Bloqueio no Canal do Suez deverá durar semanas. Saiba como é que o incidente arrisca agravar a crise económica global
Aumento dos combustíveis, possível falta de papel higiénico e aumento dos preços de produtos exportados. O efeito dominó do incidente no Suez.
Pode ser um dos maiores bloqueios dos últimos anos e desencadear constrangimentos em todo o mundo. O navio Ever Given, da empresa Ever Green, está desde terça-feira encalhado, devido a uma falha técnica, no Canal do Suez e as autoridades estimam que a retirada do gigante navio de 400 metros e 220 mil toneladas possa mesmo vir a durar semanas.
Mas o que é que um bloqueio desta dimensão pode afinal provocar e por que é que está a soar tantos alarmes? A resposta está no seu valor económico.
Canal do Suez: Uma travessia indispensável para o comércio mundial
O Canal do Suez é uma das principais travessias marítimas do mundo e por lá passa mais de 12% de todo o comércio mundial, segundo, segundo dados da Autoridade do Canal de Suez. É uma via marítima histórica essencial para o transporte de petróleo vindo do Médio Oriente e, por isso, já levou a uma escalada de preços do petróleo, uma escalada que pode não ficar por aqui.
Esta travessia e 193 quilómetros, inaugurada em 1869, localizada no Egito liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho e por isso é ponte de ligação entre vários continentes.
É um canal indispensável para o tráfego marítimo porque permite que os navios de carga circularem entre Ásia, Oriente Médio e Europa sem terem de contornar o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África. Só com isso encurtam o tempo de todas as viagens e poupam quase 9 mil quilómetros em cada sentido. Uma redução da distância na ordem dos 43%.
Milhões de euros em mercadoria de todo o tipo
O bloqueio deste canal pode provocar um agravamento da crise económica global porque vai impedir a passagem a navios de carga que transportam mercadorias essenciais para todo o mundo.
Estima-se que, por ano, passem neste canal 19 mil navios com milhões de toneladas de mercadoria que vai desde o petróleo, à alimentação, cimento, grãos ou cereais. A lista de produtos que por aqui passa é extensa. Esta quarta-feira já aguardavam passagem 40 navios de carga com alimentos básicos, desde grãos e cereais até aos chamados produtos "secos" como cimento, e 24 navios-tanque, de acordo com dados da consultoria Lloyd's List Intelligence. O congestionamento é já, inclusive, visto do espaço, em imagens inéditas.
O abastecimento de matérias-primas e mercadorias fica assim comprometido. Mesmo que os navios optem por um desvio, isso aumentará em pelo menos uma semana a duração da viagem.
Estamos a falar por isso de 7,6 mil milhões de euros em mercadorias que deveriam passar naquele estreito diariamente, de acordo com a Lloyd's List.
Cadeias de abastecimento comprometidas
Lars Jensen, analista da consultoria Sea Intelligence, avançou à BBC que o atraso na entrega das mercadorias provocará congestionamento dos principais portos na Europa.
O que é que isto implica? Que mal se consiga o desbloqueio criar-se-á outro problema com os portos europeus congestionados levando a que o fornecimento de mercadoria "de quase tudo o que se vê nas lojas" ficará afetado.
O preço do petróleo e as consequências nos combustíveis
A possível escalada nos preços do petróleo desencadeará consequentemente um aumento dos preços dos combustíveis, mas não só. A falta de oferta dos produtos que estiverem retidos também poderá levar os comerciantes a aumentarem os preços.
De acordo com os dados da EIA (inventários de petróleo nos Estados Unidos), os fluxos totais de petróleo através do Canal de Suez e do oleoduto SUMED (construído no próprio Golfo de Suez) representaram cerca de 9% do petróleo mundial total comercializado por via marítima mar e 8% do gás natural liquefeito.
Para já, os preços mundiais do petróleo já subiram mais de 6% na quarta-feira após a suspensão do tráfego no canal.
E outros produtos, como por exemplo, o tão falado papel higiénico?
Se o canal não for desobstruído nos próximos dias, os navios com alimetação, papel higiénico e outros produtos serão forçados a encontrar uma alternativa. Isso implica mais tempo de viagem, mais combustível gasto e por isso mais custos que acabarão por ser pagos pelos consumidores.
O fornecimento de matéria-prima para a produção do papel higiénico está em risco. O Brasil é um dos maiores exportadores da celulose de fibra curta (utilizada na produção) no mundo, responsável por um terço das entregas. A Suzano é a empresa dedicada no fornecimento do recurso natural, sediada em São Paulo.
O CEO da empresa, Walter Schalka, revelou, numa entrevista, que "todos os players sul-americanos que exportam via break bulk enfrentam esse risco", temendo um efeito "bola de neve" abrangente a várias empresas dedicada à exportação.
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