Descoberta de 800 corpos de crianças revela "capítulo obscuro e vergonhoso" da Irlanda
Cerca de 9 mil bebés e crianças morreram em instituições católicas para mães solteiras.
Foram descobertos 800 corpos de crianças dentro de uma vala comum, num convento de Tuam, na Irlanda, revelando um "capítulo obscuro e vergonhoso" daquele país, avançou o primeiro-ministro daquele país, Micheál Martin.
De acordo com a CNN, que cita o relatório oficial publicado esta quarta-feira, avança que pelo menos nove mil bebés e crianças terão morrido em instituições católicas para mães solteiras na Irlanda, entre 1922 e 1998, revelando um período de abusso e negligência registados naquele tipo de residência.
As mulheres chegavam a estas instituições grávidas em estado muito adiantado. Muitos dos bebés e crianças ficavam posteriosmente aos cuidados daquelas unidades religiosas onde eram vítimas de fome, maus tratos e trabalhos forçados.
Perante o relatório, divulgado esta semana, o Governo irlandês fez saber que vai apresentar desculpas formais pelos abusos e pelas milhares de mortes.
Numa declaração feita na terça-feira, o primeiro-ministro Micheál Martin disse que o relatório descreve "um capítulo obscuro, difícil e vergonho da história irlandesa muito recente", a qual teve "consequências reais e duradoras para muitas pessoas".
JULIEN BEHAL / HANDOUT
O chefe da Igreja Católica da Irlanda já pediu desculpa.
Numa declaração feita esta terça-feira, o arcebispo elogiou o inquérito que revelou "um capítulo escuro da vida da igreja e da sociedade" e argumentou que a igreja fazia parte de uma cultura em que as pessoas eram estigmatizadas, julgadas e rejeitadas.
18 RESIDÊNCIAS FORAM INVESTIGADAS
Durante cinco anos, uma comissão investigou o funcionamento de 18 residências espalhadas pela Irlanda, entre 1992 e 1998, por onde terão passado cerca de 56 mil mulheres solteiras e 57 mil crianças.
"As mulheres eram admitidas (...) porque não conseguiram garantir o apoio da sua família e do pai do filho. Elas eram forçadas a sair de casa e procurar um lugar onde pudessem ficar sem ter que pagar. Muitos eram indigentes. Mulheres entravam nas residências porque que receavam que as famílias ou vizinhos soubessem da gravidez", lê-se no documento, citado pela Lusa.
A maioria dos casos foram registados nas décadas de 60 e 70 e, de acordo com o relatório, as mães solteiras irlandesas que foram admitidas neste tipo de instituições no século XX foi "provavelmente a mais alta do mundo".
Muitas as mulheres eram jovens cujas gravidezes for a do casamento eram consideradas "ilegítimas" por uma sociedade conservadora devota à Igreja Católica, sendo encaminhadas pelas próprias famílias em segredo para as residências, que se encarregavam de dar os bebés para adoção.
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