As cartas de um amor separado pela Segunda Guerra Mundial

A história de um jovem casal afastado pelo conflito mas que nem por isso deixou de estar "perto".

09 de junho de 2019 às 11:20
Olga e Cyril Mowforth, o casal separado pela Guerra
Olga e Cyril Mowforth, o casal separado pela Guerra Foto: Twitter
Olga e Cyril Mowforth, o casal separado pela Guerra Foto: Twitter
Olga e Cyril Mowforth, o casal separado pela Guerra Foto: Twitter

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Mais de mil cartas de amor trocadas entre um jovem casal britânico durante a Segunda Guerra Mundial foram divulgadas depois de terem sido encontradas num sótão de casa da família. A correspondência conta a história de um romance entre Cyril e Olga Mowforth, casados apenas três meses antes de o homem ter partido para a guerra em 1940.

Durante os seis anos como comandante de tanques, lutou no Norte de África rumando depois à Europa. A unidade de Cyril foi a primeira a ser confrontada com os horrores de Belsen, um campo de concentração da Alemanha nazi no atual estado alemão da Baixa Saxónia.

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A milhares de quilómetros estava Olga, confrontada diariamente com a ameaça dos bombardeiros alemães enquanto conduzia uma ambulância da proteção civil.

Os primeiros anos de casamento foram marcados pela distância e a dificuldade em amar. Mas nem a guerra e o horror que enfrentavam diariamente derrubou uma paixão que se manteve acesa através das mais de mil cartas manuscritas e os cartões postais que trocaram um com o outro durante o conflito.

Findada a guerra, todas as correspondências foram cuidadosamente guardadas pelo casal no sótão de casa. Só após a morte do pai, Cyril, na altura com 91 anos, é que a filha do casal Mowforth descobriu o tesouro da família.

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Guardadas desde 1945, as cartas agora divulgadas são um testemunho comovente e marcante de um amor profundo separado por um dos momentos mais negros da história.

Sue Mowforth e os irmãos puderam pela primeira vez conheçer a história de amor dos pais em cartas que continham, para além das infindáveis mensagens de amor, observações sobre a guerra e as tropas inimigas e opiniões sobre música ou livros.

Sue demorou cerca de dois anos a ganhar coragem para ler todos os documentos guardados pelos pais.

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"Elas mostram o quanto os nossos pais se amavam", refere Sue ao jornal britânico Mirror, lembrando que raramente falavam sobre esses tempos, mesmo depois de voltarem a estar juntos.

Onde tudo começou

As trocas de correspondência começaram quando Cyril foi enviado para o Norte de África. Era comandante do 42.º Regimento de Tanques. Lutou contra as forças alemãs e italianas. Participou na batalha de El Alamein, onde a vitória britânica marcou o início da derrota das forças do Eixo no Norte de África, foi um dos momentos decisivos da Segunda Guerra Mundial.

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Já nessa altura Cyril comentava com Olga que a guerra poderia durar entre dois meses e 10 anos. "É melhor começarmos a olhar para o nosso passado, feliz", escrevia.

A comovente resposta chegava algum tempo depois, Olga não baixava os braços e prometia lutar pelo amor. "Você está errado, querido. Olhe para a frente. Essas memórias antigas são preciosas mas só até que façamos novas".

Muitas cartas perderam-se, outras atrasaram-se. Os tempos raramente foram fáceis para o jovem casal que, na verdade, não sabia até quando iriam receber resposta um do outro.

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Em dezembro de 1940, Cyril participou na longa batalha de Bardia, na Líbia. Foram vários meses sem trocar mensagens com a mulher. Só em março é que Olga voltou a receber uma carta de Cyril: "Quando a batalha começou, não tive tempo para pensar em mais nada. Foi carregar, recarregar e recarregar novamente".

Cyril relatava que os soldados alemães não eram de todo uns "nazis fanáticos", muitos apenas tinham sido recrutados para combater.

Após vários anos, o casal voltou a estar junto, mas apenas temporariamente. Reuniram-se em maio de 1944, poucas semanas antes do Dia D.

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Cyril viria a ser novamente enviado para a frente de batalha onde se juntou à força aliada em França. "Quatro anos disto e estou mais apaixonado do que nunca", declarava Cyril.

O regresso a casa

Depois da libertação do campo de concentração de Belsen, Cyril acabou por voltar a casa. A guerra tinha terminado e, em março de 1946, o casal voltava finalmente a poder viver aquilo que tinha ficado em suspenso durante aqueles negros anos.

Assim foram felizes até 1972, ano em que Olga morreu, vítima de cancro.

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Entretanto, Cyril tinha-se tornado professor numa escola. A mulher era até então a presidente de um Instituto da Mulher na zona onde viviam.

O homem acabou por morrer aos 91 anos, em 2004, deixando Sue e os irmãos John e Peter com um tesouro entre mãos que só mais tarde viriam a encontrar no sótão de casa.

Manuscritos que agora ficam eternizados e contam a história de um jovem casal separado pela Segunda Guerra.

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