansel Aylward, médico que foi a Aberfan para ajudar da identificação dos corpos das crianças que morreram na tragédia.
Isabel II voltaria a visitar Aberfan mais quatro vezes durante o reinado.
O primeiro Jubileu: traições, atentados, morte e… Diana
Isabel II celebra o Jubileu de Prata, que assinala os 25 anos desde que subiu ao trono, em 1977. O clima de festa cimenta a popularidade da rainha, que viria a sofrer alguns ‘abalos’ nesta e na década seguinte.
Primeiro a separação entre a irmã de Isabel II, a princesa Margarida, e o marido, Lord Snowden. Depois, em 1979, é descoberto que o responsável fotográfico de Buckingham era um espião da União Soviética e, finalmente, o seu familiar, tio e referência principal do príncipe Filipe, é morto num atentado à bomba levado a cabo pelo IRA (Exército Republicano Irlandês, grupo terrorista extremista que reclamava a independência da Irlanda).
Mais: vive extrema tensão com o primeiro-ministro canadiano Pierre Trudeau, devido ao seu alegado republicanismo e vontade de revisão constitucional para ‘separar’ o país da influência da coroa. Episódios como o descer pelos corrimões do palácio de Buckingham ou fazer piruetas nas costas de Sua Majestade não contribuirão para a relação dos dois. Nas suas memórias, Trudeau viria a confessar admiração pela "graça que [a rainha] demonstrava em público" e, ao mesmo tempo "pela sabedoria que mostrava em privado".
Nesta altura, já o príncipe Carlos namorava com Diana (após suposta censura, por parte da família real, da relação que manteria em segredo com Camila Parker-Bowles, então casada) e já a havia pedido em casamento.
Seis semanas antes das cerimónias, em 1981, durante a tradicional parada militar do Trooping the Colour, são disparados seis tiros quando a rainha Isabel II descia a avenida The Mall a cavalo. A polícia viria a descobrir o responsável: Marcus Sarjeant, de 17 anos, que disparou cartuchos vazios (viria a ser condenado a cinco anos de prisão). A imprensa elogia o controlo "incrível" e a "compostura" mantida por Isabel II em cima do cavalo durante o ataque.
Novo ataque meses depois, em outubro do mesmo ano, durante a visita de Isabel II à Nova Zelândia. Um jovem de 17 anos disparou na direção do cortejo com uma espingarda, quando estava no quinto andar de um prédio próximo do local, mas falhou o alvo.
Menos de um ano depois, a 9 de julho de 1982, acorda ao raiar da manhã com um intruso, Michael Fagan, no seu quarto. O homem conseguiu invadir o Palácio de Buckingham numa das maiores falhas de segurança de sempre da residência oficial da coroa. A polícia só viria ao local após a rainha fazer duas chamadas de emergência para o posto do palácio.
É também nesta década que aumenta cada vez mais de tom o frenesim mediático à volta da família real. As polémicas com Carlos e Diana que viriam a encher tabloides britânicos são precedidas de muitas histórias, grande parte delas sem fundo de verdade, de momentos de tensão e autênticos ‘braços-de-ferro’ entre Isabel II e a primeira-ministra Margaret Tatcher, sobre temas como políticas económicas, formas de lidar com tumultos, a violenta greve de mineiros ou as sanções a aplicar à África do Sul pelo regime do apartheid.
Rainha e primeira-ministra manteriam uma relação de mutuo respeito e admiração e Isabel II acabaria por agraciar Tatcher com duas medalhas de mérito.
Depois de uma década má… O annus horribilis
A década anterior não deu tréguas a Isabel II, mas o ‘pior’ estava mesmo para vir. O ano de 1991 trouxe uma ‘vitória’ na Guerra do Golfo, permitindo-lhe ser a primeira monarca inglesa a discursar num encontro no Congresso dos EUA. Foi sol de pouca dura.
O ano de 1992 viria a ser descrito pela própria, no discurso do seu Jubileu de Rubi (50 anos no trono), como o seu "annus horribilis" (o ano mais horrível). Foram vários os fatores que para isso contribuíram: familiares, políticos e de opinião pública.
