Bloco de Carnaval fundado por um português continua a animar as ruas brasileiras após 158 anos

Um bloco carnavalesco fundado no ano de 1867 por um português radicado na cidade brasileira de Ouro Preto ainda existe, e continua a desfilar pelas íngremes ladeiras daquela cidade histórica da região central do estado de Minas Gerais. O Bloco Carnavalesco “Zé Pereira dos Lacaios”, pese embora não haver uma entidade que reúna os dados de todo o vasto território brasileiro e possa atestar isso, é provavelmente o bloco de Carnaval mais antigo do Brasil ainda em atividade.

Foi o português José Nogueira de Azevedo Paredes que deu início a essa caminhada que este Carnaval completa impressionantes 158 anos, ao começar a sair com um barulhento grupo de amigos pelas ruas de Ouro Preto nos sábados de Carnaval. No meio de uma enorme e irreverente algazarra, o grupo percorria várias ruas da cidade animado pelo som de zabumbas e tambores e impulsionado por generosas doses de vinho e de cachaça, a aguardente brasileira.

A pedido de José Nogueira, o chamado Clube dos Lacaios, que ele mesmo inspirou e era formado por funcionários do governo da então província de Minas Gerais, criou os enormes bonecos que até hoje vão à frente do desfile, à imagem dos grandes bonecos Zé Pereira que já nessa época eram famosos. São três, o Catitão, representando um português com o seu robusto bigode, a mulher dele, chamada de Baiana e que ostenta na cabeça um vistoso turbante e segura uma cesta com frutas tropicais, e o Benedito, o lacaio, como então se denominavam os empregados das famílias abastadas.

Mantendo a tradição de mais de um século e meio, os três bonecos ainda hoje abrem o cortejo de foliões, que já ganhou as ruas de Ouro Preto no sábado e volta a desfilar na próxima terça-feira, dia de Carnaval. Num resgate da história do grupo, hoje presidido por Arthur Ramos Carneiro, anos atrás foram reintroduzidos no bloco, que complementam o som dos tambores e outros instrumentos de percussão.

Os bonecos são uma atração à parte no alegre bloco, vestidos a carácter, com os fraques e a cartola que os antigos serviçais e funcionários do palácio do governo usavam. As lanternas, tão tradicionais em festejos diversos pelo interior do Brasil, também foram reintroduzidas no bloco, resgatando a tradição e dando ainda mais colorido ao desfile.