Austrália vai restringir acesso de menores de 16 anos às redes sociais: o que pensam os jovens desta medida?
Nativos digitais de várias partes do mundo comentam projeto-lei aprovado pelo Governo australiano.
É possivelmente a medida mais rigorosa que já foi implementada em relação à utilização das redes sociais por crianças e jovens e está a suscitar polémica em todo o mundo. A Austrália está no centro de uma discussão por ter aprovado, esta quinta-feira, a proibição de redes sociais para jovens menores de 16 anos. Os gigantes da tecnologia, como o Instagram e o Facebook, podem ser penalizados com multas até os 49,5 milhões de dólares australianos (32 milhões de euros) caso não cumpram com as novas regras. Em janeiro, começarão a ser testados métodos para aplicação desta proibição, que deverá entrar vigor dentro de um ano.
Jovens nativos digitais de diferentes partes do mundo já se pronunciaram sobre o assunto. Há quem concorde mas, a maioria, tem uma visão negativa sobre esta nova medida.
Não gostaria que isto acontecesse no meu país. É uma loucura. Somos a geração tecnológica por alguma razão
Javier Martínez
12 anos
"Sou fortemente contra, porque sinto que somos uma nova geração que está habituada a ter as redes sociais na nossa vida. É algo que usamos diariamente e sinto que restringir a nossa utilização não nos vai ajudar. Não gostaria que isto acontecesse no meu país. É uma loucura. Somos a geração tecnológica por alguma razão", apontou Javier Martínez, um jovem espanhol de 12 anos, entrevistado pela agência Reuters.
Moussa, um adolescente de 14 anos, entrevistado em Bruxelas, na Bélgica, encara as redes sociais como uma companhia para os jovens. Diz que ficaria triste se visse a medida ser implementada no seu país.
Os adolescentes precisam das redes sociais
Moussa
14 anos
“Não acho que seja uma boa ideia porque os adolescentes precisam das redes sociais. Ficaria triste. As redes sociais fazem parte do nosso tempo. Faz-se tudo lá e, de certo modo, representam parte de nós”, referiu Moussa.
A restrição das redes sociais aos menores de 16 anos tem por objetivo proteger os jovens da exposição aos crimes cibernéticos, como o ciberbullying. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, considera que a lei coloca a Austrália na vanguarda dos esforços para proteger a saúde mental e o bem-estar das crianças dos efeitos nocivos das redes sociais, indica o jornal The New York Times.
“As redes sociais não são boas para nós, mas é difícil deixá-las, porque, mais uma vez, estão profundamente enraizadas na nossa sociedade e na forma como interagimos com as outras pessoas", defendeu Enie Lame, uma rapariga australiana de 16 anos.
Apesar de os problemas nas redes sociais serem tópicos estudados há vários anos, as vantagens que estas oferecem têm sido elencadas e enaltecidas por quem está contra a medida do governo australiano. A possibilidade de "quebrar barreiras geográficas", de "dar um mundo" aos mais reservados e de estar sempre conectado são alguns dos aspetos que alguns internautas destacam como positivos no universo das redes sociais.
As redes sociais não são boas para nós, mas é difícil deixá-las
Enie Lame
16 anos
Lili, uma jovem de 10 anos que estuda história e ciência política em Paris, França, considera ser importante proteger as crianças, mas teme que a proibição tenha um efeito oposto.
“Em si, compreendo que é necessário proteger as crianças, porque sabemos que há muitos problemas nas redes sociais, especialmente os violentos, mas não acho que proibir para menores de 16 anos seja a melhor solução, porque muitas vezes a proibição causa o efeito oposto", explicou à Reuters.
Para a universitária, será fácil violar as regras. "A proibição será violada muito facilmente. Sabemos que com os sites proibidos para menores de 18 anos, as crianças têm facilmente acesso a eles Por isso, penso que temos de recorrer à prevenção e à educação, moderar as redes sociais e criar ambientes mais adequados para o desenvolvimento dos jovens”, concluiu.
A proibição será violada muito facilmente
Lili Rose Le Pottier
20 anos
Já a dependência dos jovens do digital é um dos problemas mais evidenciados por quem apoia esta proibição. Embora esta não seja uma opinião muito popular entre os mais novos, há quem considere o projeto-lei da Austrália positivo.
Para Karuna, uma jovem licenciada de 24 anos, da cidade de Londres, o ideal é manter as crianças e os jovens afastados das redes sociais pelo máximo tempo possível.
"Sei que é um pouco controverso, mas acho que foi muito bom terem feito isso e acho que será bom manter as crianças afastadas das redes sociais o máximo de tempo possível”, argumentou.
Será bom manter as crianças afastadas das redes sociais o máximo de tempo possível
Karuna Rahman
24 anos
"É óbvio que se o cérebro for estimulado desta forma com as redes sociais, isso é grave, especialmente numa idade muito jovem. Neste momento, se não estou em erro, em Itália o limite é de 13 anos e isso é um pouco baixo, devia ser aumentado. Sou absolutamente a favor desta escolha. Mas esta escolha, por outro lado, é também uma escolha dos pais”, disse Michel Angelo Lupo, italiano de 19 anos.
Projeto pioneiro
O projeto de lei pioneiro sobre a idade mínima de acesso às redes sociais torna a Austrália um caso de teste para um número crescente de governos que pretendem aplicar maiores restrições em relação ao uso de redes sociais. Países como a França e alguns estados dos EUA aprovaram leis que restringem o acesso de menores sem a autorização dos pais, mas a proibição australiana é absoluta. No estado norte-americano da Florida, uma medida idêntica, que proíbe o uso de redes sociais a menores de 14 anos, está a ser contestada na justiça. Motivo: restrição à liberdade de expressão.
Para a agência Reuters, a proibição na Austrália poderá, no entanto, afetar as relações do país com os Estados Unidos, um aliado fundamental.
Elon Musk, dono do X e uma figura central na administração do presidente eleito Donald Trump, afirmou num post deste mês que a proibição parecia ser uma “forma de controlar o acesso à Internet por todos os australianos”.
Uma das maiores críticas feitas ao governo australiano é o facto de não terem sido disponibilizados pormenores de como vai decorrer o processo. Os jovens e os pais estão curiosos em perceber como será feito o controlo do acesso e se o processo será gradual.
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