Se por um lado o republicanismo começava a ganhar força em Terras de Sua Majestade, inflamado por estimativas que a imprensa fazia sobre a riqueza privada da rainha, por outro os casamentos dos filhos colapsavam um a seguir ao outro. Em março o seu segundo filho, o príncipe André, divorciou-se de Sarah Ferguson, em abril foi a fez da princesa Anne se divorciar de Mark Phillips. Ao mesmo tempo, coberto por uma (finíssima) camada de privacidade, o casamento de Carlos e Diana estava de crise em popa.
Na visita de estado à Alemanha, em outubro, manifestantes atiram-lhe ovos e em novembro há um incêndio no castelo de Windsor, uma das suas residências oficiais. A monarquia está debaixo de escrutínio público mais do que alguma vez esteve e chovem críticas e ataques à realeza, numa altura de profunda recessão económica no Reino Unido.
No discurso do Jubileu de Rubi, a rainha mostra um lado mais humano e pessoal, admitindo que a Coroa deve se criticada como qualquer instituição, mas pede que o façam com "humor, gentileza e compreensão". Nos dias seguintes o primeiro-ministro John Major apresenta mudanças nas finanças da realeza, que estavam previstas há cerca de um ano. É logo no ano seguinte, em 1993, que Isabel II decide começar a pagar impostos sobre os rendimentos e institui uma redução no staff real.
Ainda antes de 1992 acabar, mesmo no mês de dezembro, o príncipe Carlos e Diana de Gales anunciam a separação formal e o episódio origina novo frenesim mediático. A rainha acaba também por processar o jornal The Sun, que furou o embargo e publicou a mensagem anual de Natal de Isabel II dois dias antes da transmissão.
A morte de Diana e o silêncio de Isabel II, em nome dos netos
Continuam as revelações sobre o casamento falhado de Carlos e Diana na imprensa, e a sombra do republicanismo continua a ameaçar a Coroa, apesar de Isabel II manter a aprovação quase geral da população. As críticas são apontadas diretamente à instituição da monarquia e não à rainha em si e às suas ações.
Aconselhada pelo primeiro-ministro, pelo arcebispo da Cantuária, Geroge Carey, e pelo seu secretário, Robert Fellowes, recomenda numa carta o divórcio de Diana ao filho Carlos. O processo viria a ser finalizado em 1996.
Um ano depois, Diana vivia um romance com Dodi Fayed, herdeiro da fortuna do bilionário Mohamed Fayed, quando, a 31 de agosto de 1997, sofreram um acidente de viação no túnel da Ponte de l’Alma, em Paris. Lady Di, o então namorado e o condutor morreram na tragédia. Investigações viriam a apontar responsabilidade ao condutor, que estaria sobre influência de álcool, assim como dos paparazzi que perseguiam a alta velocidade o Mercedes onde seguiam Diana (então com 36 anos) e Dodi Fayed.
A rainha estava com a família no castelo de Balmoral, na Escócia, de férias. Receberam a notícia de madrugada e Isabel II terá ficado "em choque". O príncipe Carlos contou aos filhos, William e Harry, e estes quiseram ir à missa. Toda a família usou preto nesse domingo para assistir a cerimónias religiosas.
Um comunicado refere que ex-marido e filhos de Diana "recolhem força" e são "profundamente tocados e estão agradecidos" pelo apoio dos milhões de ingleses (e não só) que choravam a morte da ‘princesa do povo’ em todo o mundo.
Seguiram-se cinco dias de silêncio, e uma bátega de críticas que acusavam a família real de reagir com indiferença à morte de Diana. O assessor de imprensa da rainha viria a explicar: "O príncipe William e o príncipe Harry querem estar com o pai e com os avós no refúgio de Balmoral. A avó, a Rainha, está a ajudar os príncipes a lidar com tamanha perda, enquanto se preparam para o desafio de chorar a sua mãe com a nação, no próximo sábado". Os filhos de Diana tinham, então 15 e 12 anos, respetivamente.
Nova onde de críticas surge por Isabel II manter o protocolo rígido e recusar colocar o estandarte real do Reino Unido a meia haste no palácio de Buckingham. As regras ditavam que a bandeira só é hasteada quando a rainha está no palácio e, naquele momento, a monarca estava na Escócia. Também não se usa o estandarte real a meia haste porque é a bandeira da soberania e, no caso de morte de um rei ou rainha, o sucessor ascende imediatamente ao trono (por isso esta bandeira nunca está arreada). Como compromisso de Isabel II, a bandeira do Reino Unido foi colocada a meia-haste, quando a rainha saiu para o funeral da princesa Diana.
