Bolsonaro surpreende Davos ao cancelar discurso e romper relações com a imprensa

O novo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, surpreendeu esta quarta-feira até a organização do Forum Económico Mundial, em Davos, ao cancelar um discurso previsto para o início da tarde e todos os contactos com a imprensa.

A organização do Forum ficou sem entender e sem saber o que fazer, pois não é normal um governante de um país cancelar discursos e contactos com os media no Forum de Davos, que é considerado uma grande oportunidade para líderes de todo o mundo exporem as suas ideias e ganharem visibilidade mundial.

O anúncio do cancelamento do discurso do presidente do Brasil e da conferência de imprensa que se seguiria foi feito pela constrangida organização do Forum 17 minutos após o horário previsto para o início do evento.

Jornalistas do mundo inteiro ficaram perplexos e tentaram, em vão, conseguir uma declaração de outros membros da delegação brasileira, nomeadamente os ministros da Economia, Paulo Guedes, da Justiça, Sérgio Moro, e dos Negócios Estrangeiros, que falariam após Bolsonaro mas também não apareceram.

Um assessor de imprensa da comitiva brasileira afirmou aos jornalistas que tentavam entender o que se estava a passar que a culpa do cancelamento era da própria imprensa, que, segundo o assessor, testava a ter em Davos o que classificou como um "comportamento anti-profissional" em relação a Bolsonaro.

Mais tarde, outro assessor presidencial, percebendo que a declaração do colega tinha aumentado ainda mais o mal estar em relação ao presidente brasileiro, afirmou que, na verdade, Bolsonaro tinha cancelado os compromissos com a imprensa para se poupar fisicamente, pois ainda não está totalmente recuperado do ataque à faca que sofreu em 6 de Setembro passado durante um acto de campanha na cidade de Juíz de Fora.

A ruptura de Jair Bolsonaro com os media ocorre um dia após o polémico primeiro discurso do presidente brasileiro em Davos. A imprensa mundial classificou o diminuto discurso, para o qual estavam reservados 45 minutos mas durou apenas seis minutos e meio, como excessivamente genérico, vazio, sem conteúdo nem propostas concretas.

A irritação de Jair Bolsonaro com a imprensa brasileira e internacional presente em Davos também deve estar relacionada com as sucessivas perguntas dos jornalistas do Brasil e de todo o mundo quanto a um dos filhos do presidente, Flávio Bolsonaro.

Flávio, que dia 1 de Fevereiro assume como senador, é a figura central de uma vaga de denúncias diárias na imprensa brasileira, por suspeitas de movimentações financeiras ilegais e de estar ligado a milícias armadas e a outros grupos criminosos que actuam no Rio de Janeiro.