No dia antes das cerimónias fúnebres, que foram vistas por mais de 2,5 mil milhões de pessoas em direto, Isabel II faz um discurso em que recorda Diana com admiração e fala pessoalmente da dor da família e dos sentimentos que ela tem quanto avó perante os dois netos, filhos da princesa. O discurso e ações do dia do funeral de Lady Di, acalmaram os ânimos dos súbditos contra a rainha.
Em linha com o que havia vindo a fazer, dedicou-se desde então à modernização da monarquia, tentando atenuar a imagem de rigidez e absoluto tradicionalismo associado (com graus de sucesso variáveis…). Em outubro de 1997, na Índia, durante uma visita ao memorial do massacre de Jallianwala Bagh (onde morreram mais de 300 indianos desarmados, baleados pelo exército indo-inglês, em 1919), é vaiada e chamada de "assassina". No local, colocou uma coroa de flores e fez um momento de silêncio. A fúria dos protestos foi prontamente domada.
Em novembro assinala os 50 anos de casamento com o príncipe Filipe. É no banquete de celebração que faz um discurso, que ficará para sempre na história, em que pela primeira vez manifesta em público o seu amor por Filipe em palavras emocionadas. Refere-se ao príncipe consorte como "a minha força, a minha calma".
Jubileus de diamante, safira [e platina]: uma rainha ‘imparável’ que continuou a correr mundo
Em 2002, ano em que celebra o seu Jubileu de Ouro (50 anos de reinado), sofre dois duros golpes. Morre a irmã de quem era tão próxima, a princesa Margarida, em fevereiro, e , em março, morre a rainha-mãe. Reveste-se de força e, quando todos apontavam que as celebrações do Jubileu arriscavam ser um fracasso, Isabel II provou o contrário.
É operada a problemas de joelhos em 2003, mas nem isso a travou de continuar a fazer visitas oficiais a todo o globo. Visita a Jamaica, em 2010 discursa na Assembleia Geral da ONU (onde Ban Ki-moon se refere a ela como "uma âncora para o nosso tempo"), percorre Nova Iorque (para inaugurar um memorial às vítimas inglesas do atentado de 11 de setembro de 2001), Canadá e a Austrália. Em maio de 2011 faz história ao ser a primeira monarca inglesa a visitar a República da irlanda a convide da presidente, Mary McAleese.
No ano seguinte, nos Jogos Olímpicos de 2012, não só inaugura a cerimónia oficial como ainda aparece num vídeo promocional com o então James Bond (Daniel Craig), em que faz de si mesma. À ‘estreia’ no cinema segue-se um prémio BAFTA honorário, pelo apoio à indústria inglesa do cinema e televisão, na entrega do qual é apelidada da "Bond girl mais memorável de sempre".
No mesmo ano assinala o Jubileu de Diamante (pelos 60 anos no trono). Em 2007 já tinha ultrapassado a rainha Victoria como a monarca inglesa que mais tempo esteve no trono e, em setembro de 2015, torna-se a rainha regente e Chefe de Estado há mais tempo em funções em todo o mundo.
Até ao Jubileu de Safira (2017, 65 anos de reinado) sofreu com alguns problemas de saúde, como uma gastroenterite ou cataratas.
A 9 de abril de 2021 sofre um duro golpe e os súbditos voltam a vê-a com os olhos mareados de lágrimas: morre o príncipe Filipe, ao fim de 73 anos de um casamento sólido. As cerimónias têm uma série de condicionantes, devido à pandemia da Covid-19 e, no funeral, a imagem de Isabel II, sozinha, sentada a chorar a morte do seu maior amor (depois da Coroa), é a que ficará para a História. Em privado comentou que a partida do marido lhe deixou "um vazio enorme".
Em 2022 celebra o Jubileu de Platina e, a 27 de maio ultrapassaria Luís XIV como o monarca que mais tempo reinou um país em toda a história mundial.
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